Nos tempos das maiorias absolutas de Cavaco Silva José Queiroz é o modelo de sucesso desportivo e era exibido como um exemplo de sucesso do regime, num tempo em que alguém de quem se diz ser um “adiantado mental” afirmava que Portugal era um oásis na Europa. Nos últimos tempos a intimidade entre Marcelo e a seleção de futebol é tão grande, que se os jogadores tivessem disponibilidade de agenda teriam direito a uma cerimónia de condecorações em cada uma das capitais de distrito, o próprio Marcelo só ainda não foi convocado para jogar porque desde há muito que o forte dele na política é a natação.
Os tempos de Passos Coelho não foram os melhores apra ver governantes na bolsa, o próprio Cavaco só ia à final da Taça de Portugal e só entrava no Estádio nacional cano a populaça já estava concentrada no jogo. Durão Barroso ficou traumatizado com uma enorme vaia, Passos nunca arriscou, não foi uma única vez a um estádio, não fosse ouvir o que o povo pensava dele. Mas, enquanto ele se afirmava na política depois de ter sido um modesto deputado, Jorge Jesus, que tinha sido um treinador ainda mais modesto, afirmava-se na liga principal.
Poder-se-ia dizer que as semelhanças ficavam por aqui, ou mesmo que o mais longe que se poderia ir seria estabelecendo uma relação entre a saída limpa e a famosa declaração de vitória de Jesus que, comentando a arbitragem, concluiu, para irritação daquele que agora são seus devotos, que o jogo tinha sido “limpinho, limpinho”. Até se poderia recordar de uma frase célebre d Passos quando um dia disse que “os políticos não são todos iguais”, à famosa declaração de Jesus segundo o qual não comentava o treinador da equipa rival porque não o considerava treinador.
Mas as semelhanças entre Passos Coelho não se ficam por aqui, têm muitas semelhanças na sua forma de abordar o jogo, aquilo a que Jesus designa pelas suas ideias de jogo, a única diferença está no facto de o treinador do SCP acusar os rivais de o copiarem, enquanto Passos Coelho se queixa de fazerem tudo ao contrário do que ele acha que se deve fazer. Ambos se sentem infalíveis.
Até nos momentos difíceis se assemelham, veja-se o que faz Jorge Jesus perante as dificuldades, experimenta meia equipa na posição de defesa esquerdo, chega mesmo a usar um jogo da Liga dos campeões para testar uma nova tática, usando três defesas, tudo para defrontar o Arouca. Passos, que sempre se achou infalível, já mudou de tática várias vezes, fez-se de morto, fez-se de exilado, tornou-se hiperativo, reuniu as cortes de Albergaria para apresentar o orçamento do seu governo no exílio, enquanto o Oe era discutido pelo usurpador, na capital do reino. Um olha para a classificação e não para de descer, o outro olha paras as sondagens e já receia uma chicotada psicológica.
Jesus sente-se o salvador do SCP e agora promete salvar o SCP, Passos sente-se o salvador do país e não parte convencido de que terá de o salvar novamente. Jesus promete que o SCP volte a ser uma orquestra de violinos, Passos prometeu que Portugal seria em poucos anos um dos países mais competitivos. Jesus gosta de comprar muitos jogadores com pouco dinheiro, Passos gosta de ter muitos funcionários a ganhar metade.