domingo, junho 30, 2013

Jumento do Dia

  
Maria Luís Albuquerque

Na sua última ida ao parlamento a secretária de Estado do Tesouro recorreu a uma estratégia manhosa para sacudir as responsabilidades para o PS, disse que o governo anterior tinha omitido os swap na mudança do governo. Vindo de alguém que tinha promovido tais negócios o argumento cheira a falta de honestidade intelectual. Agora, perante as declarações do ex-ministro as declarações da governante são uma mentira, isto é, depois de ter feito negócios duvidosos prova-se agora que a ministra não falou verdade.
 
O que será necessário para demitir esta amiga de Passos Coelho?

«“Na altura da transição de pastas, eu tive uma reunião num sábado, nas vésperas da tomada de posse do novo Governo, dia 18 de junho, com o atual ministro das Finanças”, onde “toda a informação necessária sobre a matéria” relativa aos contratos 'swap' – de derivados financeiros sobre taxas de juro – envolvendo as empresas públicas, afirmou à Agência Lusa o ex-ministro das Finanças do governo de José Sócrates.

Teixeira dos Santos fez questão de esclarecer que “essa reunião decorreu em duas partes”, uma primeira a sós entre ele e Vítor Gaspar, e uma segunda, em que estiverem presentes os secretários de Estado e alguns membros do gabinete do ministro que cessava funções.» [Notícias ao Minuto]

Semanada

Esta poderia ser designada como a semana nacional das ratazanas, perante a rejeição social das políticas deste governo demonstrada numa greve social, face ao falhanço orçamental e sabendo-se do desastre não faltam os que vêm abandonar o barco governamental. O caso mais curioso foi o de Teixeira dos Santos, este senhor abandonou o barco de Sócrates para embarcar no de Passos Coelho, agora atirou-se ao mar e nada desesperadamente em direcção ao PS. Será que Teixeira dos Santos estaria agora a fazer a figura degradante que fez se tivesse sido confirmada a sua nomeação para administrador da CGD? Quando o seu nome foi proposto a título de prémio pelo seu comportamento e pelas suas declarações de apoio às políticas deste governo ninguém o ouviu vir a público defender o PEC IV.
  

Se não fossem as ratazanas a centrar as atenções, esta semana seria a do Magalhães a que um ministro oportunista decidiu chamar Camões. O Magalhães pode ser o Camões, mas os portugueses ainda sabem identificar um canalha. Esta gente não tem vergonha nenhuma na cara e depois de o Passos ter ido a Évora dar ares de um governante empenhado no investimento foi a vez de Portas se juntar ao primeiro-ministro e aproveitar-se do trabalho de José Sócrates. Os que gozaram do pequeno computador ou da hipótese de haver aviões em Évora usam agora alguns dos projectos apoiados por Sócrates para tentarem sobreviver.
 
A semana parece ter acabado com uma estranha luz ao fundo do túnel, depois de quase todos os portugueses estarem na miséria, com o consumo interno encolhido e com o país quase na total bancarrota a grande esperança para o crescimento económico vem da caridade, agora designada por "economia social". A caridade tende a ter uma tão grande dimensão que o pesoal das ONG da Igreja está sendo promovida a um estatuto idêntico ao dos Belmiros e dos Espíritos Santo e o primeiro-ministro vai às suas iniciativas falar como se estivesse em frente a investidores. A verdade é que o Banco Alimentar contra a fome tem mais impacto no crescimento do que muitos dos investimentos que o Portas exibe, o aumento do consumo provocado pela campanhas de caridade têm sido o único estímulo à economia apoiado por este governo. 

Umas no cravo e outras na ferradura


 
   Foto Jumento
 
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Orquídeas selvagens do Parque Florestal de Monsanto, Lisboa
   

 Oportunismo

Oportunismo é vender o Magalhães e chamar-lhe Camões.
 
 Lovely owl
 



 Organizem-se
   
«Estava a coligação posta em sossego quando Paulo Portas decidiu vir a público encostar o primeiro-ministro à parede. Disse o líder do CDS-PP, já lá vai mais de uma semana, que "a maioria deve estabelecer um calendário e objetivos firmes para, após a reforma do IRC, iniciar ainda nesta legislatura o desagravamento fiscal em sede de IRS". Quer isto dizer, trocando por miúdos, que o líder do CDS-PP quer baixar impostos já a partir do Orçamento do Estado para 2014.

Já esta semana, na terça-feira, o ministro das Finanças, num ato de surpreendente generosidade - porém, e como de costume, de constitucionalidade duvidosa -, admitiu reduzir, de forma "considerável", a carga fiscal para "os contribuintes cumpridores".

Menos de 24 horas depois, António Pires de Lima pôs mais na carta de Paulo Portas e defendeu que "do ponto de vista social e também do emprego era de uma grande inteligência fiscal" atender aos pedidos dos hoteleiros "e reduzir o IVA na restauração de 23 por cento para 13 por cento, já no Orçamento para 2014".

Ora, poucas horas depois, foi o próprio Passos Coelho quem, em pleno Parlamento, travou as veleidades do parceiro de coligação ao afastar qualquer possibilidade de baixar os impostos no próximo ano, não se comprometendo com qualquer desagravamento até final da legislatura, em 2015.

