sexta-feira, dezembro 02, 2016

Umas no cravo e outras na ferradura




 Jumento do Dia

   
Passos Coelho

Porque será que o líder da oposição esteve desaparecido no dia em que se comemorou a independência nacional, terá alguma alergia à data ou concluiu que não havendo relação com a CGD não era motivo que justificasse o seu aparecimento em público?



      
 Pedro Ferreira Passos Leite Coelho
   
«Ao  fim de meses a zurzir no Governo socialista, nas políticas erradas, no estado anémico da economia, na derrapagem da dívida pública, após ‘N’ discursos a denunciar a “mentira” e a “manipulação” do PS, o principal rosto da oposição desabafou: “Estamos fartos, cansados, de chamar a atenção para estas questões e eu direi que quase ninguém nos ouve!”

A falta de eficácia do PSD já era reconhecida por vozes gradas do partido. O principal crítico da liderança até apontou razões. Por exemplo, o cansaço em relação aos protagonistas: “O PSD não pode andar com as mesmas caras há anos, as pessoas têm de saber quando sair do palco.” Mas também a necessidade apresentar alternativas mobilizadoras. “O país precisa mais rapidamente e melhor de conhecer aquilo que são as alternativas do PSD. (...) Sabemos, porque não somos cegos, que esse resultado está longe de ser alcançado, porque vemos as sondagens, falamos com as pessoas e sabemos que há um caminho muito grande para percorrer.”

O ano era 2009, o PSD, maior partido da oposição, era liderado por Manuela Ferreira Leite e o seu principal crítico era Pedro Passos Coelho. Manuela ou não aparecia ou aparecia com cara fechada, pose austera e más notícias: o PS estava a levar o país para o “abismo”. Não havia uma promessa simpática, uma palavra de esperança. Só “Verdade”, com maiúscula. O PSD não gostou e Passos, derrotado por Manuela nas diretas de 2008, também não. O partido agitava-se — queria mais do que “verdade” e tragédia.

A viagem a 2009 lembra-lhe o PSD de 2016? As semelhanças entre a mensagem sombria de Ferreira Leite e o discurso de “mensageiro da desgraça” (Marques Mendes dixit) de Passos Coelho começam a criar entre os críticos do líder social-democrata o receio de que a história se repita. Até porque, como em 2009, as sondagens não animam — ontem, a da Católica punha o PS (43%) à beira da maioria absoluta e o PSD 13 pontos atrás. E Passos é o líder partidário mais impopular.

“A mera denúncia dos erros do adversário não é suficiente”, disse ao Expresso Pedro Duarte, uma das poucas vozes que no último congresso do PSD se demarcaram de Passos e lhe pediram que mudasse de estratégia. “Às vezes fico com a sensação de que regressámos a 2009: o PSD fazia uma oposição séria, dizia a verdade, denunciava erros, tínhamos também uma governação irresponsável que iludia os portugueses. Mas o discurso do PSD não foi mobilizador. Temos de apresentar um projeto que possa inspirar o país, mas o que vejo é que corremos o risco de voltar a cometer o erro de 2009.” Coincidência: em 2009, quando Passos fez um aviso parecido a Manuela (“O PSD precisa de um programa eleitoral que possa mobilizar a sociedade”), tinha Pedro Duarte do seu lado.

Passos Coelho ainda não chegou ao ponto de admitir que “ninguém ouve o PSD”, mas já disse que “o país está bastante pior, embora as pessoas não estejam ainda bem conscientes disso”. Ou seja, a mensagem do PSD não está a passar. Talvez, admite o líder laranja, porque o discurso do partido “não vende ilusões”. “A nossa missão não é agradar”, repete de cada vez que reafirma a mensagem. “Quando faço as minhas propostas não penso se vou ganhar ou perder votos, digo aos portugueses o que penso genuinamente. Podem não querer seguir o meu caminho, mas não duvido que daqui por dois ou três anos vão reconhecer que eu tinha razão”, dizia Manuela numa entrevista em 2009. Podia acrescentar as palavras de Passos em setembro passado: “Quanto mais o tempo passa, mais as pessoas se apercebem de que alguma coisa errada se está a passar”.

