A direita portuguesa, tão conservador nos seus princípios,
não esconde a saudade que tem da postura passada do PCP e do BE. O primeiro
momento de total estupefação foi a formação da Geringonça, na altura puseram o
seu homem de mão em Belém a fazer exigências ridículas, questionaram a solidez
do acordo, como se o voto dos deputados não contasse, exigiram um acordo
estável para mais do que um ano, enfim, tentaram pressionar a esquerda ao
máximo, na esperança de criar roturas.
Formado o governo da geringonça a direita lá fez o frete de
deixar passar meio ano, até que chegasse a discussão do OE para 2017. A tese
dos seus intelectuais era a de que o acordo não garantia a aprovação do OE e
daí resultar o fim de uma coligação presa por arames. Uma divisão na esquerda
devolveria o país à normalidade.
Par a direita o normal é que as contas parlamentares sejam
feitas apenas com 80% dos deputados, no pressuposto de que o ódio do BE e do
PCP ao PS é superior a tudo, uma direita sociologicamente minoritária só tem de
ultrapassar o PS em deputados. De certa forma tinham razão, a divisão
ideológica da esquerda tem um século e o cisma criados com a criação da
corrente social-democrata do movimento marxista e mais tarde com o leninismo,
levou a que para os movimentos comunistas o grande inimigo nem sempre fosse a
direita.
O primeiro partido a dar um passo num sentido diferente foi
o PCP, que o comentar os resultados eleitorais das eleições de 2015 acabaram
com um dogma que perdurava há mais de um século. A direita não percebeu essa
mudança e começa agora a dar sinais de desorientação, começou com apelos
ridículos ao regresso de Mário Nogueira ou aos movimentos grevistas da CGTP,
agora tenta questionar as opções do BE, como se o que fosse natural seria o
apoio deste partido à direita.
A verdade é que durante os governos do PS a maior parte da
despesa da oposição foi assumida pelo BE e pelo PCP, foram estes partidos que
conduziram os professores contra o governo, que promoveram a maior parte das
manifestações, que organizaram muitos dos protestos, que estiveram nas famosas
esperas a governantes e mesmo no parlamento os momentos mais altos da oposição
nos debates do parlamento foram protagonizados por deputados destes partidos.
A direita nunca teve de se esforçar muito e até inventou a
tese de que são os governos que caem. Não admira que não tenha programa, que
não apresente um projeto. Em vez de o fazerem, apelam ao PCP e ao BE, à tal
extrema-esquerda execrável, que os ajude a regressar ao poder. Pobre direita,
pobre Passos, pobre Assunção, reconhecem a sua incompetência da forma menos
digna para uma direita cada vez mais pobre de valores e de dignidade.