Ontem, percebemos porquê. Disse o Instituto Nacional de Estatística que o défice no primeiro trimestre deste ano se fixou nos 10,6% do PIB. Isto é, em valores muito próximos daqueles que se registavam em 2011, o ano do pedido de ajuda externa. Ou seja, a receita falhou. E não há como iludir este facto.

Diz o primeiro-ministro, contra a evidência estatística e as previsões cada vez mais catastróficas do FMI e da Comissão Europeia, que a "recessão em Portugal está a abrandar". E que o Governo prevê, numa profissão de fé absolutamente desfasada da realidade, que até final do ano se registe "uma viragem na tendência económica". Porque recuso a ideia de malvadez, só posso concluir uma de duas coisas: ou o primeiro-ministro é política e socialmente autista ou apenas incompetente. Só assim se compreende que perante os relatórios da sétima avaliação da troika, que apontam para a degradação das condições económicas e para uma recessão mais profunda do que a prevista, Passos Coelho se permita fazer tais afirmações sem se engasgar.

Só por autismo e insensibilidade ou incompetência é que, mesmo reconhecendo o papel da intervenção feita no Banif neste miserável desempenho, é que um primeiro-ministro pode insistir no dogma do castigo fiscal sobre os contribuintes sem perceber o colapso da receita dos impostos indiretos, isto é, aqueles que resultam da retração do consumo. Como é evidente, e ao fim de três anos em recessão, e perante a teimosia de quem governa, só podemos esperar, desgraçadamente, que as metas orçamentais que nos estão impostas continuem a não ser cumpridas.

E bem podem o CDS e Paulo Portas bater com a mão no peito e, qual ato de contrição, lamentar-se por terem sido obrigados "a governar contra as suas convicções" quando, na primeira oportunidade para desagravar o IVA da restauração - a tal medida "de uma grande inteligência fiscal", nas palavras de Pires de Lima -, fingem não ter sido o presidente do Conselho Nacional do partido a afirmar que "o efeito desta medida - cerca de 80 a cem milhões de euros no máximo - seria perfeitamente comportável nas contas do Estado em 2014".

De duas uma: ou estamos perante um embuste e uma farsa ou, se Paulo Portas ouvir os apelos do presidente da CIP, António Saraiva, que ainda ontem se lamentava pelo facto de o presidente do CDS não ter força para "fazer as reformas que apregoa", a coligação pode ter os dias contados na negociação do Orçamento para 2014.» [DN]
   
Autor:

Nuno Saraiva.
   
   
 Cavaco faz turismo
   
«É intenção do Presidente da República, Cavaco Silva, pernoitar nas ilhas Selvagens, durante a visita que fará ao local de 18 a 20 de Julho, o que nunca outra chefe de Estado fez. Segundo o Expresso, uma delegação da comitiva presidencial já esteve nas Selvagens a avaliar as condições para receber Cavaco.» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:

Pobre Cavaco, como vais ser um presidente sem história agora ainda vai querer figurar num qualquer Guiness.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
   
 CDS abre nova frente de batalha com o PSD
   
«Depois de altos e baixos, e num momento em que os ânimos pareciam serenar, pois que no tema volta a balançar a coligação governativa PSD/CDS. Se a Passos “muito surpreenderia” uma redução dos impostos no próximo ano, os centristas asseguram que 2014 “tem de permitir uma viragem em relação aos impostos”, conta hoje o Expresso.» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:

Esta coligação está a ficar bonita, está. O país está à beira do desastre e esta gente digladia-se para disputar os benefícios eleitorais resultantes de uma redução dos impostos.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Assista-se ao espectáculo.»
   
 Passos Coelho já não confia nos ministros
   
«Só o primeiro-ministro Passos Coelho e o ministro Adjunto Miguel Poiares Maduro ficaram com as versões integrais dos documentos centrais da agenda do Conselho de Ministros, realizado no passado fim-de-semana. A intenção, explica hoje o Expresso, é evitar fugas de informação para os meios de comunicação, que podia tornar-se mais fácil com o acesso de todos os ministros aos documentos.» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:

Divertido e de baixo nível.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Passos Coelho em que ministros não confia.»
  
 Troika já não confia nem acredita no governo
   
«Uma fonte do Governo, ligada às negociações com a troika, revelou à rádio TSF que as conclusões dos cinco dias de trabalho, realizados esta semana por membros da Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI), apontam para riscos políticos e constitucionais na implementação das medidas apresentadas no início de Maio pelo Executivo. Segundo a mesma fonte, a troika duvida da vontade e capacidade do Governo para executar o corte de 4,7 mil milhões de euros.» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:
 
Só agora é parece terem percebidoo onde e com quem estão metidos.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Assista-se ao espectáculo triste proporcionado por uma troika mais proecupada em ilibar-se do que com o país que destruíram. »
   
 Anda tudo à facada
   
«Um jovem de 19 anos foi assassinado à facada, este sábado de madrugada, na discoteca República da Música, na zona de Alvalade, em Lisboa.» [DN]
   
Parecer:
 
Nunca se assistiu a tanta facada.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Analise-se o fenómeno.»

sábado, junho 29, 2013

Jumento do Dia

  
Sôr Álvaro

Parece que o sôr Álvaro é mais um defensor dos valores da família.

«O Governo propôs para presidente da Autoridade da Concorrência (AdC) Álvaro Almeida, que é irmão do presidente executivo da Optimus.