A questão do tempo não é irrelevante, avisa um social-democrata desencantado com o ex-primeiro-ministro. “Ele pôs as fichas todas numa estratégia de falhanço do Governo. Mas quem controla os calendários é António Costa e [Passos] corre o risco de lhe acontecer o mesmo que a Ferreira Leite: ter razão antes de tempo. Isso não entusiasma ninguém e não dá para ganhar eleições.”

TRAGÉDIA, SUICÍDIO... DIABO!
“O país está mais pobre, endividámo-nos o dobro, é um caminho de tragédia, de suicídio, aquele por onde Sócrates nos está a levar”, avisava Manuela. “Estamos a andar para trás”, repete Passos. “Esta solução de Governo está esgotada. Não tem nada para oferecer a não ser a estagnação”, disse no Pontal, antes do outono em que viria aí “o Diabo”.

Tanto o atual como a antiga líder tiveram pela frente a barragem de anúncios do PS. “Esta troika governativa só sabe fazer o que é fácil”, acusa Passos. Em 2009, Sócrates encheu a campanha de promessas (cheque-bebé, lembra-se?) e aumentou os funcionários públicos em 2,9% — questionada sobre se faria o mesmo, a presidente do PSD foi seca: “Aumentarei sempre os salários se houver dinheiro para os pagar”. Em 2016, Costa não só reverteu boa parte das medidas impopulares de Passos, como continua a agradar à Função Pública, agora com a promessa de integrar os precários. Esta quinta-feira, Passos respondeu a esta medida com o voto contra, porque “não sabemos quem são, o que fazem, o que é que vai custar para o futuro e quem é que vai ter de pagar isso.”

Passos faz muitas vezes a pergunta sobre de onde vem o dinheiro e quem vai pagar. Manuela tinha a mesma dúvida: “Nenhum português sabe de onde estão a vir os milhões anunciados todos os dias” (em 2009, “os milhões” eram para as “obras megalómanas”, agora são para as “reversões”). Ferreira Leite prometia “verdade”, Passos promete “confrontar a maioria e o Governo com a realidade”. Manuela acusava Sócrates de “logro”, Passos denuncia a estratégia “trambiqueira” de Costa.

Os alvos das críticas reagiram de forma semelhante. “A diferença entre nós”, disse Sócrates olhos nos olhos num debate com Manuela, “não é apenas de agenda económica, mas de atitude, entre quem tem confiança no futuro e nos portugueses e quem se limita a explorar a descrença, o negativismo e o pessimismo.” Costa cola os mesmos epítetos a Passos, mas o homem a quem o Presidente da República chamou “irritantemente otimista” é mais fino. Esta semana, perante bons indicadores económicos e com o OE quase aprovado, ironizou: “Até lhe podem chamar otimismo, para passo a passo irmos cumprindo o que prometemos, contra aqueles que estão sempre à espera do Diabo mas que têm pouca fé nos portugueses e nas portuguesas para vencerem a crise.”

A história repete-se até na efervescência que anima o PSD. No tempo de Manuela, ainda faltavam oito meses para as eleições e já Passos sinalizava a disponibilidade para ser candidato a primeiro-ministro — e Miguel Relvas mais um exército do aparelho preparavam terreno. Agora, a um ano das autárquicas, Rui Rio deu o tiro de partida para o debate sobre a sucessão e Luís Montenegro é questionado sobre as suas ambições de liderança. Em 2009, perguntaram a Passos sobre esta coisa do PSD ter um líder e andar a falar do líder seguinte. “É um jogo de perceções”, respondeu — se se fala mais da alternativa do que do líder, é porque este “não está a fazer o que deve”.

SEPARADOS À NASCENÇA
“Estamos fartos, cansados, de chamar a atenção para estas 
questões e direi 
que quase ninguém nos ouve”
Manuela Ferreira Leite, 2009

“O país está bastante pior, embora as pessoas 
não estejam ainda bem conscientes disso”
Pedro Passos Coelho, 2016

“É um caminho 
de tragédia,
de suicídio, aquele
por onde Sócrates 
nos está a levar”
Manuela Ferreira Leite, 2009

“Estamos 
a andar para trás”
Pedro Passos Coelho, 2016
Palavras-chave» [Expresso]
   
Autor:

Filipe Santos Costa.

