domingo, novembro 27, 2016

Umas no cravo e outras na ferradura




 Jumento do Dia

   
Passos Coelho

António Costa fez um ano de um governo a que Passos ainda não reconhece legitimidade, não perdendo a oportunidade de lhe dizer que o governo lhe foi usurpado, Fidel morreu, e Marcelo elogiou o governo como nenhum presidente anterior elogiou um governo. Mas o líder do maior partido da oposição não apareceu, não tem nada a dizer. Aguardemos pelas próximas sondagens.

 Dada a volta à última folha do século XX

Com a morte de Fidel poderemos dizer que se deu a volta à última folha do século XX, foi a última figura do século passado a partir, foi também o dirigente comunista do pós guerra a conhecer o mundo muito para além da queda do Muro de Berlim, o último que assistiu à queda do modelo social e mesmo no seu país, onde ainda resiste, viu muitas mudanças, incluindo o início da normalização das relações com os EUA, chegou mesmo a ver o impensável durante décadas, a ascensão de um idiota à presidência dos EUA.

Foi o único dirigente que conseguiu resistir com sucesso a uma invasão militar patrocinada pelos EUA, que escapou a muitos atentados, que sobreviveu economicamente ao maior boicote comercial na história da humanidade, resistiu a uma vaga de terrorismo interno promovida pela CIA e pelos cubanos ligado aos antigo regime.

Goste-se ou não de Fidel Castro a verdade é que é dos poucos dirigentes de um pequeno país que fica na história ao lado dos líderes dos grandes países. Fidel nem tão cedo ficará esquecido e a seu pedido ser um dirigente julgado pela história.

Quando se diz que Fidel vai ser julgado pela história isso não significa o julgamento sumário que alguns políticos de direita que não se casam de referir que Castro é um ditador. É gente a quem nunca ouvimos condenar outros ditadores e o que odeiam em Fidel não é o regime político, mas sim a partilha de ideais que não se limitam À questão da democracia.

      
 Disfuncionalidade cognitiva temporária
   
«O secretário de Estado, jovem, um pouco tímido até, deveria ter-nos chamado a atenção pelo cantinho de boca maroto. Ele sorri não sorrindo, sinal de que se tem em boa conta, o que é, achava eu, um mínimo para um homem público. Era o Parlamento, era o debate na especialidade e a especialidade servida naquela manhã era a Caixa Geral de Depósitos. Bocejo. Então, Ricardo Mourinho Félix, governante de Finanças, tendo a oportunidade de florir o discurso, aproveitou.

Disse: "O Sr. deputado Leitão Amaro, com a sua intervenção, revela uma de duas coisas: ou um profundo desconhecimento do funcionamento do RGIC ou uma disfuncionalidade cognitiva temporária..." E mais não disse o secretário de Estado porque rebentou uma bomba no hemiciclo. Daquelas à portuguesa - branda, pois - que se manifestam por mãos no ar, gritos, olhares furibundos, muito sangue na guelra e nenhum daquele com plasma, leucócitos e plaquetas que, entre nós, acontecem mais nos laboratórios de análises e nunca como em Bagdad no Parlamento e mercados.

Pareceu-me que o secretário de Estado iria por ali fora com uma linguagem imagética rara no Parlamento. Rara neste, porque quando São Bento se chamou Palácio das Cortes e Camilo elegeu para lá o tribuno Calisto Elói de Silos de Benevides de Barbuda, as palavras eram preciosas. Ainda me lembro quando Calisto Elói, exaltado com um discurso anterior, se virou para o presidente da mesa e lançou: "Tomo a liberdade de perguntar a V. Exa. se as locuções repolhudas do ilustre colega são parlamentares; e se são, peço ainda a mercê de se me dizer onde se estudam aquelas farfalhices."

Infelizmente, não foi assim porque o secretário de Estado foi aparado da sua verve pelo escarcéu da oposição. E não só ele. Porque quando Mourinho Félix pretendia prosseguir, a câmara televisiva focou o visado, o deputado Leitão Amaro. E este, já depois das alegorias do adversário, olhava-o fixo, sem espanto nem ofensa pelo "profundo desconhecimento" nem pela "disfuncionalidade cognitiva", nem tão-pouco agradecido pela condição de "temporária" atribuída à sua putativa disfunção. Amaro olhava, queixo na mão esquerda e cotovelo apoiado na bancada, enquanto a mão direita volteava uma esferográfica.

Para mim, o deputado ia exatamente plagiar-me a evocação de Calisto Elói, ia pedir a palavra e diria, mais coisa menos coisa: "Estou a desconfiar que a minha linguagem seca raspará nos ouvidos do Parlamento, que ainda agora se deleitou com a retórica florida do Sr. secretário de Estado." Mas também ele não pôde contribuir para o renascimento do florilégio parlamentar. O hemiciclo foi tomado pelo frenesim da bancada social-democrata, durante quatro minutos de guerra civil. Tirando o já aludido Leitão Amaro, que logo percebeu que a algazarra lhe tirava o protagonismo, e o líder parlamentar Luís Montenegro, imbuído da noção prudente de que só os líderes mas pouco embarcam em tumultos, os deputados laranja pareciam tomados por espasmos.