A escolha gerou surpresa e desconforto no sector das telecomunicações e junto de responsáveis ligados à supervisão, pelo facto de a fusão entre a operadora (que faz parte da Sonaecom, do mesmo grupo que o PÚBLICO) e a Zon estar neste momento a ser avaliada pelo regulador. No entanto, os estatutos do organismo e a legislação em vigor não impedem a sua nomeação.

Tal como o PÚBLICO noticiou na sexta-feira, o Ministério da Economia fez chegar no início desta semana à Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CRESAP) os candidatos à substituição da actual administração da AdC, que terminou o mandato em Março. Mesmo não sendo obrigado a seguir as recomendações, o executivo tem sempre de fazer passar os nomes pelo crivo da comissão antes de concretizar qualquer nomeação.» [Público]

Volta académico verde!

Pode dizer-se que o governo de Passos Coelho duas fases, a do verde e a do maduro, resta-nos esperar que mais dia, menos dia salte a rolha ao povo português para que o governo entre na fase do espumante.
 
A fase verde foi a do académico Relvas, um académico recauchutado que nem deve fazer ideia de onde fica Yale, algo que o primeiro-ministro, que ele próprio inventou, também não deverá saber, enfim, como diria o outro quem sai aos seus não degenera. A verdade é que a fase verde foi a fase do sucesso, o ministro tinha uma licenciatura comprada na loja do chinês, os assessores eram bloggers e o facto é que foi um tempo de sucesso. Apesar disso tudo corria bem, os três estarolas da troika não tinham mãos a medir com os convites para dizerem baboseiras em seminários, os gregos roíam-se de inveja, o Durão Barroso sentia que tinha pago a dívida ao país, as exportações iam de vento pela popa, o Gaspar já se imaginava a ser convidado para ensinar em Harvard.
 
A fase do verde do Relvas acabou da pior forma, correram com o Relvas, os desvios colossais do melhor aluno da turma emparelharam Portugal com a Grécia, o Sócrates voltou, Cavaco auto-promoveu-se a presidente de iniciativa governamental, foram só desgraças.
 
Passos Coelho achou que o problema estava no verde e mudou-se para o maduro, da Lusófona para Yale, da conversa de taberna para discursos de fino recorte, ainda que um pouco repetitivos na linguagem. O Relva deu lugar ao Maduro, um maduro mais frutado e florido, jovem e com perfumes delicados, um verdadeiro néctar dos deuses.
 
Só que o Maduro teve azar, as desgraças sucederam-se, nada lhe tem corrido bem. Naturalmente, o Maduro descobriu que tudo está a correr às mil maravilhas, o problema é que os portugueses não são tão brilhantes quanto ele e não conseguem analisar a realidade, em vez de cantar o Grândola ao Passos Coelho deviam cantar-lhe os parabéns a você em sinal de gratidão.
 
A partir de agora os portugueses vão ter meia hora de espectáculo comunicacional dado pelo auxiliar do Maduro. É uma pena que tenha chegado com uns dias de atraso, teria sido muito interessante ver o que ele teria a dizer sobre a eventual redução do IRS. Mas oportunidades não lhe vão faltar, veremos como vai explicar melhor as intervenções de Paulo Portas como vai corrigir o Rosalino quando este disse que vai despedir em vez de dizer que vai requalificar os funcionários.
 

Oportunidades para o Lomba falar não vão faltar, o único problema é saber o que é que ele vai dizer na primeira metade da semana, este país produz tão poucas novidades que só a meio da semana começam a ouvir-se notícias. Será que o Lomba vai ocupar as meias horas dos briefings diários a contar anedotas, ou optará por nos proporcionar espectáculos de striptease com barra e tudo?

Umas no cravo e outras na ferradura


 
   Foto Jumento
 
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Flor do Parque Florestal de Monsanto, Lisboa
 Ocupação ilegal da via pública?

Quantos portuguesas poderão estar juntos sem pedir autorização para organizar uma manifestação, serão quatro?



 Os trabalhos de Passos
   
«Diz o primeiro-ministro, em resposta à greve geral de ontem, que este país precisa é de trabalho. Sem trabalho, é certo, nada de jeito se faz. Mas é de trabalho digno, tratado com dignidade, que precisamos. Se há trabalho não digno? Então não há: o dos escravos, por exemplo. Podem os escravos ser dignos, e Epicteto, a grande referência da escola estoica, bem o demonstra, mas são-no apesar de serem escravos, da indignidade que tal implica.
  
Mas não é só o trabalho forçado que é indigno; há trabalhos voluntários, até entusiásticos, igualmente indignos. Como aquele que Passos, Portas, Gaspar e, não esquecer, Cavaco (se porque quer ou porque foi a isso forçado de qualquer forma é indiferente) estão a levar a cabo: o trabalho que tem como principal objetivo diminuir, escarnecer, defraudar, castigar, precisamente, o trabalho.
  
Disse Carlos Silva, o atual secretário-geral da UGT, em resposta a Passos, algo como "para falar sobre trabalho, é preciso saber o que é". Deu como exemplo os portugueses que trabalham pelo salário mínimo. Ora o problema não reside na questão populista de saber se Passos alguma vez na vida teve de se levantar às seis da manhã para ir para as filas de transportes públicos e para ganhar 485 euros antes de impostos. Sabemos que não, mas o essencial não é que nunca o tenha feito, mas que desrespeite quem o faz. O essencial é que, havendo muitos tipos de trabalho e de trabalhadores, o que Passos e companhia estão há dois anos a fazer é a trabalhar para que o valor daquilo que fazem, do que são, seja depreciado.
  
