terça-feira, dezembro 20, 2016

Negociações salariais

A dez dias do fim do ano patrões, governo e sindicatos discutem um aumento de uns quantos euros no salário mínimo, transformando este salário na trave mestra das negociações laborais de que depende um acordo de concertação social para toda a economia. Nada disto faz sentido, nem a economia depende assim tanto do salário mínimo, não se decidem níveis salariais com dez dias de antecedência, nem os números dos salários neste patamar correspondem à verdade.

Há sectores de actvidade na prestação de serviço que recorrem ao trabalho intensivo (cantinas, segurança, limpezas, etc.) cujos contratos têm duração anual. Estas empresas suportam facilmente um aumento salarial decidido com um ano de antecedência, pelo que seria melhor estratégia negocial para patrões e empregados discutir acordos para um prazo mais alargado. É uma loucura fazer negociações para decidir salários a pagar no mês seguinte, os seus efeitos práticos são mais de ordem política do que laboral.

São escalões salariais mais baixos que mais alimentam a economia paralela e onde é maior a evasão fiscal e contributiva. Há sectores inteiros onde são raros os trabalhadores que não recebem uma parte do salário “por fora”. As estatísticas de emprego e de rendimentos estão fortemente viciadas por um fenómeno de que ninguém gosta de falar, a esquerda porque interessa aos patrões e a esquerda porque parece que quantos mais pobres estatísticos existirem mais força terão as suas propostas.

A verdade é que o futuro da economia passa muito pouco por estas negociações laborais ou mesmo por algumas reformas da legislação tão elogiadas pela OCDE. Na maior parte das empresas que apostam na competitividade procuram-se quadros mais qualificados e empenhados e isso não se consegue nem com salários mínimos nem com a ameaça de despedimentos.

As boas leis laborais de que a direita tanto fala serve mais para os maus patrões e uma boa parte das empresas que dependem do trabalho mínimo socorrem-se de trabalhadores emigrantes. O país está demasiado preocupado com o lado errado da economia.