segunda-feira, novembro 30, 2015

O bombista fiscal suicida

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Com alguma ingenuidade que por vezes a caracteriza brincou com Cavaco porque, ao contrário do que afirmou, não terá estudado todos os cenários que poderiam resultar das eleições. É óbvio que estudou, Cavaco sabia que estes resultados eram possíveis, sabia também que toda a esquerda se opunha à continuação das pinochetadas económicas do seu governo. Cavaco só não previu que o PCP deixasse de tratar o PS como um perigoso partido de direita, mas logo a seguir ao discurso da primeira de mão da indigitação de Passos Coelho sabia que mais tarde ou mais cedo seria forçado a dar posse a António Costa.
  
Continuando a chamar a si o papel de líder guerrilheiro da direita Cavaco adiou o mais possível a posse de António Costa, dando quase dois meses extras de governação a uma direita que convencida de que continuaria no poder deixou muitos negócios por fazer, desde a TAP a centenas de nomeações e outros pequenos esquemas.
  
Quem há muito se preparava ara um cenário de mudança era o então secretário de Estado Paulo Núncio, aliás, mesmo num cenário de vitória da direita era pouco provável que saísse do governo. Mesmo a sa permanência no governo fantoche empossado por Cavaco foi inesperada, antes disso já Núncio se tinha despedido da equipa de dirigentes que deixava instalada na Autoridade Tributária e Aduaneira.
  
O grande momento da carreira política de Paulo Núncio era o prometido reembolso da sobretaxa, a seguir iria para  seu novo escritório de advocacia onde colheria os frutos do seu trabalho. Mesmo que a seguir viesse uma desgraça na recita fiscal isso só serviria para engrandecer a sua imagem, significaria que com a sua saída veio o caos, sem ele a evasão fiscal estaria de volta.
  
Não é difícil armadilhar a máquina fiscal e comprometer os seus resultados a prazo, as receitas dos impostos dependem de declarações feitas muito antes do seu pagamento e para que se promova uma quebra da receita fiscal basta fazer passar a mensagem aos contribuintes incumpridores de que há uma alívio na vigilância. E isto é muito fácil de conseguir, basta eliminar as rotinas que no passado colocavam esses contribuintes em insegurança, forçando-os ao cumprimento voluntário das suas ou de arte das suas obrigações fiscais.
  
Mas o ex SEAF lembra o compadre que foi fazer a sua experiência de voo acrobático, sabia que se mijaria a subir, que se borraria a descer, só não sabia que o avião daria a volta e tudo lhe iria para a cabeça. Pois no nosso homem também não sai que iria estar no governo o tempo suficiente ara que fosse confrontado com os maus resultados que aí vinham. Comportou-se como um bombista suicida fiscal que permitiu que a bomba estalasse antes de tempo.
  
A direita, desde Cavaco a Paulo Núncio, sabia muito em que estava a armadilhar o país, os dois meses extra de governo de Passos só serviram para isso e foi para isso que Cavaco arrastou os pés, o problema é que no caso do fisco já alguém tinha começado esse serviço e os resultados já estão à vista, as receitas fiscais estão em queda e essa queda está programada para se fazer sentir e 2016. Cabe agora à equipa de Mário Centeno usar a muito pouca margem que lhe resta para desmontar as minas que foram colocadas no seu caminho por Paulo Núncio.