Para Passos, na sua cabeça povoada por slogans pseudoliberais, o salário deve ser idealmente uma coisa que depende do défice e dos juros da dívida e dos movimentos do mercado (a começar pela taxa de desemprego), flutuando de acordo com as conveniências do empregador e imune a quaisquer estipulações legais - essas só contam para contratos com bancos e consultoras financeiras. É esse o exemplo que dá, o sinal que transmite, enquanto empregador do sector Estado. O exemplo de quem quer, um a um, anular todos os direitos conseguidos em décadas de luta (luta, sim), do horário máximo de trabalho às férias pagas, do subsídio de desemprego ao salário mínimo.
  
O que Passos pensa do trabalho, de resto, ficou muito claro numa proposta que o seu PSD na oposição apresentou, a de obrigar os de-sempregados a trabalhar de graça. O trabalho como um castigo para madraços, como penitência; o trabalho como algo que se impõe, não livre escolha mas sentença. Eis a essência do seu pensamento - se tal se lhe pode chamar.
  
E por assim ser, concordemos com ele nisto: precisamos de trabalho, do trabalho. Trabalhemos juntos para o defender. E se greves gerais não resultam, puxemos pela cabeça. Porque temos um Governo a trabalhar, dia e noite, contra ele - contra nós.» [DN]
   
Autor:

Fernanda Câncio.
      
 Uma entrevista histórica
   
«A entrevista que Teixeira dos Santos deu esta semana à TVI é um documento histórico de enorme importância. Daqui para a frente, ninguém poderá fazer a história das razões que levaram Portugal ao pedido de ajuda externa sem referir este poderoso testemunho na primeira pessoa

de quem participou na construção de uma alternativa ao pedido de resgate e presenciou a formalização das garantias de apoio do BCE e dos nossos parceiros europeus ao PEC IV, entendido como solução para estancar o "efeito dominó" provocado pela crise grega. A mensagem foi clara: Portugal foi forçado a pedir ajuda externa porque, em plena crise das dívidas soberanas, as oposições à direita e à esquerda se coligaram para rejeitar um PEC que tinha obtido o apoio formal da União Europeia e do BCE.

A especulação sobre o que teria acontecido se o PEC IV tivesse sido aprovado é uma discussão estéril, que só pode conduzir a conclusões especulativas. Mas o testemunho de Teixeira dos Santos não veio trazer nenhuma especulação. Trouxe, isso sim, um facto histórico inquestionável, sem o qual a história estará sempre falseada. E o facto é este: havia uma alternativa ao pedido de ajuda externa e essa alternativa, rejeitada no Parlamento (ante a passividade do Presidente da República), contava com o apoio europeu. É claro, nada disto será novidade para quem ainda se lembra das palavras secas que Ângela Merkel dirigiu na altura a Passos Coelho ou da reacção dura da chanceler, em pleno Parlamento alemão, quando teve a notícia da votação ocorrida na Assembleia da República. Mas o certo é que estas banais evidências históricas são hoje recebidas como se fossem "revelações" - foi assim com Sócrates, depois com Lobo Xavier e Pacheco Pereira, é assim agora com Teixeira dos Santos. A razão é simples: ao longo dos últimos anos, foi construída uma versão deturpada da história, assente na supressão grosseira dos factos inconvenientes, para justificar o assalto ao poder pelos partidos da direita e atacar o Partido Socialista. A novidade é que essa versão falsa da história já não está sozinha em campo e está a ser contraditada pelos factos.

O momento central da entrevista, recebido com estranha impaciência pela entrevistadora, foi aquele em que Teixeira dos Santos recordou, uma a uma, as datas das sucessivas descidas do "rating" da República e dos bancos nos dias que se seguiram ao "chumbo" do PEC IV. Foi essa queda abrupta dos "ratings" que provocou a subida exponencial dos juros e que, em menos de quinze dias, deteriorou a um extremo insustentável as condições de financiamento do País. E é esse, aliás, o contexto da célebre declaração do ex-Ministro das Finanças, tantas vezes desvirtuada, de que poderia chegar-se à situação de não haver dinheiro para "pagar salários e pensões". Ao contrário do que maldosamente se quis fazer crer, essa declaração não se referia a um pretenso esvaziamento dos cofres públicos causado por um alegado "despesismo socialista" (com o Orçamento para 2011 o País estava até a gastar bastante menos do que no ano anterior!) referia-se, sim, às consequências previsíveis do "chumbo" do PEC IV no normal financiamento da dívida pública. E, de facto, foi essa rejeição parlamentar, no dia 23 de Março de 2011, que traçou o destino de Portugal: entre o "chumbo" do PEC IV e o pedido de ajuda, a 6 de Abril, não passaram sequer quinze dias.

A entrevista de Teixeira dos Santos terá desiludido uma certa direita política e mediática: nem alimentou "fofocas" sobre questões pessoais, nem manifestou divergências sobre a justificação ou sequer sobre o momento do pedido de ajuda - pelo contrário, subscreveu a narrativa que Sócrates expôs na sua entrevista à RTP e desvalorizou, como se impunha, a relevância de, "chumbado" o PEC, o pedido de ajuda ser formulado um dia antes ou um dia depois. Não se desviou do ponto essencial: com o apoio europeu ao PEC IV, o pedido de ajuda externa podia e devia ter sido evitado. Ao fim de dois anos de austeridade "além da troika" e de uma dramática espiral recessiva, com 18% de desemprego, 127% de dívida pública e 10% de défice no primeiro trimestre deste ano, vai sendo tempo de se perceber quem é que tinha razão.» [DE]
   
Autor:
 
Pedro Silva Pereira.
   
