Há uns meses atrás Passos Coelho era apresentado como um resistente, alguém que não desiste, para usar uma palavra na moda, era alguém muito resiliente. Cheguei mesmo a ouvir uma senhora dizer, num conhecido programa da SIC Notícias, que não tinha a certeza de que não voltaria.
Não admira que tenha ganho o último congresso do PSD por margens estalinistas, tinha perdido o poder mas a esperança de um segundo resgate levava o partido a mobilizar à sua volta. Passos era a alternativa no caso de ocorrer uma crise considerada provável e num tempo em que os conflitos entre o líder do PSD e o novo Presidente da República estavam em banho-maria.
Hoje a situação é em diferente, Passos deixou de ser alternativa, anda mal aconselhado a ainda pior informado, anuncia sucessivamente a ressurreição do Diabo, vê os negócios menos claros dos últimos meses do seu governo serem tornados públicos. Mas, pior do que tudo isso, Passos decidiu fazer frente a Marcelo Rebelo de Sousa, provocando-o com piadas cuja resposta não se tem feito esperar.
Em poucos dias Passos passou de bestial a besta, ninguém acredita que ganhe uma guerra com Marcelo Rebelo de Sousa. Passos é um homem só, açoitado na direita por Assunção Cristas e por Marcelo Rebelo de Sousa e sem qualquer simpatia à esquerda, Passos Coelho é um homem só que sabe que vai ter em 2017 o seu annus horribilis.
2017 vai começar da pior forma possível, com a sua má gestão do dossier CGD quer como governo, quer como oposição, com o governo a chegar ao fim do ano cumprindo meãs do défice sem ter de tirar o escalpe aos contribuintes e devolvendo parte do que foi retirado aos trabalhadores e pensionistas e sem que nenhuma desgraça tenha ocorrido. Começa a ser evidente que também vai terminar da pior forma, com uma mais do que provável derrota do PSD nas autárquicas.
Os que elogiavam Passos agora criticam-no abertamente, os que foram seus porta-vozes oficiosos na SIC anunciam agora o seu fim, os que o bajulavam em busca de mordomias fogem agora dele. Passos está a conhecer o sabor da traição, a conhecer os oportunistas que apoiou, a ver os militantes mais extremistas a criticarem-nos. Em suma, Passos está vendo as ratazanas fugirem do seu navio, prenúncio de um naufrágio anunciado.
É um espectáculo triste e degradante, mas daqui a alguns meses muitas destas ratazanas não aparecer de novo, umas estarão convertidas ao António Costa e farão fila para receberem os seus trinta dinheiros, outras afirmarão que são apoiantes de Rui Rio desde que o conhecem. Voltarão aos cargos e às televisões e serão reconvertidos pelo sistema. Conseguem fazer-se milagres com a reciclagem do lixo, ou, como alguém escreveu num grafitti, "a merda de hoje fertilizará o amanhã".