As alterações feitas pela direita na lei da interrupção voluntária da gravidez foram muito pior do que a tão propalada defesa da vida, a logica desta direita religiosa e jiahdista foi a de que poderão não conseguir revogar a lei, mas conseguirão condenar que a ela recorra. O que fizeram foi criar dois mecanismos, um de condenação social que foi a adopção de taxas moderadoras na interrupção voluntária da gravidez e uma segunda, bem mais grave, que configura um tratamento psiquiátrico forçado.
Todas as cirurgias estão isentas de taxas moderadoras e quando o governo de Sócrates tentou adoptá-las a direita opôs-se, a mesma direita que agora cria uma excepção para a interrupção voluntária da gravidez. A intenção é clara, a lei penal não é a sharia tão desejada pelos nossos fundamentalistas católicos, mas a IVG deve ser condenada socialmente e a forma de o fazer é cobrar a taxa moderadora. Pretendiam ir ainda mais longe, obrigando as mulheres a assinar a ecografia, como se com isso estivessem a assinar uma condenação à morte.
Mas não bastava esta lógica extremista, era preciso ir mais longe, não bastando condenar é preciso que a mulher se sinta uma condenada e decidiram criar obstáculos burocráticos e, bem mais grave, forçar a mulher a uma consulta não desejada para se aconselhar sobre o que não pediu conselho. Forçar alguém que está em sofrimento a ouvir alguém que muito provavelmente está empenhado em forçar a mulher a mudar de opinião não difere em nada de uma lavagem ao cérebro, é aplicar neste domínio a lógica dos hospitais psiquiátricos de Estaline.
Nenhuma das alterações feitas à lei são aceitáveis numa moderna democracia ocidental, o que se fez foi introduzir o ódio jihadista na lei, os que são contra a IVG e a consideram mum crime com base nos seus valores religiosos introduziram na lei uma condenação psicológica e social em substituição da velha condenação penal. Não estamos perante um debate democrático, mas sim por uma luta contra uma forma de jihadismo em que uns tentam condenar outros com base nas suas convicções religiosas.
Aceita-se que um presidente da República, que nos tempos que correm só tem direito a letra pequena, tenha as suas convicções religiosas, mais liberais ou mais extremista. Mas ele não foi nomeado por nenhuma conferência de cardeais e muito menos para defender as interpretações extremistas de qualquer livro divino, seja a Bíblia ou o Corão. Foi eleito para cumprir e fazer cumprir a Constituição o que não fez de forma sistemática, sendo ridículo que agora esteja tão emprenhado em defender outos valores que não são os constitucionais.
Cavaco tem todo o direito às suas convicções religiosas mas no desempenho do cargo político num estado democrático e laico deve abster-se de decidir em função de valores que são os seus e que não devem condicionar a vida políticas e muito menos ara condicionar a vida e a saúde psicológicas daqueles que sem cometer qualquer ilegalidade fazem opções e toma decisões de que discordamos. Há uma grande diferença entre um presidente que pensa em função da sociedade e um jihadista que pensa e decide em função das suas convicções religiosas, como se estas fossem superiores à dos outros.