   
 Então não é?
   
«O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, considerou hoje, em Bruxelas, que o limite para o défice este ano, de 5,5%, é “perfeitamente alcançável”, atribuindo a subida no primeiro trimestre ao aumento da despesa pública resultante da decisão do Tribunal Constitucional.» [Notícias ano Minuto]
   
Parecer:

Ouvir o Passos Coelho a falar de economia é um exercício parecido a assistir a uma missa rezada pelo Gaspar.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Quem dá atenção à conversa de Passos Coelho que meta o braço no ar.»
   
 Mourinho podia dar uma ajuda a Passos Coelho
   
«A passagem de José Mourinho pelo Real Madrid não deixou ninguém indiferente e dividiu o balneário merengue. Contudo, há quem o defenda com unhas e dentes, como é o caso de Arbeloa, lateral da seleção espanhola e do Real, que acredita que até Mariano Rajoy, presidente do Governo de Espanha, "deve estar agradecido" a Mourinho, porque de tanto se falar no treinador português desviaram-se as atenções de outros problemas que se passavam no país.

Sem papas na língua, Arbeloa admite que até com amigos discutiu a propósito de Mourinho porque é "uma pessoa que não deixa ninguém indiferente e com quem se está até à morte ou contra ele". E reforçou o seu ponto de vista: "Penso que nestes três anos foi uma figura que tomou uma dimensão exageradamente grande. Qualquer pessoa podia dizer uma frase, mas se Mourinho dissesse metade saía em todo o lado. Toda a gente opinava a seu respeito e o presidente do governo [Mariano Rajoy] tem de estar-lhe muito agradecido porque se salvou de que se falasse mais de coisas que se passaram em Espanha."» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:

Dizia umas coisas e fazia um favor a Passos, mas principalmente aos portugueses. Quem ajudar os portugueses a não pensar em Passos Coelho está fazendo-lhes um grande favor.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
   
 Pedro Lomba vai ser o animador
   
«Pedro Lomba é secretário de Estado adjunto do ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, que tomou posse em abril, herdando de Miguel Relvas a coordenação política do Governo PSD/CDS-PP, e decidiu criar uma rotina de encontros com a comunicação social.

Fonte do gabinete do ministro adjunto ressalvou, em declarações à agência Lusa, que "Pedro Lomba não vai ser porta-voz do Governo, mas sim o membro deste gabinete que vai representar o Governo nestes 'briefings'", nos quais "poderão estar presentes, algumas vezes, secretários de Estado ou até ministros de outras pastas".» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:

Se não é porta-voz do governo não seria melhor fazer umas sessões de striptease para ajudar a passar a meia-hora diária?
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
  
 Até tu Carrapatoso?
   
«O presidente da Fundação Vodafone Portugal António Carrapatoso considera que os partidos da Executivo “não se prepararam suficientemente para uma exigente governação”. Num artigo de opinião do Expresso, o economista distancia-se de Passos Coelho e do próprio Governo, de quem chegou a ser apoiante.» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:
 
O navio deve estar mesmo à beira do naufrágio, até os roedores do Compromisso Portugal já estão abandonando o navio.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
   
  Pois, a culpa é das empresas
   
«O primeiro-ministro afirmou hoje, em Bruxelas, que não é por falta de financiamento que programas como o Impulso Jovem estão “aquém das expectativas”, considerando que é necessário que haja interesse das empresas em adotá-los.» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:
 
É o desespero que já está a tomar conta dele.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
   
 Até tu Costa
   
«"O país tem que fazer um processo de ajustamento. E, qualquer que ele seja, envolve sacrifícios. Os sacrifícios têm que ter uma aceitação por parte do todo nacional, que é a população. Por isso, é muito importante a coesão, o entendimento, e que se perceba para que serve [esse ajustamento]", afirmou aos jornalistas, à margem de uma conferência em Lisboa.

"O resultado em matéria de défice orçamental depende, em parte, da política orçamental seguida e, em parte, das condições externas", realçou o governador, justificando os números da execução orçamental do primeiro trimestre, hoje divulgados, com a grave crise económica que a Europa atravessa.» [DE]
   
Parecer:
 
O navio deve estar mesmo à beira do naufrágio, até o campeão do apoio à austeridade pura e dura já está quase a atorar-se ao mar.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Vomite-se.»
   
 Cavaco cada vez mais isolado
   
«As quatro confederações patronais pediram uma audiência ao Presidente da República e ao primeiro-ministro para apresentar o compromisso que desafia o Governo a mudar de políticas mas também para demonstrar o seu descontentamento com a desvalorização da concertação social.

A intenção, sabe o Diário Económico, é mostrar que o patronato está unido num compromisso que apela a um novo rumo para Portugal. As confederações que representam a Indústria, o Comércio, o Turismo e a Agricultura já fizeram uma conferência de imprensa para apresentar este desafio e levarão agora o documento ao Governo e ao Presidente da República.» [DE]
   
Parecer:
 
Já faltou mais para que os únicos apoiantes de Passos sejam os Silvas da Coelha.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
   
 Confiará na Nossa Senhora de Fátima
   
«O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, disse hoje acreditar que a meta do défice traçada pelo Governo para 2013 vai ser cumprida e desvalorizou os números do primeiro trimestre, que apontam para um saldo negativo de 10,6 por cento.

