Há poucos dias o Presidente da República, a propósito da questão das declarações de rendimentos dos administradores da CGD, declarou que tinham acabado as fontes de Belém. Durante os dois mandatos presidenciais "as fontes de Belém" era um truque usado pela Presidência para manipular a informação, sem ter de dar a cara. Fernando Lima assumiu no seu livro ser a famosa "fonte de Belém", acusando O Jumento de ser escrito por um adjunto de Sócrates que tinha por função vigiá-lo e persegui-lo. Isto é, foi um blogue que denunciou durante anos esta manipulação velhaca da opinião pública e Marcelo acaba por lhe dar razão, anunciando o fim desta forma manhosa de fazer política.
Este é um bom exemplo de como a comunicação social promove o jogo sujo, cabendo às redes sociais, assumindo riscos pessoais que os jornalistas pessoais não assumem, a denúncia de práticas que desvirtuam as regras da democracia. A verdade é que Fernando Lima e muitos dos jornalistas que publicaram a se mando nunca foram perseguidos pelas polícias, nunca foram vítimas de bufaria jornalística e desvalorizados, nem deles o Fernando Lima sugeriu que recebessem luvas para escrever.
O bom exemplo da relação dos bem pensantes com as redes sociais foi dado, ontem à noite, por José Miguel Júdice na TVI24. Deu um exemplo do Daily Mail, que exibiu a fotografia dos juízes que votaram a favor da aprovação parlamentar do Brexit e depois concluiu, dantes estes juízes seriam executados, hoje são difamados pelas redes sociais. Isto é, deu-lhe jeito confundir o Dayly Mail com as redes sociais. Aposto que se fosse o CM não teria tido tal coragem!
Na opinião de alguns jornalistas e opinion makers bem pensantes o mal das democracias e, acreditem se quiserem, o aparecimento de Trump, deve-se às redes sociais. Não foram as redes sociais que reduziram o papel dos jornais e televisões ditos "de referência", não foram os bloggers que substituíram os jornalistas. Foram jornais como o CM ou o Sol e televisões como a CMTV que reduziram a quase zero a influência de jornais como o Público ou o Expresso. Foram jornalistas como a Felícia Cabrita que fizeram esquecer os ilustres jornalistas da SIC ou da RTP.
Não foram os bloggers que apelidaram Guterres de picareta falante ou que convenceram muito boa gente de que Sócrates era gay e não foi através das redes sociais que a direita lançou a difamnção, foi o bem pensante PSD, dito social-democrata e do centro, que gastou muitos milhares de euros em outdoors para sugerir que o seu adversário nas eleições era gay.
Não foram as redes sociais que ajudaram Trump ou que conduziram ao Brexit, foram declarações a jornais bem pensantes feitas pelo ministro das Finanças alemão ou o comportamento de Durão Barroso. É esta nova geração de dirigentes partidários sem escrúpulos, que têm por objetivo servir os países durante meia dúzia de anos para enriquecerem depois, que usam o Estado para empregar os seus filhos (como sucedeu com a ida do filho de Barroso para o BdP) que lançaram a descrença na democracia.
Um cidadão que é forçado a emigrar e vê os filhos dos poderosos a subir à custa de cunhas, um cidadão a quem se pedem sacrifícios e a quem se diz que o desemprego é uma oportunidade de procurar uma vida melhor e vê os governantes a lambuzarem-se em luxos, um cidadão que ganha o ordenado mínimo e vê a família presidencial a ganhar centenas de milhares com ações do BPN, um cidadão que perde a sua casa porque o fisco a vendeu por causa de uma dívida de meia dúzia de euros e vê o banqueiro comprar um palácio novo através de uma off shore e sem pagar impostos só pode sentir ódio pelos políticos e estes simbolizam a democracia.
Não são as redes sociais que estão destruindo e inventando os Trump, são os políticos, os empresários, os jornalistas os assessores, os opinion makers corruptos.