Perguntaram aos ingleses bem pensantes o que devia fazer o Reino Unido e eles responderam que devia ficar na EU. Perguntaram os políticos sérios o que devia fazer o Reino Unido e eles responderam que devia ficar na EU. Perguntaram à “economia” o que devia fazer o Reino Unido e esta respondeu que devia ficar no Reino Unido. Perguntaram aos cidadãos onde devia ficar o Reino Unido e estes responderam que o queriam fora da EU.
Perguntaram aos políticos sérios do EUA onde se devia votar e estes disseram que o seguro era votar Hillary. Perguntaram aos grandes banqueiros onde se devia votar e estes asseguraram que o melhor seria a estabilidade de Hillary. Perguntaram às grandes multinacionais o que seria melhor para os EUA e estas responderam que seria Hillary. Perguntaram aos americanos quem deveria ser o próximo presidente dos EUA e estes escolheram Trump. Depois do Brexit, veio o Clintonxit.
Se ouvirmos os opinion makers enciclopédicos da nossa modesta praça a culpa é sempre dos mesmos, da horda de ignorantes que são uma praga para a democracia, deles e das redes sociais. Bom era no tempo do restaurador Olex, quando as coisas eram como devia ser, o branco era louro, o preto usava carapinha e os eleitores ignorantes e idiotas ficavam a saber pelos telejornais em quem deviam votar. A classe mais esclarecida informava-se avidamente no Expresso, os pobretanas votavam influenciados pelas televisões que decidiam quem ganharia gerindo o tempo dado a cada um u a forma como exibiam os candidatos.
Eram campanhas certinhas, quem não sabia pensar pensava como aqueles que sabem pensar, o Sousa Tavares, o António Vitorino e muitos outros. Os que sabiam pensar discutiam o futuro como se tudo se resolvesse entre eles. Depois vieram essas malditas redes sociais e fica tudo de pernas para o ar. Em pouco tempo o mundo foi varrido por um Brexit e por um Clintonix, arrisca-se a ter um Merkelix e um Françoisix. Só não aconteceu nada em Portugal porque nem o Arnaldo de Matos, nem o José Manuel Coelho estiveram à altura das circunstâncias.
Não foi só Trump que ganhou, foi também a Hillary que perdeu. Hillary tentou falar para os pobres mas os pobres democratas marginalizados pela globalização desconfiaram de quem recebia 250.000 dólares para dizer meia hora de baboseiras a reuniões de banqueiros. Hillary falou para as mulheres mas estas não se reviram na ambição de uma candidata que se sujeitou ao que muitas americanas não se sujeitariam. Hillary falou para os emigrantes e para os negros mas estes desconfiaram desta paixão recente.
A América não se limitou a escolher Trump, também rejeitou a Hillary, os eleitores de Sanders nõ a aceitaram, os mais prejudicados pela globalização não lhe ouviram medidas, os emigrantes não sentiram segurança. Trump ganhou onde seria normal e onde ninguém acreditava que poderia ganhar, fazendo lembrar as eleições que a AD ganhou com Sá Carneiro, quando Freitas do Amaral, hoje um convertido, se gabou de que a direita tinha ganho nos bairros da lata. Foi aí que Trump também ganhou.