Passos Coelho tenta passar a ideia de que a austeridade é uma solução única e uma opção de política económica. Por austeridade deve entender-se todas as opções que adoptou a coberto da troika e que foi muito mais do que reequilibrar as contas públicas. Também não se pode reduzir a política brutal de Passos a uma política de empobrecimento, ainda que do ponto de vista global a recessão se tenha traduzido no empobrecimento do país.
A direita mais conservadora, por oposição aos social-democratas e todas as correntes de esquerda ou do centro direita, defende que o crescimento consegue-se com uma competitividade alimentada por salários baixos. É um modelo de política económica que em situações de crise defende reduções salariais para aumentar a competitividade, em situação de crescimento defende a manutenção dos salários para não prejudicar a competitividades.
Essa direita, que até há uns anos andava escondida, que depois se disfarçou de liberal e que com o governo anterior assumiu-se com Passos como líder, apoiado na ajuda teórica de personalidades como António Borges e Vítor Bento, ou mesmo de um tal Daniel Bessa, antigo ministro do PS e que hoje parece ser um devoto do líder do PSD, faz da política económica um instrumento de redistribuição injusta do rendimento. Consideram que mais couber aos ricos mais cresce a economia e, por sua vez, os ricos ficam ainda mais ricos.
Aqueles que entendem que a política económica não deve ser um instrumento de redistribuição dos rendimentos em favor dos mais ricos, consideram que não há crescimento económico sustentado, nem desenvolvimento com com aumento da injustiça social. Uma melhor redistribuição do rendimento é um modelo económico e social mais moderno, capaz de gerar empregos qualificados e promover empresas mais competitivas porque aposta na qualificação dos que trabalham.
Os que acham que os governos estão ao serviço dos muito ricos ficam muito preocupados porque um chinês que tinha a intenção de comprar uma vivenda de luxo mudou de ideias, mas regozijam-se porque milhares de quadros abandonam o país, alguns, como o fez Paulo Rangel, chegam a propor a criação de uma agência nacional para ajudar a esta fuga de quadros.
Para este modelo económico a aposta deve ser na mão-de-obra sem qualificações, pouco importa se o país empobrece em relação aos países mais desenvolvidos, o que importa é que esse modelo é o que melhor se adequa a uma classe de empresários que ainda bebe na escola do colonialismo ou os tempos das ajudas laborais da PIDE imperavam. Foi esta a direita que esteve no poder e a austeridade não significou rigor financeiro, significou sim utilizar a política fiscal para transferir riqueza dos pobres e dos menos ricos para os mais ricos.
Uns avaliam a riqueza do país pelas condições de vida dos mais pobres e pelas desigualdades sociais, a direita liderada por Passos Coelho considera que a riqueza deve ser medida pela felicidade dos mais ricos, porque é dessa felicidade que resultam os ivestimentos que permitem empregar os mais pobres, assegurando que os primeiros continuem a ser ricos e que o que os segundos ganham não possa comprometer essa riqueza.