Em declarações aos jornalistas, à margem da cerimónia de inauguração de uma unidade hoteleira no Algarve, realizada hoje em Albufeira, o chefe de Estado português afirmou que “o que está programado para o ano de 2013 [5,5 por cento] será alcançado”.» [i]
   
Parecer:
 
Pobre Senhor Silva.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver se as preces resultaram.»

sexta-feira, junho 28, 2013

Jumento do Dia

   
Luís Filipe Menezes

O pior que se podia suceder ao recurso interposto no Tribunal Constitucional pelo autarca de Gaia seria os juízes daquele  Tribunal ignorarem os argumentos apresentados, negando conhecê-los. Pobre Menezes. Como eu sinto inveja destes juízes, quem não gostaria de dizer "não o conheço"!

«Os juízes do Palácio Ratton não aceitaram o recurso que o actual autarca de Vila de Nova de Gaia interpôs contra o processo levado a cabo pelo Movimento Revolução Branca, que justificou o impedimento da sua candidatura à Câmara do Porto devido à Lei de Limitação de Mandatos.

Segundo o site do Jornal de Negócios, os juízes decidiram tomar “não conhecimento” dos motivos invocados no recurso, ou seja, o recurso do autarca foi rejeitado, ficando, assim, impedido de se candidatar à Câmara do Porto nas próximas eleições legislativas, a 29 de Setembro.» [Notícias ao Minuto]

Uma tatuagem

Passos Coelho disse que respeitava mais os trabalhadores que trabalham, isto é, os que não aderissem à greve e o ministro da Presidência, um dia depois, repetiu esta alarvidade. Curiosamente quase não se ouviram protestos, da mesma forma que ninguém se incomodou muito quando Gaspar sugeriu uma redução de impostos aos contribuintes cumpridores.
 
Não admiraria nada que o mesmo governo que chama requalificação a um despedimento se lembre de sugerir uma solução para que os portugueses menos exemplares, os que aderiram à greve ou os que tendo mandado o carro para a sucata deixaram de pagar IUC. Como as tatuagens estão na moda talvez algum criativo de entre os muitos que foram contratados para os gabinetes governamentais faa uma proposta .
 
Assim, quando entregassem a declaração do IRS os cidadãos mostrariam o braço, se tivesse a tatuagem de malandro fiscal pagariam o IRS normal,  se não estivessem tatuados teriam direito a uma pequena parte do vencimento de um funcionário públcio despedido e até pode ser que alguém se lembre de sugerir uma carta de parabéns assinada pelo próprio Gaspar.
  

Já aqui se compararam algumas expressões usadas por este governo com o campo de Auschwitz, mas o governo parece ter uma imaginação inesgotável para a asneira. O incrível é que exceptuando uma ou  outra voz, casos de Pacheco Pereira ou de Correia de Campos, quase não se ouve uma crítica. Parece que o medo da troika nos obriga a comportarmo-nos como ratazanas cobardes.

Umas no cravo e outras na ferradura


 
   Foto Jumento
 
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Praia do Cabeço, Castro Marim
 
 Os bem comportadinhos

O governo anda a tentar fazer passar a mensagem de que uma redução do IRS só será viável se os "portugueses" apoiarem a reforma do Estado e como a única medida dessa reforma é o despedimento de funcionários públicos isso significa que os portugueses de primeira só enriquecerão se apoiarem o despedimento dessas ratazanas despesistas que são os funcionários públicos.

Mas mais por receio do ridículo do que por vergonha na cara cada governante diz a mesma coisa mas os rodeios lançam a confusão. O Portas propõe, o secretário de Estado teoriza, o Gaspar admite e o Passos fica espantado. No fim, passou a mensagem, ajudem-nos a meter os funcionários nos vagões e depois podem ficar-lhes comas casas, os carros, os ordenados. Bem, não é assim, desta forma sucedeu na Alemanha nazi, por cá só sugerem que uma parte do vencimento dos funcionários públicos que forem despedidos será distribuído pelos portugueses de primeira.

A confusão é tanta que ninguém deu a devida importância à ideia do Gaspar, para o ministro poderá haver uma redução do IRS mas apenas para os contribuintes cumpridores. Isto é, já havia portugueses de primeira e de segunda, agora entre os de primeira distinguem-se entre cumpridores e não cumpridores, cidadãos de primeira exemplares e cidadãos de primeira de segunda.

Resta agora saber o que são cidadãos cumpridores e como serão marcados para que possam beneficiar da sua parte nos vencimentos dos funcionários públicos despedidos e convidados a juntarem-se à fila dos que fogem de Portugal. Digamos que estão cheios de sorte, dantes seriam transportados em vagões de gado. O problema é que neste momento nem, disso já temos.

 Os portugueses não são todos iguais
 
Há os que trabalham no sector privado e os que são despesa no sector público, há os que trabalham e os que fazem greve, há os que têm emprego e os que devem abandonar o país, há os jovens e os velhos que só dão despesa, há os bem comportados e os não cumpridores. Para este governo há portugueses de primeira, de segunda, de terceira e de quarta.

quinta-feira, junho 27, 2013

Jumento do Dia

  
Marques Guedes, ministro deste governo incompetente

Num governo com formação democrática os seus membros respeitam todos os portugueses independentemente dos seus credos, opções ideológicas e independentemente do uso que fazem dos seus direitos constitucionais. Um português não é de segunda porque é menos produtivo durante o Ramadão, porque tem uma doença crónica e é menos produtivo ou porque usa os seus direitos constitucionais em defesa de valores civilizacionais como o direito ao emprego ou à justiça.
 
