sexta-feira, novembro 06, 2015

A tendência da meia dose de leitão

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Ao longo dos últimos quatro anos uma boa parte da oposição cometeu três que foram evidentes durante a campanha eleitoral:
  • Permitiram que a incompetência de um dos governos com mais incompetentes que governou este pais passasse incólume com a ajuda de uma comunicação social de intervenção de direita que se centrou nos defeitos do António Costa e nas qualidades da Catarina Martins. Casos como a morte ao abandono de cidadãos nas salas de espera dos hospitais, o desastre do Citius ou os disparates do ministro do Negócios Estrangeiros foram esquecidos.
  • Não denunciou o posicionamento ideológico de Passos Coelho que se situa quase no salazarismo económico (e não só) permitindo à direita o uso e abuso da marca da social-democracia. O próprio Portas chamava extremista e radical a Passos Coelho durante a campanha das legislativas de 2011.
  • Não denunciou a falta de equidade no esforço de austeridade, preferindo colocar a questão recusar a austeridade no seu todo ou discutir a dose.
  • Esquecer tudo o que se passou, a forma como Passos Coelho gozou com o PS de Seguro ou como Cavaco ignorou o então líder do PS, ignorar as medidas de austeridade decididas para satisfação ideológica do extremista Passos Coelho, branquear a incompetência generalizada num governo dominado por mentecaptos , perdoar as sacanices que foram feitas a funcionários públicos e pensionistas, sugerindo que um partido de esquerda poderia apoiar tacitamente a manutenção deste governo é inaceitável.
    Para usar os dotes intelectuais de Aguiar-Branco meia dose de um sacana não o transforma numa excelente pessoa, meia dose de injustiça não promove a injustiça, meia dose de discriminação não se traduz em equidade. O problema deste governo não está na dose mas sim na sua natureza e o partido de esquerda que ajude a viabilizá-lo pode estar assinando a sua sentença de morte.
      
    A esquerda é muito mais do que meia dose de direita e pensar que um partido como o PS pode ser um PPD com alguns complexos sociais ou que pode muito simplesmente definir-se ideologicamente em função das conveniências momentâneas deste ou daquele clã é inaceitável. Os portugueses não podem ser sujeitos a mais medidas brutais só porque o Álvaro Beleza sonha ser ministro da Saúde, porque o sindicalista da treta se imagina à frente do Conselho Económico e Social ou porque um qualquer Junqueiro se sente com direito a mordomias da democracia.
      
    É lamentável que perante o governo mais à direita e mais destrutivo que o país teve haja quem no PS ganhe notoriedade graças a uma comunicação social de direita que nestes tempos promove todos os que possam ajudar Passos Coelho a manter-se no poder. Esperemos que não sejam os funcionários, os pensionistas e os trabalhadores a pagar a meia dose de leitão da Mealhada,, um meia-dose que poderia ser de grande utilidade para que a direita continue agarrada ao pote.