terça-feira, novembro 08, 2016

A extrema-direita envergonhada

Em Portugal toda a gente pode apelidar o BE ou o PCP de extrema-esquerda como se estivesse dizendo a coisa mais natural do mundo, pior, acham mesmo que os portugueses podem votar nestes partidos mas, de preferência em número reduzido. Mesmo assim, se por quaisquer circunstâncias esses partidos puderem apoiar um governo mesmo que não participem nele, a direita acha legítimo que um presidente coloque condições que não coloca a outros governos, até pedem ajuda internacional para que o país seja boicotado.

Mas quando chega a hora de apelidar a direita de extrema-direita é o "ai Jesus", ficam todos indignados, uns, como o Morgado ou o Leitão, são social-democratas desde e para sempre, o Paulo portas e a Ascenção são democratas-cristãos, não, não são nem nazis, nem fascistas nem nada parecido. Podem achar legítimo um governo perseguir os idosos apelidando-os de peste grisalha, considerar que os funcionários públicos são um mal para a sociedade por serem despesa, podem fazer tudo por uma linha, mas não são da extrema-direita.

Imagine-se que a deputada Mortágua em resposta ao aumento do IVA nos produtos alimentares ou na electricidade, decidido pelo último governo tivesse ameaçado a direita com um imposto especial sobre as associações patronais ou sobre os dividendos, como vingança contra uma decisão parlamentar. Ninguém se preocuparia muito, seria mais uma loucura bloquista, mais um gesto habitual na extrema-esquerda. Mas quando a líder do CDS fez a mesma coisa em relação ao imposto sobre o património ninguém parece ter reparado que estávamos perante uma política da extrema-direita.

Começa a ser tempo de chamar os nomes pelos bois, a política seguida por Passos Coelho nem foi a que estava no memorando, nem aqueilo a que ele designou por ir além da troika resultou de algum impulso social-democrata. Enganar os portugueses com um desvio colossal, impor um corte de vencimentos dizendo que era por um ano e, passados quatro anos,  dizer que era uma reforma para ficar é ser da extrema-direita, os democratas, de direita ou de esquerda, respeitam a democracia e os cidadãos, não usam truques para os enganar.

Esta direita de Passos Coelho e de Assunção Cristas nada tem que ver com a direita de Sá Carneiro, de Magalhães Mota, de Manuela Ferreira Leite, de Pires de Lima, de Mota Pinto. Olhar para a primeira fila do grupo parlamentar dos dias de hoje, com Passos ao centro, o Leitão Amaro de um lado e o Morgado ou o Abreu Amorim do outro, faz sentir saudades de um PPD com Sá Carneiro, Sousa Franco e Magalhães Mota. e se fizermos a mesma comparação no CDS a diferença ainda é mais brutal.

Esta nova direita é uma extrema-direita chique, uma extrema direita que forjou projetos entre shots em discotecas muito in, afirmando-se valores democráticos em público, ao mesmo tempo que se elogiavam as virtudes de Salazar em privado. Hoje não há qualquer diferença entre o CDS e o PSD, ambos fazem parte de uma extrema-direita chique, que se disfarça atrás de valores ideológicos que não são seus.