segunda-feira, novembro 16, 2015

Umas no cravo e outras na ferradura


  
 Jumento do dia
    
Cavaco Silva e Passos Coelho

Compreende-se que Cavaco já não tenha idade para sofrer a humilhação que será empossar António Costa como primeiro-ministro, aceita-se que Passos esteja a passar um mau bocado, não deve ser fácil ter ganho as eleições só para ter de perceber que afinal as tinha perdido perante o chumbo do seu governo, compreendo que um esteja velho e teimoso e o ourto passe por problemas pessoais, mas é inaceitável que ainda não tenham dado a cara e aparecido a falar em nome do país, como fizeram governantes por esse mundo fora.

Se não fosse o autarca da capital que chamou uma ministra e ao lado do embaixador de França prestou a devida homenagem ao povo francês. É lamentável, ali tão perto de Belém e de Alcântara e não estava lá ninguém nem da Presidência, nem dos Negócios Estrangeiros. Quem mandou o Fernando Lima fazer intrigas contra um governo também o podia mandar para junto da Torre de Belém, era só atravessar a rua.

 Não podemos vestir este tipo de camisolas

Foi assim que uma popular disse à SIC que não devemos ser Charlie ou franceses, não devemos chamar a atenção para nós, somos portugueses, respeitamos os credos de todos os povos, cuidado com as frases, vamos passar despercebidos, temos de fazer as coisas com mais sabedoria. Outra senhora, uma turista madeirense de passagem de férias por Lisboa dizia que na Madeira não querem refugiados porque são terroristas. Era este o tom de muitas intervenções de "populares" em directo na televisão, é este o povo do meu país, não somos todos assim, mas somos muitos.

Percebo agora porque é que o primeiro-ministro e o Presidente foram tão poupados nas manifestações de solidariedade, limitando-se "aos meus sentimentos em comunicado de imprensa", era para não dar nas vistas, para que os terroristas se dediquem a atacar a França e outros países. Este é o povo que foi a favor e votou em mais austeridade porque se aplica apenas a alguns e pimenta no rabo dos outros até sabe a refresco, este é o povo que vota Portas, Passos e Cavaco.

 Portugal vai-se afirmando na Europa...

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Valia a pena reler alguns artigos dos nossos jornais sobre os terroristas portugueses do DAESH, principalmente no Expresso. OS terroristas eram apresentados como heróis românticos, passavam uma imagem idílica da guerra, viviam em luxuosos apartamentos e iam combatiam com horário de trabalho.

Não eram bandidos, eram trabalhadores empenhados, que constituíam família e que à noite regressavam do campo de batalha para irem com a esposa comprar as doçarias europeias. As armas eram novas, brilhantes e limpinhas, porque a guerra dos nossos heróis é como nos filmes. Foi essa a mensagem que os nossos jornalistas deram de terroristas, só porque os terroristas portugueses mereciam o tratamento de heróis.

Nesses artigos não se falava dos donos das casas que foram mortos, que fugiram e que provavelmente morreram junto à costa grega, nada se dizia sobre os sírias que eram mortos por estes sacanas e daquilo que na verdade fazem na Síria. A imagem era de verdadeiros heróis.

Esses jornalistas devem estar felizes, têm agora um herói sobre quem falar, podem escrever sobre os brinquedos de infância, entrevistar o professor primário, fotografar o jardim de infância, falar do amor da avó que vive numa aldeia portuguesa. OS nossos terroristas são melhores do que os dos outros.

 Lembram-se do Teatro Dubrovka?

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Muita gente já se esqueceu, compreende-se, se já se esqueceram dos atentados do DAESH em Beirute ainda na semana passada, porque nos havemos de lembrar do ataque realizado por terroristas tchetchenos. Lembra-mo-nos bem das Twin Towers, de Atocha, do Charlie e de Paris. Mas ninguém deu grande importância às dezenas de atentados dos extremistas tchetchenos em Moscovo e no caso do teatro Dubrovka foram mais os que criticaram Putin pela forma como tentou libertar os reféns dos que os que denunciaram o terrorista.

A razão é simples, os inimigos dos nossos inimigos são nossos amigos, os adversários de Putin são democratas e libertadores. Nesse tempo os terroristas tchetchenos eram recebidos na Europa Ocidental como democratas e forças de libertação. Agora que pertencem ao ISIS e os seus parceiros atacam o Ocidente já são terroristas. Agora só resta esperar que se vinguem dos atentados em Paris e desatem a atacar xiitas, palestinianos e curdos.
  
 Não demoraram

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Já aqui tinha feito a previsão, a nossa extrema-direita chique do Observador não ia resistir à tentação de capitalizar qualquer coisa com os mais de cem mortos em Paris. Um nojo.

O que é que o nosso centro, que não é certamente a maralha do Portas e do Passos,  tem que ver com Paris?

