A candidatura da direita cristã ultra conservadora à autarquia de Lisboa não é a candidatura de alguém com especial vocação para a gestão,
com currículo e com consenso à direita, antes pelo contrário, é a candidatura
de alguém vazia, que lidera um partido confessional e que se comporta como uma
freirinha militantes e que se candidata a pensar apenas na sua projecção político,
com o objectivo de se afirmar face ao seu antecessor na liderança do CDS e de
rasteirar o seu antigo parceiro de coligação governamental.
Pela personalidade da candidata, pelos seus objectivos
políticos e pela forma como lançou a sua candidatura, Assunção Cristas era a
última personalidade do CDS a ser apoiada pelo PSD. Seja qual for o resultado das próximas eleições, Assunção Cristas vencerá e Passos Coelho será o único e grande derrotado, mas, pior do que isso, esta candidatura destrói a imagem do PSD como partido mais à esquerda e com
dimensão autárquica. Na capital aquele que historicamente é o maior partido
autárquico desiste de um projecto nacional em favor de uma candidatura de um
partido quase marginal. É como se o PS apoiasse uma candidatura do Arnaldo Matos.
Passos Coelho não apoiará a candidatura de Cristas
pensando na vitória, porque acredita num projecto autárquico que pouco mais é
do que umas missas na Sé ou pelas qualidades da candidata. Se apoiar Cristas é
porque o líder do PSD não tem qualquer projecto para Lisboa, como não tem para
muitas grandes cidades do país, porque quer desvalorizar as eleições
autárquicas e, mais do que tudo, por pura cobardia política.
O grande vencedor das legislativas, o político audacioso que
vergou Portas e Cavaco, o homem resiliente, o salvador da pátria, o líder sem
alternativa na liderança do seu partido tem medo de se candidatar a Lisboa.
Sabe que há uma grande probabilidade de perder as autárquicas e opta por desvalorizar
estas eleições e não ir a jogo. Qual é a imagem de referência das candidaturas autárquicas
do PSD, não é Lisboa nem o Porto, não é Sintra nem Oeiras, não é Loures nem
Aveiro. O PSD de Passos não concorre nestas eleições, passa.
Com esta opção Passos revela-se um político sem a coragem de
pedir aos portugueses que o apoiem, que demonstrem confiança nele votando num
projecto autárquico por si liderado. Em vez disso esconde-se, não apresenta
qualquer projecto autárquico, da mesma forma que não tem ideias para o país,
fica emboscado à espera que o diabo o ajude, que os reis magos seja a segunda
versão da troika ou que algum raio caia em cima de António Costa e de Marcelo rebelo
de Sousa.
Passos está perdido na sua estratégia, o partido só acredita
nele em público e se engodado com um prato de lombo assado, em privado todos
lhe rogam pragas, os independentes fogem dele como da sarna e até os mais
liberais do Observador já o dão por acabado. Passos Coelho tem medo das autárquicas e esse medo é tanto que prefere esconder-se atrás da Assunção Cristas, é a cobardia política em todo o seu esplendor.