Um cidadão não é de primeira porque fura uma greve ou porque devido a outro motivo opta por não aderir, da mesma forma que não pode ser de segunda porque adere a uma greve e para isso prescindo do seu salário. Um governante que faz distinção entre quem faz greve e quem não faz, que considera que quem adere à greve não trabalha e por isso está ao nívelm do gandulo, afirmando que os que não fazem greve são os que trabalham, é um governo com pouca formação democrática.
 
Os governantes bem podem afirmar e reafirmar que aceitam e/ou respeitam o direito à greve, até porque quando tal não suceder é muito provável que nesse dia em vez de irem para casa acabarão encostados a uma parede da praça do Campo pequeno. A linha que distingue um fascista de um democrata não está em dizer que se respeita um direito a que se está obrigado a respeitar, ainda que este governo demonstre uma grande  dificuldades em aprender a respeitar a Constituição. A linha que separa um fascista de um democrata está em ter o mesmo respeito por todos os cidadãos, independentemente destes protestarem ou não contra o governo, mesmo que para isso usem de um direito constitucional.
 
Os fascistas é que hierarquizam a qualidade dos cidadãos, opondo aos valores da democracia valores como o trabalho, para os fascistas é que há contradição entre trabalhar e fazer greve.
 
É triste ver alguém por quem se tinha alguma consideração e vê-lo agora ser pau mandado, repetindo argumentos execráveis, pouco dignos de quem se pensava ser um democrata. Enfim, estamos sempre a aprender e a ver gente a mudar de campo a troco de estatutos, tachos, mordomias ou poder. É a vida.

«Marques Guedes lembrou que a greve é um direito previsto na Constituição, tal como o é o direito a trabalhar. "É de trabalhar que o país precisa", defendeu o governante na conferência de imprensa após a habitual reunião semanal do Executivo.

A greve é um direito "legítimo" que o Governo respeita, "mas respeita mais ainda os portugueses que estão a trabalhar", disse.» [DE]

A triste lição que nos é dada por Passos Coelho

Se há algum capítulo em que Passos Coelho se tenha conseguido destacar ao longo destes dois anos da mais absoluta incompetência governamental foi na capacidade de gozar com os portugueses, ao mesmo tempo que se entretém a atirar uns contra os outros. É um governo sem escrúpulos, que não se importa de ir buscar inspiração a Auschwitz e designar o despedimento em massa de funcionários públicos por “requalificação profissional”.
 
Mas perante a óbvia intenção de Gaspar de levar a sua reformatação do Estado até ao fim os funcionários públicos opõem-se? É óbvio que não, o Gaspar teve a esperteza saloia de dizer que era só um determinado grupo profissional a ser alvo do chuveiro de Auschwitz e os restantes ficaram todos contentes.
 
Veja-se o caso dos professores, é certo que o Mário Nogueira vai assegurar que no ensino a adesão foi de 90%, mas a verdade é que com os exames adiados e sem programação de reuniões de professores as escolas estarão às moscas, para que um professor adira à greve terá de ir de propósito à escola e declará-lo, se não o fizer não teve qualquer falta.
 
O mesmo governo que andou a defender que a legislação era para todos os funcionários públicos cedeu em toda a linha para calar os professores, só faltou mesmo dar-lhes um aumento extraordinário. A verdade é que calou os professores e os professores que não vão para a mobilidade serão substituídos por outros funcionários públicos. Ao Gaspar é indiferente que os despedidos sejam enfermeiros ou professores, o que importa é que se atinjam as metas, que depois o Portas explica tudo com o seu guião.
 
O extremismo ideológico de Passos Coelho teve o condão de testar os portugueses e o resultado é miserável, vergonhoso. Os trabalhadores do sector privado não protestam, desde que sejam os pensionistas ou os funcionários públicos a suportar a austeridade. Mas se for adoptada alguma medida que os atinja, como sucedeu com a TSU, é o ai Jesus, o movimento anti-troika consegue logo mobilizar grandes manifestações.
  
A última grande ideia deste governo foi a de sugerir aos portugueses, entendidos estes apenas como os que trabalham no sector privado, que apenas poderão beneficiar de uma redução de impostos se a reforma do Estado for bem sucedida, isto é, se apoiarem o despedimento de funcionários públicos. O Vítor Gaspar deve estar mesmo a pensar na hipótese de recorrer a tatuagens para distinguir os portugueses cumpridores dos não cumpridores, defendeu que tal redução deveria ser apenas para os primeiros. Alguém protestou, alguém se indignou? Não, o cinismo da situação reside no facto de ninguém concordar mas a maioria apoiar.

Graças a Passos Coelho conhecemo-nos melhor enquanto portugueses, talvez consigamos perceber como foi possível a ditadura sobreviver durante 48 anos. O país vive uma mistura perigosa de oportunismo e cobardia, os portugueses, medrosos, protestam apenas quando as medidas lhes são dirigidas, não há sentido de nação, é o cada um por si e a função do governo tem sido gerir a sua agenda política com base nos valores mais baixos que vai promovendo na sociedade portuguesa.

