Todos
os Presidentes da República enfrentaram situações mais ou menos difíceis e
todos superaram as crises que tiveram que enfrentar e mesmo as que os próprios
provocaram ou estimularam. A grande excepção a esta tradição de competência na
Presidência da República é precisamente Cavaco Silva, aquele que mais anos foi
primeiro-ministro, aquele que mais usou a sua experiência e habilitações em
campanha, aquele que mais criticou os presidentes enquanto foi
primeiro-ministro. Cavaco perdeu a oportunidade de branquear a sua passagem
como primeiro-ministro e deixar um legado positivo em Belém, em vez disso tem
sido um desastre e a grande causa da instabilidade e da crise política profunda
em que o país se encontra.
Perante
uma situação de crise financeira internacional seria de esperar que um
Presidente da República promovesse a coesão nacional, apoiasse o seu governo e
contribuísse para o esclarecimento da opinião pública. Não foi isso que Cavaco
fez, enganou os cidadãos que confiavam na sua palavra negando a existência de
uma crise internacional, permitiu e incentivou a intriga e a conspiração contra
um governo legítimo eleito pelos portugueses.
Quando
os portugueses enfrentam um ataque especulativo nos mercados financeiros seria
de esperar que um presidente doutorado em economia fosse lúcido, esclarecesse
os portugueses e actuasse em defesa da economia portuguesa. Em vez disso teve
um discurso de resignação, sugeriu que o país e os portugueses deveriam ser
obedientes em relação aos mercados, passou a ideia de que os bons eram os
especuladores e os maus era o governo português.
Quando
seria de esperar que um Presidente da República defendesse a Constituição
Cavaco optou por não o fazer num OE ou por o fazer de forma pouco clara e
convincente, criando uma situação de facto que só não vingou porque os juízes
do Tribunal Constitucional não se demitiram das suas obrigações. A mensagem que
Cavaco passou ao governo foi a de que poderia governar sem limites
constitucionais.
Numa
crise financeira como a que o país atravessa o país precisaria de um Presidente
da República lúcido, competente, corajoso e capaz de liderar uma nação. Cavaco
tem revelado ausências e perdas de lucidez política, revelou-se um político
pouco corajoso e ninguém o vê como líder. Quando o país precisaria mais de um
Presidente teve o pior dos presidentes.
Quando
muitos discutem a substituição do governo talvez faça mais sentido pedir a
Cavaco Silva que resigne, deixando passar alguém que esteja à altura do cargo e
que exija deste ou de qualquer outro governo competência, respeito pelos
portugueses e pela Constituição da República, coisas que Cavaco Silva não quis
ou não foi capaz de fazer. Um mau governo com um presidente destes corre o
risco de ser ainda muito pior, um mau governo e um mau presidente é uma
combinação perigosa para o país.