segunda-feira, novembro 07, 2016

Desorientação

A direita portuguesa, tão conservador nos seus princípios, não esconde a saudade que tem da postura passada do PCP e do BE. O primeiro momento de total estupefação foi a formação da Geringonça, na altura puseram o seu homem de mão em Belém a fazer exigências ridículas, questionaram a solidez do acordo, como se o voto dos deputados não contasse, exigiram um acordo estável para mais do que um ano, enfim, tentaram pressionar a esquerda ao máximo, na esperança de criar roturas.

Formado o governo da geringonça a direita lá fez o frete de deixar passar meio ano, até que chegasse a discussão do OE para 2017. A tese dos seus intelectuais era a de que o acordo não garantia a aprovação do OE e daí resultar o fim de uma coligação presa por arames. Uma divisão na esquerda devolveria o país à normalidade.

Par a direita o normal é que as contas parlamentares sejam feitas apenas com 80% dos deputados, no pressuposto de que o ódio do BE e do PCP ao PS é superior a tudo, uma direita sociologicamente minoritária só tem de ultrapassar o PS em deputados. De certa forma tinham razão, a divisão ideológica da esquerda tem um século e o cisma criados com a criação da corrente social-democrata do movimento marxista e mais tarde com o leninismo, levou a que para os movimentos comunistas o grande inimigo nem sempre fosse a direita.

O primeiro partido a dar um passo num sentido diferente foi o PCP, que o comentar os resultados eleitorais das eleições de 2015 acabaram com um dogma que perdurava há mais de um século. A direita não percebeu essa mudança e começa agora a dar sinais de desorientação, começou com apelos ridículos ao regresso de Mário Nogueira ou aos movimentos grevistas da CGTP, agora tenta questionar as opções do BE, como se o que fosse natural seria o apoio deste partido à direita.

A verdade é que durante os governos do PS a maior parte da despesa da oposição foi assumida pelo BE e pelo PCP, foram estes partidos que conduziram os professores contra o governo, que promoveram a maior parte das manifestações, que organizaram muitos dos protestos, que estiveram nas famosas esperas a governantes e mesmo no parlamento os momentos mais altos da oposição nos debates do parlamento foram protagonizados por deputados destes partidos.


A direita nunca teve de se esforçar muito e até inventou a tese de que são os governos que caem. Não admira que não tenha programa, que não apresente um projeto. Em vez de o fazerem, apelam ao PCP e ao BE, à tal extrema-esquerda execrável, que os ajude a regressar ao poder. Pobre direita, pobre Passos, pobre Assunção, reconhecem a sua incompetência da forma menos digna para uma direita cada vez mais pobre de valores e de dignidade.