      
 O que Passos não quer
   
«Estava a transformar-se num autêntico mistério, mas na quinta-feira ficou tudo um bocadinho mais claro. É que desde a queda do governo ainda não se tinha percebido o que a PAF queria. Até esse momento, podia imaginar-se que existia uma esperança de o PS nada conseguir com o BE e o PCP e o programa de governo passar no Parlamento. Depois da rejeição acentuou-se a conversa da ilegitimidade, da quebra duma imaginária tradição que obrigaria um partido a votar num sentido mesmo que não o quisesse fazer, de críticas ao acordo entre os partidos das esquerdas e aos insólitos comentários do género "fraude", "golpada", "reviralho" - o primeiro-ministro não sabe, mas ser do reviralho era ser contra a ditadura - "gerigonça" e disparates similares. Estes dislates não seriam graves se viessem dum qualquer jotinha com vontade de dar nas vistas ou dum qualquer cristão-novo ansioso por agradar, mas da boca dum primeiro-ministro são verdadeiramente lamentáveis, vergonhosos mesmo.

Ora, ouvia-se isso tudo mas soluções para a o futuro nada. O que quereria a PAF ? Ficar num governo de gestão? Um de iniciativa presidencial? Obrigar os partidos das esquerdas a assinar um acordo do agrado da PAF? Afinal, quer eleições antecipadas, e para isso queria abrir um processo tendente a uma revisão constitucional extraordinária.

É essa a solução preconizada.

Vamos, num primeiro momento, tentar levar a proposta a sério - e nem gastemos tempo a explicar que para termos uma revisão no sentido de podermos ter eleições todos os meses seria necessária a aprovação do PS e tudo o que isso implicaria. Assim sendo, Passos Coelho queria, num momento muito complicado para o país, parar a governação, iniciar um processo - sempre demorado - para tentar atingir um objetivo que não conseguiu há um mês, fazer implodir um princípio que serve justamente para impedir o desrespeito pela representação parlamentar, ou seja, para que se façam eleições até que se tenha o resultado desejado desprezando o papel que os deputados devem desempenhar.

Que Passos Coelho passou os últimos quatro anos a desprezar a lei fundamental já sabíamos, que atinja estes limites é que seria praticamente inimaginável. Passos Coelho não se importa de utilizar a Constituição como qualquer outro instrumento da luta político-partidária. Como bem salientava o ex-juiz do Tribunal Constitucional e militante do PSD, Paulo Mota Pinto, "a revisão constitucional não deve ser usada como arma na luta político-partidária quotidiana nem deve ser feita a reboque de uma situação ou caso concretos".

Sim, é grave que um político com as responsabilidades de Passos Coelho brinque daquela maneira com a Constituição, e a brincadeira tem ainda outra dimensão: o primeiro-ministro quer impedir a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais.

É evidente que sabendo que seria impossível rever a Constituição neste momento, Passos Coelho indica que quer eleições no mais breve espaço de tempo e, sabemos todos, que teria de ser o próximo Presidente da República a marcá-las. Quer, no fundo, definir as condições do apoio da PAF: apoiam quem lhes garantir essa marcação. Ora, Passos Coelho não ignora que a melhor maneira de um candidato do centro-direita perder é garantir que marca as eleições logo que os prazos constitucionais lhe permitam: basta verificar os resultados das legislativas. Ao pedir, indiretamente, a Marcelo que diga se dissolverá a Assembleia da República ou não - coisa que Marcelo nunca fará, sobretudo porque é impossível saber o que o futuro nos reserva e porque é um homem de Estado - quer colá-lo à atual bipolarização que, obviamente, lhe retiraria muitas das suas hipóteses e escancaria a porta para um candidato de esquerda.

Passos Coelho não se importa de perder a única possibilidade de ter alguém de centro-direita na Presidência da República, alguém que seria mais sensível a qualquer, digamos, distúrbio esquerdista. O que Passos não quer é que Marcelo Rebelo de Sousa seja Presidente da República.

Com Marcelo em Belém, o papel de líder do espaço político à direita que Passos Coelho tem desempenhado ficaria em causa. Mas, mais que tudo, ficaria claro que o centro-direita pode ter outro caminho que não o seguido nestes últimos quatro anos. O que Passos e a sua entourage não querem é que a liderança do centro-direita passe para Marcelo Rebelo de Sousa e o que isso significaria de contributo para a alteração da atual linha do PSD. Os sociais-democratas, neste momento, estão diluídos na PAF, que é um movimento de direita que nada tem que ver com a história do PSD e os seus valores.

Passos Coelho pode perder o governo, mas não quer perder o lugar de líder do seu espaço político e de moldar esse espaço às suas convicções, mesmo que altere radicalmente o PSD, mesmo que entregue a Presidência à esquerda.

Nota: a crónica em cima era para ser sobre os atentados de sexta-feira em Paris. Não é, porque só me ocorrem pensamentos de vingança, de necessidade de irmos para a guerra, de os destruirmos antes que nos destruam a nós. Não é, porque os ataques foram demasiado próximos de mim, da minha família, dos meus valores, da minha terra - e, sim, Paris é também a minha terra. Não é, porque, neste momento, não sou capaz.» [DN]
   
Autor:

Pedro Marques Lopes.

   
   
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