segunda-feira, novembro 23, 2015

Dois ovos no dito cujo da galinha

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Convencida de que continuaria a beneficiar das mordomias do poder a direita ainda não percebeu o que lhe aconteceu e há mais teses a defender a ilegitimidade de um governo apoiado numa maioria parlamentar do que receitas de bacalhau. Parece que cada opinion maker da direita tenta encontrar a desculpa mais original para justificar eleições quanto antes, até o Morais Sarmento, uma espécie de Plutão (digamos que uma espécie de calhau) da sistema planetário do Durão Barroso, acha que um governo do PS tem de ser sufragado, isto é, no caso de um governo da esquerda não bastam umas eleições e uma mairoia parlamentar, só adquire legitimidade se levar uma segunda de mão eleitoral.

A direita está mesmo convencida de que com eleições antecipadas volta ao governo, pois os portugueses votaram na esquerda porque são uns distraídos, essa era a estratégia de Passos Coelho mas em circunstâncias bem diferentes, Passos contava estar no governo onde poderia manipular a informação, esconder as suas patranhas, como a fraude da sobretaxa, e gerir o calendário político. Contava ainda com uma crise no PS e a consequente queda de António Costa, dando lugar a uma liderança fraca e à medida da direita. O desespero de Passos resulta precisamente do facto de não estando no governo perder o controlo da situação.

Acontece que Passos não v ai estar no governo, as suas aldrabices vão ficar a descoberto, patranhas como a do reembolso da sobretaxa vão ser desmontadas e conhecidas pelos que foram enganados pela Maria Luís. O poder corrompe muita gente, desde jornalistas a magistrados, ter o poder conquista muitas simpatias e cumplicidades. Passos já não beneficia dessa vantagem, não conta com um processo contra Sócrates que com as eleições começou a desmoronar-se, o ambiente político europeu já não é o mesmo, a troika já não lhe dá cobertura e até a Merkel vai querer esquecê-lo.

Todo o discurso da direita assenta no pressuposto de que umas eleições antecipadas lhe darão a uma maioria absoluta, esquecem que a realidade mudou e que estavam em melhores condições para ganhar eleições em Setembro do que vão estar daqui a sete ou oito meses. A crise que se desejava no PS vai suceder no PSD e há mais divisão na direita em relação às presidenciais com um único candidato do que na esquerda com quatro candidatos, fora as outras duas encomendas que os jornalistas insistem em dizer que são de esquerda. Pensar que se ganhariam as eleições presidenciais é contar com o ovo no cu da galinha.

Mas, como se um ovo eneorme fosse pouco a direita vai mais longe e está convencida de o pobre bicho tem dois ovos no dito cujo, está certa de que ganharia as eleições legislativas antecipadas e não tem quaisquer dúvidas de que ganharia as presidenciais, alguns até acham que poderiam substituir o Marcelo pelo Rui Rio e ganhariam na mesma. Andam, andam e ainda vão querer ganhar as regionais na Estremadura espanhola!

Marcelo nunca foi grande coisa, é um bom professor, um comentador admirado na direita, mas como político é um perdedor nato, as últimas sondagens são o primeiro aviso nesse sentido. O mesmo PSD que agora o dá por grande político em tempos correu com ele para no seu lugar meter o Durão Barroso. Partir do princípio de que Marcelo tem as eleições ganhas é contar com um segundo ovo atravessado na galinha e já começam a ser ovos a mais, o dito cujo do bicho não aguenta. Marcelo nunca ganhou nada na vida além de dinheiro e alguma fama e até às eleições ainda vai dar cambalhotas e gracinhas suficientes para produzir um programa inteiro dos Gatos Fedorentos dedicados ao seu pensamento.

Mas não deixa de ter graça ver que o mesmo Passos arrogante que humilhou Marcelo no congresso do PSD se começa a agarrar ao candidato presidencial como se fosse a sua bóia de salvação. Depois de perder as legislativas corre um sério risco de ser acusado de com as suas dúvidas ter ajudado à derrota nas presidenciais. A única esperança de sobrevivência de Passos está na vitória da direita nas presidenciais, isto é, Passos está nas mãos do cata-vento.
  
PS: Como à mulher de César não basta ser honesta, também tem de o parecer Maria Luís, a ainda e desgraçadamente ministras das Finanças, tem uma boa maneira de provar que o zero (enfim, menos de -5%) do crédito fiscal da sobretaxa não passou de um golpe eleitoral, digno de uma fascistas de pacotilha. Como o próximo relatório da execução orçamental ainda é da sua responsabilidade pode acrescentar-lhe um anexo relativo aos reembolsos do IVA. Neste anexo poderia constar para os meses de Janeiro a Agosto os montantes de reembolsos do IVA feitos, que aguardam autorização e que estando autorizados não foram processados. Com estes dados relativamente a 2014 e a 2015 poderíamos saber se estamos perante uma fraude ou se como pretende o governo foi tudo uma série de coincidências infelizes.