Ao governo pouca ou nenhuma
legitimidade resta, não representa quase ninguém, desrespeita sistematicamente
todos os princípios e valores, assume que está a mando de alguns estrangeiros e
governa em função de alguns interesses. Se a legitimidade política já estava
perdida, aos poucos vai perdendo legitimidade formal, os níveis do absurdo na
sua governação torna a sua demissão uma questão de interesse nacional e com o
governo devem ser derrubados todos os titulares e interesses que por
incompetência ou oportunismo ajudam a mantê-lo.
Mas se a questão da legitimidade se coloca em relação
ao governo não deixa de fazer sentido que seja igualmente colocada em relação à
oposição. Terá a oposição de esquerda legitimidade para governar?
Se o voto dos cidadãos fosse racional é muito provável
que se as eleições se realizassem neste momento a abstenção subisse acima dos
80%. Nos partidos da direita só os incondicionais do PSD e do CDS, aqueles para
quem a camisola partidária está acima dos interesses nacionais votariam em
Passos Coelho (ou deveremos dizer Vítor Gaspar?) ou em Portas. Mas faria
sentido votar na esquerda?
Neste fim de semana realizou-se uma manifestação
anti-troika e quase todos os manifestantes entrevistados pelas televisões se
queixavam da fraca adesão, os mesmos que no passado exibiam mobilizações na
ordem das centenas de milhares não foram agora além das centenas. O tempo para
a praia ou a banalização das manifestações não explicam tudo. É bom recordar
que enquanto os grandes sacrificados forem os funcionários públicos a maioria
dos portugueses aceita o seu sacrifício, as grandes manifestações ocorreram
quando a austeridade foi generalizada ao sector privado, com o golpe da TSU. O
governo aprendeu a lição e agora Passos desmultiplica-se em intervenções
tranquilizando o povo dizendo que só vai lixar os funcionários públicos.
Se o povo português está reagindo com os funcionários
públicos da mesma forma que os alemães fizeram em relação aos judeus, há outro
motivo para que o movimento anti-troika tenha perdido embalagem. Nas últimas
grandes manifestações foram notícia a tentativa de expulsar cidadãos com
ligações ao PS, poucos dias depois a comunicação social fazia dos “que se lixe
a troika” uma fotografia que fazia ruir a imagem de independência e
espontaneidade.
Uma esquerda que se disfarça de independente para
organizar manifestações e depois anda a “sanear” os cidadãos ligados aos outros
partidos tem tanta legitimidade para governar como o Passos Coelho. A verdade é
que se Passos Coelho governa desta forma à esquerda o deve, foi a esquerda que
liderou a oposição ao governo anterior, foi a esquerda que fez o jogo de Cavaco
Silva e da direita parlamentar. É bom recordar os primeiros tempos de felicidade
de alguma esquerda quando Passos chegou ao poder.
Estará toda a esquerda interessada em governar ou limita-se a sonhar com a possibilidade de um dia ter o poder? A factura que o povo português está pagando pela estupidez da esquerda é demasiado elevada, depois de ter sido a esquerda a inventar o PRD e a levar Cavaco ao poder, volta a ser a esquerda a grande promotora do governo mais brutal e incompetente da história de Portugal.