sábado, janeiro 16, 2016

Vamos "gramar" com outro presidente da direita?

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Se Marcelo chegar a Presidente da República não o deve à direita, nem às televisões, deve-o ao PS e a toda a esquerda, da mesma forma que o país teve de “gramar” com Cavaco Silva porque a vaidade de um senhor do PS impediu que surgisse qualquer candidatura. É fácil ser dirigente, deputado ou autarca de um grande partido, o emprego é certo, as mordomias são muitas, o ambiente é agradável e o trabalho não faz grandes calos. O difícil é apanhar com cortes de vencimentos e aumentos brutais de impostos, aturar um presidente que se marimba na Constituição ser alvo de todas as injustiças porque aqueles que deviam lutar pela justiça anda em lutas de gangues motivadas pela vaidade ou por interesses de grupos.
  
Poder-se-ia dizer que dentro do PS há grandes divisões ideológicas, que há uma ala direita e uma da esquerda, mas o percurso de Manuel Alegre mostra o contrário, mostra que para muitos as vaidades e os laços de compadrio estão acima de questões ideológicas. Durante anos Alegre andou a unir a esquerda mais radical contra o PS, agora junta-se à ala direita e apoia uma Maria de Belém que parece ser do CDS. Para muito boa gente a vaidade pessoal e os pequenos ódios são mais importantes do que tudo o mais. A própria Maria de Belém não se candidatou para ser presidente, fê-lo para dividir o seu partido e personalidades como Assis estão mais empenhadas em que ela fique à frente de Sampaio da Nóvoa do que preocupadas com mais dez anos de direita na presidência.
  
Ramalho Eanes beneficiou da divisão do PS e foi essa divisão que acabou por levar Cavaco Silva ao poder, o mesmo Cavaco que depois de ter perdido a corrida presidencial contra Jorge Sampaio acabou por ser o pior presidente da nossa história depois de lá ter chegado com a ajuda preciosa de Manuel Alegre. Agora, mais uma vez, o país pode ter um presidente de direita com a ajuda de um partido dividido pelas por lutas intestinas, enquanto a liderança chega ao ridículo de apoiar dois candidatos antagónicos como se as eleições presidenciais fossem para brincar às primárias.
  
Quem se vai amolar com isto não é essa nova classe da burguesia política que se formou nas grandes cidades em torno dos grandes partidos, quem vai pagar não é nem António Costa, nem o vozeirão poético e muito menos a defensora da economia social e porta-voz da doutrina social da Igreja, tudo isto irá ser pago com língua de palmo por aqueles que deixam de ter quem defenda os seus direitos constitucionais, por aqueles que em nome da competitividade são cada vez mais escravos. Depois, admirem-se de um dia destes o eleitorado da esquerda votar numa qualquer Marie Le Pen ou, quem sabe, numa qualquer Cristas inspirada em Jesus Cristo.

Uns não se candidatam a primeiro-ministro porque as mulheres não deixam, outro não querem ser treinadores porque os tachos do privado ou das organizações internacionais são mais cómodos, outros passam a vida em manifestações de vaidade e quem se lixa é o povo.

Se mais uma vez a direita conquistar a presidência à custa do PS e da hipocrisia da esquerda os eleitores de esquerda, o tal povo de esquerda de que muitos senhores falam, tem fortes motivos para reflectir sobre a sua triste sina, sobre a maldição a que estão sujeitos por causa dos políticos da esquerda e em especial do PS.