Umas no cravo e outras na ferradura


 
   Foto Jumento
 
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Campo das Cebolas, Lisboa
   
Imagens dos visitantes d'O Jumento
 
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Estátua de Mouzinho de Albuquerque, fortaleza, Maputo [J. de Sousa]
   
   

 Até a Filipa?

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 Lição de bom português
 
   


 A almoçarada
   
«O vistoso Grupo Excursionista Passos Coelho & Compinchas foi a uma almoçarada em Alcobaça. Deslocou-se, o grupo, em potentes automóveis, levando consigo, convenientemente, os guarda-costas habituais. Um número incontável de viajantes. Poderiam, talvez, viajar de autocarro, mas não. A decisão foi tomada em Conselho de Ministros anterior, com a veemência que deliberações desta natureza exigem e justificam. No presumível autocarro, a excursão seria mais divertida: um bulício de conversas e de risos, uma troca de histórias matreiras, acaso inconfidências risonhas e intercâmbio de pequenos segredos.

O selecto conjunto ia discretear sobre as maleitas da pátria e, porventura, encontrar soluções para o que nos aflige. Poderia, a reunião, ter sido em Algés, na Trafaria ou na Tia Matilde. Qual quê? O recato do mosteiro e o meditativo silêncio eram convites indeclináveis à grave reflexão a que se propunha aquela gente considerável.

Acontece um porém: na capela ia celebrar-se um casamento, e um repórter curioso aproximou-se, lampeiro, de gravador em punho. Esclareceu a jovem, vestida a rigor com véu e flor de laranjeira, a coincidência de o Governo estar ali, e ela também para o enlace desejadamente jubiloso. Espavorida, fugiu para o interior do monumento, sem a complexidade indecisa dos que olham para o poder com reverente obséquio. Entendeu, provavelmente, a noiva que o encontro não era sinal auspicioso e que a presença simultânea de tantos ministros dava azar.

Tomando as coisas pelo seu nome, acerca de que conversaram, aqueles que tais; que valores absolutos como a verdade, o bem, o sagrado, a beleza alinharam no que disseram? Adquiriram consciência de que a unidade dos valores morais está a desintegrar-se rapidamente, por culpa própria? O recolhimento piedoso do local era propício a actos de meditação e, por decorrência, à contrição e ao remorso.

Mais prosaicamente, que comeram os excursionistas? Embrulharam lanche? Levaram marmita? Passear, decididamente, não. O coro de protestos, de vaias e de insultos que os recebeu teria afugentado qualquer ideia de turismo. No final, o ministro Poiares Maduro, em resposta à ânsia noticiosa dos jornalistas, disse umas frases inócuas. Percebeu-se, no enredo, que o encontro de Alcobaça redundara em nada, rigorosamente em nada; que nada se decidira, que tudo fora absurdo, confuso e disperso.

Poiares Maduro é, certamente, bom rapaz, e só por isso tem uma aparência formal de tranquilidade infalível. A voz ainda está em formação, e não me parece que possua sabedoria administrativa e astúcia suficientes para enfrentar as armadilhas que o aguardam. O partido que suporta o Governo é um saco de lacraus. Dividido em grupos de interesses, até já perdeu o sentido da cortesia. E a almoçarada, em Alcobaça foi uma sessão de despropósito, consequente com o estado do Governo.» [DN]
   
Autor:

Baptista-Bastos.
   
   
 Uma boa pergunta
   
«O secretário-geral do PS, António José Seguro, exigiu ontem à noite explicações do Governo a propósito de o ministro das Finanças saber, com "dias de antecedência", dados sobre o défice orçamental que o INE só vai divulgar sexta-feira.» [DE]
   
Parecer:

Digamos que este ministro é um rapaz bem informado e só é pena que a única coisa em que não acerta é nas suas previsões.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Exija-se uma resposta ao Gasparoika.»
   
 Onde é que eu já ouvi isto
   
«O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que o Governo respeita o "direito inalienável à greve", referindo no entanto que o país precisa menos de greves e mais de trabalho e rigor.» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:

ISto parece o regresso ao Estado Novo.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Vomite-se.»
   
 A Comissão não acredita
   
«A Comissão Europeia já está mais pessimista em relação à evolução da economia em Portugal do que estava em Março, quando chegou a acordo com o Governo e o resto da troika para a definição do cenário macroeconómico actualmente vigente no programa de ajustamento português.

No relatório da sétima avaliação, publicado nesta quarta-feira, o executivo comunitário (um dos membros da troika) confirma a estimativa de recessão de 2,3% este ano, já divulgada pelo Governo e pelo FMI, mas assinala que, “depois da finalização do cenário macroeconómico em Março, os riscos para as previsões ficaram mais inclinados para uma descida”.

As principais preocupações de Bruxelas estão relacionadas com a evolução da procura interna, que, diz, “deve continuar fraca, particularmente tendo em conta os desenvolvimentos negativos no mercado de trabalho no primeiro trimestre deste ano, que podem afectar negativamente o consumo privado”. Em 2013, Bruxelas aponta para uma queda de 3,9% no emprego e para um aumento da taxa de desemprego para 18,2%.» [Público]
   
Parecer:

A vigarice está no facto de ter feito de conta que acreditava.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Demonstre-se a desonestidade da Comissão de Durão Barroso.»