segunda-feira, janeiro 18, 2016

Portugueses sem direitos políticos por falta de currículo profissional na política?

 photo _Maio_zps3ys6l7fx.jpg
Onde estavas em Maio de 1968?

Ao ouvir Maria de Belém dizer que esteve em todas as lutas, sugerindo que tem um direito natural ao voto dos eleitores da esquerda, chego a pensar se não seria melhor eliminar a primeira volta das eleições presidenciais substituindo-a por um concurso de avaliação curricular, passaria à fase dos votos o candidato da esquerda e da direita que tivessem mais medalha conseguidas nas muitas barricadas por onde passaram.
  
Pela forma como ouvi Maria de Belém dizer que esteve na Fonte Luminosa, eu que não estive, fiquei com a impressão de que aquilo deve ter sido algo parecido ao desembarque na Normandia, onde os que lá estiveram correram grandes riscos. Como eu não estive devo sentir-me diminuído nos meus direitos políticos e auto excluir-me de cargos políticos que devem estar reservados para quem tem o peito cheio de medalhas.
  
Para políticos como Maria de Belém ir a uma manifestação, assinar um projecto de lei, defender uma determinada causa é uma grande luta e todos os que tiveram um percurso profissional que não passe pelas cadeiras governamentais ou parlamentares ficam diminuídos porque não participaram em todas as lutas. 
  
Conheço pais que se sacrificaram e abdicaram de tudo para que os seus filhos estudassem e rompessem o cerco da pobreza e interrogo-me se isso não foi uma grande luta. Poderia dar muitos exemplos, de pais, de profissionais, de portugueses que não vivendo no meio do estrelato político da capital nunca irão ser agraciados com uma comenda, nunca estarão num banquete em Belém, muitos também participaram em lutas políticas, mas fizeram-no de forma anónima, sem direito a salário e nalguns casos correram riscos ou sem a protecção dos partidos foram penalizados nas suas carreiras.

Mas pelo que ouço de Maria de Belém para se ter determinados direitos políticos tem de se fazer prova de que se esteve nas lutas em que ela esteve e do seu lado pois é o lado certo. Todos os outros portugueses devem sentir-se diminuídos nos seus direitos políticos. Parece que agora o debate político deixa de ser um debate de ideias para passar a ser uma avaliação curricular que deve obedecer aos critérios definidos de forma a favorecer alguém.
  
Marcelo tenta diminuir os outros candidatos dizendo que não importa o troca tintas que é mas sim o facto de o mesmo troca tintas já o ser há muito tempo. Maria de Belém defende que é uma grande lutadora porque foi a uma manifestação na Fonte Luminosa e porque desde então esteve em muitas lutas no âmbito de uma profissão onde se faz sucesso por se estar do lado certo ou por laços de compadrio político. Num país onde tanto se fala da necessidade de trazer gente para a política os políticos instalados defendem agora que há cidadãos de primeira e cidadãos de segunda, sendo eles os de primeira. 
 
Maria de Belém nasceu em 1949 pelo que em 1976, quando aderiu ao PS teria 27 anos, fará sentido perguntar-lhe porque é que só aderiu às grandes batalhas em democracia? É evidente que não, mas apetece fazê-lo, porue uma coisa é lutar correndo riscos, outra é estar sempre do loado certo sendo pago ara isso pois, por definição, todos os políticos estão sempre do lado que eles consideram os certos.