sexta-feira, junho 14, 2013

A máquina de fumo

Cavaco parece ter concluído que as funções presidenciais se limitam a discutir o pós-troika, uma prova de que a Presidência da República foi transformada numa subsecretaira de Estado do ministro da Presidência. Ainda que Cavaco Silva chame a si a responsabilidade pelo debate do pós-troika e tenha usado este argumento para o maior ataque que um Presidente da República já desferiu a um partido, a verdade é que a primeira personalidade política a levantar a questão do pós troika foi Pedro Passos Coelho.
  
Passos Coelho começou a invocar o pós-troika quando percebeu que não podia manter o discurso do sucesso do ajustamento, perante o desastre e a necessidade de destruir o Estado social para compensar os desvios colossais provocados pelo meteorologista falhado o primeiro-ministro passou a falar do pós- troika, isto é, em vez de se olhar para o desastre eminente debate-se o futuro, quando começa a ser evidente o risco de um segundo resgate, senão mesmo de uma renegociação da dívida.
  
A manobra até levou o meteorologista falhado a encenar uma ida aos mercados para passar a ideia de que Portugal está em condições de dispensar a troika no próximo ano, algo que nem Passos Coelho nem Gaspar querem, eles só sabem governar á margem da Constituição e nas costas dos portugueses e sem a presença da troika ainda se vão revelar mais incompetentes.
  
Desde que Cavaco apareceu chamando a si o papel de verdadeiro primeiro-ministro, algo que sucedeu quando o governo achou que devia enfrentar o Tribunal Constitucional, o tema do pós-troika faz parte de todos os discursos e entrevistas de Cavaco Silva. Cavaco Silva não quer debates sobre a situação, sobre as opções de realidade ou sobre as dificuldades dos portugueses, Cavaco prefere fazer um exercício teórico e até fez uma encenação envolvendo o Conselho de Estado.
  
A verdade é que o único português que anda por aí a falar do pós-troika é o próprio Cavaco Silva, talvez por isso arranjou mais um tema para entreter os portugueses, a saída do FMI da troika e a criação de uma absurdo FMI europeu, como se a culpa dos nossos males e do extremismo praticado pelo meteorologista falhado fosse do FMI.

Pouco respeitador da Constituição parece que Passos Coelho encontrou uma nova função para o Presidente da República, é a máquina de fumos que serve para disfarçar a realidade com manobras de diversão. Cavaco parece sofrer de dislexia crono-política, estamos à rasca em 2013 e sugere que se discuta 2014, não sabemos se vamos ter emprego para o mês seguinte e diz para discutirmos as soluções do pós-troika, temos de aturar os estarolas estrangeiros de três em três meses e Cavaco vai para Bruxelas divagar sobre o FMI.