E há eu! Peço imensa desculpa mas mesmo em momentos históricos como os vividos ontem, eu não me consigo desligar da minha humilde pessoa. Acontece que segui o discurso ainda antes de lhe conhecer o tsunami e, ao dar-me conta deste, tresli. Tenho de o dizer. Quando vi tanta indignação, dei por mim também a aquiescer: "De facto, não se diz aquilo..." Depois, quando vi a ex-ministra Teresa Morais, uma senhora tão serena, a chispar entre as cadeiras da bancada, olhar incendiado e dando pancadas no tampo, convenci-me da enormidade. O raio do secretário de Estado não podia dizer que o deputado não conhecia, e não conhecia profundamente, "o funcionamento do RGIC". Ora, Mourinho Félix disse-o. O vídeo já estava na net, passei-o e repassei-o, pus auscultadores e não há dúvidas, ouvi: "(...) do funcionamento do RGIC."

O pessoal das secções de economia e de política do meu jornal estava fascinado pelo banzé transmitido pelas televisões. Pus as mãos nos bolsos e fui pelos corredores até encontrar uma estagiária que escreve sobre assuntos mais ligeirinhos, sobre a Cristina Ferreira e assim. "Olha lá, sabes o que é o funcionamento do RGIC?", perguntei-lhe. Pouco interessada, ela disse não saber. Eu também não sabia, é certo, mas preocupa a displicência destas novas gerações que vão para o jornalismo e não se preocupam com o funcionamento do RGIC. Há anos, noutro 25 de Novembro, o RALIS, o RASP, o CICAP e outras siglas puseram o país dilacerado. No 25 de novembro de ontem, um RGIC quase repetia o país de pantanas e a jovem jornalista, indiferente...

Voltei aos seniores. As televisões continuavam no hemiciclo e eu lancei devagarinho, a ver se compreendia pelo menos minha indignação: "Dizer aquilo do RGIC foi tramado..." Os meus colegas olharam para mim, pasmados: "Mas qual RGIC?!", disse um que frequenta os Passos Perdido. E prosseguiu ele: "Os protestos foram por causa da disfuncionalidade cognitiva temporária."

Fiz que sim com a cabeça, meti as mãos no bolsos e já ia pelo corredor, a ver se alguém me elucidava melhor. O jornalista da política foi amigo, pôs-me uma mão no ombro: "Como chamas àquilo de clicar com o polegar e os outros dedos, à procura duma palavra ou de um nome?", perguntou-me. "Ter uma branca", respondi. "Pois, isso no hemiciclo tinha pouco efeito", disse o meu colega.

Fiquei na minha. Acho o RGIC, ou o funcionamento do meu RGIC, ou lá o que é, mais ofensivo.» [DN]
   
Autor:

Ferreira Fernandes.

     
 Se calhar é por ser português
   
«A Universidade de Genebra e o Instituto de Altos Estudos Internacionais e do Desenvolvimento anunciaram que o contrato de Durão Barroso como professor convidado não vai ser renovado. “O mandato de José Manuel Barroso era por dois anos e chega ao final no fim deste ano. Nenhuma disposição no contrato previa a sua renovação”, anunciou o vice-reitor da instituição, Jacques de Werra, citado pelo jornal suíço Les Temps.

E a causa é, segundo o Le Temps, apenas uma: o facto de Durão Barroso se ter tornado presidente não-executivo da Goldman Sachs, considerada uma das responsáveis pela crise financeira de 2008 e ter ajudado a Grécia a maquilhar as suas contas para tentar evitar o inevitável resgate financeiro do país. A conversão de Barroso causou muitos protestos por toda a Europa e provocou um rude golpe à credibilidade da União Europeia.» [Público]
   
Parecer:

Lamentável e triste.
   
Despacho do Diretor-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Durão Barroso se está sendo perseguido por ser português.»


 É melhor do que andar às cuspidelas
   
«Mais branco, o símbolo mais esbatido no peito, o nome do patrocinador quase imperceptível. A frente da camisola que os jogadores do Real Madrid envergaram neste sábado, no encontro com o Sporting Gijón, tem pistas suficientes para se perceber que se trata de uma ocasião especial. Este jogo da 13.ª jornada da Liga espanhola foi escolhido para dar corpo a uma campanha contra a poluição marítima.

Quando Cristiano Ronaldo apontou o primeiro golo da tarde e surgiu no primeiro plano das câmaras percebeu-se ao detalhe que é um dia diferente. O plantel do Real Madrid envergou, nesta ronda, uma camisola totalmente fabricada a partir de garrafas de plástico recicladas.» [Público]
   
Parecer:

Talvez por cá se tenham de fazer camisolas com cuspidelas recicladas.
   
Despacho do Diretor-Geral do Palheiro: «Aprove-se.»
  
 Este Marquês ainda passa a Conde
   
«O procurador titular do caso Sócrates, Rosário Teixeira, pediu, no mês passado, à comissão de inquérito parlamentar que investigou o alegado plano governamental para controlar a TVI o processo confidencial sobre este caso, conduzido pelo ex-procurador-geral da República, Pinto Monteiro. A comissão concluiu, em 2010, que José Sócrates teve conhecimento do plano enquanto primeiro-ministro. 

O pedido do magistrado surge no âmbito da Operação Marquês, depois de numa busca ao antigo Banco Espírito Santo de Investimento (agora Haitong) se ter encontrado um documento manuscrito da directora do Departamento de Serviços Financeiros da instituição, Catarina Guerra, com anotações de uma reunião na qual se discutiu a aquisição da Media Capital, que detém a TVI, por parte de um consórcio que integrava o Taguspark, o grupo Lena e investidores angolanos.» [Público]
   
Parecer:

Começa a ser evidente o desespero da investigação em busca de algo que salve o processo.
   
Despacho do Diretor-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»