sábado, novembro 19, 2016

Umas no cravo e outras na ferradura




 Jumento do Dia

   
Marcelo Rebelo de Sousa

Fica bem ter algumas palavras agradáveis para com uma senhora da idade, desde que com essas palavras não se lhe esteja a chamar velha ou a recordar que já não tem o luxuosa iate, que tantas saudades lhe deixou. Também não é boa ideia não levar o texto bem estudado e dizer à senhora que o líder da oposição, quando era mais ou menos um vice nessa época.

Estes erros pagam-se caro e o ridículo não fica muito bem, muito menos a um Presidente por mais popular que ele seja, ou que queira ser nos palácios da rainha de Inglaterra.

«Foi o momento alto da visita do Presidente da República ao Reino Unido esta semana. Marcelo Rebelo de Sousa esteve no Palácio de Buckingham com a rainha Isabel II e contou-lhe — para toda a gente ouvir — algumas memórias sobre as duas visitas da monarca britânica a Portugal. Primeiro, em 1957, quando Marcelo tinha oito anos e a rainha 30, e, depois, em 1985, quando Marcelo foi convidado a jantar no iate Britannia na qualidade de “líder da oposição”, disse o próprio Marcelo a Isabel II. Uma gaffe.

Quando chegou a Lisboa, ao Terreiro do Paço, aquela grande praça, numa carruagem, com o general Craveiro Lopes, eu estava lá, era uma criança. Estava na primeira fila para vê-la“, recordou Marcelo Rebelo de Sousa. Na segunda visita da monarca a Portugal, em 1985, continuou Marcelo, também este na presença de sua majestade: “Fui convidado para jantar no [iate] Britannia porque era líder da oposição na altura”.

Foi um momento caricato de uma descontração pouco habitual nos encontros super formais com a rainha de Inglaterra, mas que contém uma um erro. Porque nem Marcelo Rebelo de Sousa liderava a oposição — embora tivesse liderado a oposição interna no PSD — nem o próprio partido estava na oposição, porque partilhava o poder com o PS no Governo do Bloco Central liderado por Mário Soares.» [Observador]

 Aos maus cagadores até as calças empatam

Tudo ia corres mal, o défice a derrapar, o crescimento a minguar, a despesa a aumentar de forma descontrolada, os turistas a fugir, os investidores a abandonar o imobiliário, os chineses a suspenderem os pedidos de vistos gold, por outras palavras, o país caminhava para as piores visões de  Medina Carreira. A desgraça até chegou a ter data anunciada, o armagedão tuga iria ocorrer em setembro.

Mas, azar dos azares, as coisas estão a correr melhor e aqueles que elogiavam Vítor Gaspar quando este ameaçava tirar o escalpe a quem lhe falasse em crescimento, exigem agora taxas dignas dos tigres asiáticos. Aqueles que sugeriam que fosse criada uma agência nacional para facilitar a emigração de jovens qualificados exigem agora que exportemos alta tecnologia. Se o país exporta é porque o crescimento devia ser estimulado pelo consumo, se os privados investem é porque o investimento devia ser público, se o país exporta cuecas é porque devia exportar camisas, nada está bem.

Durante anos Portas fez surf no turismo de Lisboa, mas agora o turismo é uma desgraça, um conhecido professor do ISEG até se juntou ao iletrado em economia Medina Carreira para explicar que o turismo é um crescimento que traz pouco, que usa mão-de-obra pouco qualificada. Curiosamente foi o mesmo professor que há um mês escrevia que "Durante o PREC um ministro e professor de Economia, ademais com grandes responsabilidades educativas, exortou publicamente a população a desprezar o sector do turismo, equiparando-o à actividade de prostituição." O que esperava o senhor professor, que depois de anos sem investimento, com um governo que desprezou as universidades e a investigação, o país exportasse equipamento espacial, peças de aviões e os melhores carros movidos a energia elétrica?

Os que exigiram a liberalização do mercado laboral para se pagar ainda menos, os que são contra o aumento do salário mínimo, os que assistiram tranquilamente à proletarização dos jovens quadros, que ganham menos do que uma empregada doméstica, exigem agora que Portugal exporte alta tecnologia. Concordavam que Portugal fosse transformado num exportador de cuecas, agora exigem á Geringonça que Portugal seja um exportador de ciência.

A falta de honestidade é tanta que ignoram que num hotel de Lisboa ganha-se mais e existe mais mão-de-obra mais qualificada do que na maioria das fábricas representadas na CIP, que receiam ir à falência se tiverem de pagar mais 5 euros de ordenado. Não sei que grandes economistas são estes que ignoram que no sector do turismo o valor acrescentado no país é infinitamente maior do que em muitas das nossas exportações industriais. Enquanto em muitos produtos das nossas exportações tradicionais, uma grande parte do preço resulta de matérias-primas e energia importada, no turismo quase toda a receita resulta de inputs nacionais, isto é, por mil euros de receitas a percentagem de inputs nacionais é bem maior no turismo do que na generalidade dos sectores exportadores.