      
 Falcoaria é Património Imaterial da UNESCO
   
«A arte da falcoaria em Portugal foi eleita, esta quinta-feira, Património Cultural Imaterial da UNESCO. A decisão foi tomada durante a 11ª reunião do Comité para a Salvaguarda do Património Cultural em Adis Abeba, na Etiópia. A classificação estava prevista para quarta-feira, mas a resolução foi adiada para esta manhã.

A falcoaria portuguesa junta-se assim aos 13 países onde a prática já é reconhecida como Património da Imaterial Humanidade. O anúncio acontece dois dias depois de a Olaria Negra de Bisalhães, em Vila Real, também ter passado a integrar a lista de Património Imaterial do organismo.

A candidatura foi apresentada em 2015 pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, no distrito de Santarém, em parceria com a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, a Universidade de Évora e a Associação Portuguesa de Falcoaria.» [Observador]
  
 A palavra do ano
   


«A votação para escolher a Palavra do Ano começou esta quinta-feira, anunciou a Porto Editora, que organiza a iniciativa desde 2009. A lista final, que pode ser consultada aqui, inclui as palavras Brexit, campeão, empoderamento, gerigonça, humanista, microcefalia, parentalidade, presidente, turismo e racismo.

A escolha pode ser feita até “ao último minuto do dia 31 de dezembro” e a palavra vencedora será conhecida “na primeira semana de janeiro” de 2017, numa cerimónia pública.

A seleção das dez palavras finais começou em maio deste ano e foi feita a partir de sugestões avançadas pelos votantes, num processo que passa sobretudo pelo estudo da frequência e distribuição do uso das palavras, da monitorização da comunicação social e das redes sociais e, ainda, dos acessos e consultas aos dicionários digitais da Porto Editora.» []
   
Parecer:

Geringonça!
   
Despacho do Diretor-Geral do Palheiro: «Vote-se.»

 A vanguarda do proletariado
   
«São 146 membros do comité central, que será votado no Congresso do PCP, que arranca esta sexta-feira em Almada. O esforço de renovação é grande e fez com que 25 dirigentes deixassem o cargo de direção, para dar entrada a 21 novas caras. Os comunistas continuam o esforço de remodelação de quadros e, com isso, o próximo comité central tem menos peso dos históricos: sai Albano Nunes, um herói da clandestinidade, ou o poeta Manuel Gusmão, ou ainda Manuela Bernardino, com passado antifascista. Só Ruben Carvalho, o 'pai' da Festa da Avante, representa no comité central o exemplo de um ex-comunista que passou pelas prisões da ditadura.

"É a lei da vida, o tempo passa e o 25 de Abril já foi há mais de 40 anos", diz Ruben de Carvalho. O desaparecimento de históricos comunistas da lista do comité central é visto como um sinal dos tempos e desvalorizado o seu significado político. Aliás, desde 2008 que a saída dos velhos resistentes se foi tornando evidente. Nesse ano, deixaram a direção comunista Carlos Costa, Honório Novo ou Vitor Dias e a saída de Costa - um dos antifascistas com mais tempo de prisão e de isolamento - motivou, na altura, oito votos de protesto de membros do comité central. No último Congresso, realizado em 2012, foi a vez de Domingos Abrantes e de Odete Santos.

Quatro anos depois, a tendência mantém-se. Saem os 'velhos' resistentes, entram novos quadros. A média de idades é agora de 43 anos, contra os 54 anos do último comité central eleito, o que demonstra o esforço de 'rejuvenescimento' que o PCP sempre disse querer prosseguir. Os operários continuam a ter uma expressão muito significativa, a ocupar 37% dos lugares de direção (uma ligeira subida em relação ao último Congresso, onde o seu peso era de 32%).» [Expresso]
   
Parecer:

Um dia destes somos todos proletários e os operários quase não existem, mas o PCP mantém a crendice da vanguarda, a classe lavadinha que saberá orientar todos para o paraíso, como se conduzisse o povo eleito através do Mar Vermelho.
   
Despacho do Diretor-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»