terça-feira, janeiro 12, 2016

A economia social

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O país pode estar de rastos, a economia pode ter borregado, os quadros qualificados podem estar em fuga forçada para países onde são tratados normalmente e não como mulas fiscais, mas há um sector florescente, é o da bondade, da caridade, dos subsídios do Estado para boas causas, das fundações de gente bondosa, das santas casas e de outras coisas mais ou menos santificadas ou pelo menos beatificadas, a economia real afunda-se mas a economia social está florescente.
  
Em torno da podridão da miséria as ONG, fundações bondosas santa iniciativas e outras manifestações de gente voluntariosa e desinteressada floresce, entre anúncios ao Calcitrim as nossas apresentadoras criam iniciativas e Popotas, o pessoal da democracia representativa cria muitas ONG que dão apoio desde aos velhinhos aos gatos que infestam a escola da minha rua.

É tudo boa gente, tudo iniciativas que devemos apoiar todos os sábados de manhã quando vamos ao super, tudo gente cuja bondade não tem limites, cidadãos dedicados e desinteressados que gerem honestamente os cada vez mais milhões ou mesmo centenas de milhões, dinheiro tão em gasto que é pecado questionarmos se foi em gasto ou sugerir que se façam auditorias. Não raras vezes esta bondade é genética e vemos famílias inteiras deixarem de ter uma vida de interesse para se dedicarem coletivamente a uma causa, entregando-se por inteiro a uma ONG.
  
Esta economia social não só está florescente como começa a querer estar por detrás do poder, mas podemos estar descansados que não e com o intuito de conseguirem mais recursos públicos ou para assegurar que se faça vista grossa sobre os seus negócios. É para garantir que a imensa bondade, honestidade e competência irradie a partir deste oásis nacional para o exercício da política. Mas os senhores da economia social já não se limitam a dar o seu exemplo, sustentam partidos, apoiam políticos bondosos, têm candidatos para presidirem à AR e até apoiam candidaturas presidenciais com os seus padres do regime e as estruturas das suas antas casas, nalguns casos apoiadas por poderosos orçamentos publicitários que garantem a boa imprensa de todos os seus patrocinadores e patrocinados.
  
Num país onde os jovens fogem e os que ficam não se reproduzem os velhos estão sendo transformados em tropas de choque de políticos manhosos, nas eleições é raro ver um político numa escola porque os jovens não votam e são escassos, a campanha faz-se nos lares da terceira idade. É aí que se ganham as eleições para as juntas de freguesia como a minha, que depois organiza excursões a Fátima para a agradecer à santinha os favores eleitorais, é aí que se conseguem deputados e até se podem ganhar as presidenciais, é aí que está a diferença de votos, os tais 4 ou 5% que podem fazer a diferença. Não admira que em todas as eleições apareçam candidatos especializados em dar beijinhos a velhinhos arregimentados por esse imenso polvo que começa a dominar a política portuguesa.
  
Mas podemos estar descansados porque com essa economia social a escolher autarcas, deputados, ministros e presidentes, a patrocinar partidos e políticos defensores da doutrina social da Igreja e imbuídos de uma imensa bondade o país vai ser um paraíso. Não admira que haja quem ande a fazer campanha com um roteiro das santas casas e aposte nesse franciscanismo político que tende a dominar a política portuguesa, a ter os seus candidatos a primeiro-ministro e a presidente.