Mas na hora de tentar afundar o país tudo vale, se for necessário até os mais ilustres professores do ISEG (que saudades do meu velhinho Quelhas…) se tornam fisiocratas e defendem a teoria cavaquiana dos produtos transacionáveis. Como ouvi muitas vezes na minha infância, ao mau cagador até as calças empatam, e estou sendo simpático ao usar a versão espanhola deste dito popular, porque receio que a versão portuguesa se lhes aplique ainda melhor.

      
 Moscovici parece estar com o diabo no corpo
   
«Portugal é, entre os países que receberam uma classificação de “risco de não cumprimento” para os seus planos orçamentais, um dos que melhores indicadores apresentam, assinalou esta sexta-feira o comissário europeu Pierre Moscovici, que abriu ainda a possibilidade de Bruxelas vir no futuro a rever em alta as suas projecções de crescimento para a economia.

A falar na comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da República, o comissário que esteve no centro das decisões tomadas recentemente em Bruxelas sobre a política orçamental portuguesa, afirmou aos deputados que o risco detectado em Portugal “foi um dos mais baixos”, assinalando que na opinião que foi publicada pela Comissão se diz que “os riscos estão contidos”.

Isto faz com que, entre os oitos países da zona euro a que Bruxelas deu uma classificaçãoo mais baixa aos orçamentos – detectando a existência de “risco de não cumprimento” das regras europeias –, Portugal seja um dos que os responsáveis da Comissão vêem com melhores olhos. “Portugal está na charneira, entre o ‘risco de não cumprimento’ e a classificação de ‘geralmente conforme’”, afirmou o comissário.» [Público]
   
Parecer:

Não se faz uma coisa destas a um Passos Coelho que ia ficando com calos de dar tanta graxa à Comissão e aos restantes parceiros da Troika.
   
Despacho do Diretor-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
  
 Os ingleses que se cuidem...
   
«O ministro alemão das Finanças, Wolfganf Schäuble, avisou em declarações ao Financial Times que Berlim não aceitará que se alivie a factura do Reino Unido para com a União Europeia (UE), nem que Londres promova políticas fiscais de excepção com vista a atrair mais investidores para o país.

“Até que esteja completa a saída do Reino Unido [da UE], a Inglaterra terá certamente de cumprir na íntegra todos os seus compromissos. Provavelmente alguns perdurarão para além da saída, pelo menos até 2030… Não podemos conceder nenhuns descontos generosos”, disse Schäuble. Esta semana o Financial Times indicou que a UE poderá apresentar ao Reino Unido uma factura de saída com valores entre 40 a 60 mil milhões de euros.

As previsões de Londres são ainda mais pessimistas, com os responsáveis do Tesouro a anteverem que os custos do "Brexit" poderão elevar-se a 116 mil milhões de euros daqui a cinco anos. O prognóstico deverá ser apresentado pelo ministro do Tesouro na próxima semana.» [Público]
   
Parecer:

Têm o Schäuble à perna!
   
Despacho do Diretor-Geral do Palheiro: «Reserve-se lugar na primeira fila do espetáculo.»

 Só?
   
«Os juízes do Campus da Justiça, em Lisboa, condenaram na tarde desta sexta-feira o antigo dirigente das secretas Jorge Silva a uma pena suspensa de quatro anos e seis meses de prisão por acesso ilegítimo agravado, violação do segredo de Estado e dois crimes de abuso de poder. Foi absolvido de um crime de abuso de poder e de corrupção passiva. 

O tribunal considerou provado que o antigo dirigente das secretas Jorge Silva violou o segredo de Estado em 2010 quando usou o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) para recolher informações para o grupo económico Ongoing, para o qual foi trabalhar após deixar a direcção do SIED. O acórdão neste caso ainda está a ser lido pelos magistrados judiciais. Gisela Teixeira, então funcionária da operadora Optimus, foi condenada por um crime de violação do segredo profissional.

As informações pedidas por Silva Carvalho diriam respeito quer a negócios que a Ongoing planeava fazer, como entrar no capital de um porto grego, quer a questões da vida pessoal dos seus dirigentes. "São informações que o arguido Silva Carvalho jamais poderia ter usado para fins alheios aos serviços", disse a juíza-presidente.» [Público]
   
Parecer:

H´poucos dias alguém que gritou no parlamento apanhou pena de prisão, remível a multa, este leva pena suspensa, isto é, numa multazinha paga. Gente fina é outra coisa.
   
Despacho do Diretor-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»