Marcelo na Praia do Gigi
Marcelo tem-se comportado nestas presidenciais, que pare ele começaram há mais de dois anos, de forma a inventar uma personagem, toda ela feita de qualidades. Marcelo é o oposto de Cavaco, Marcelo defende a unidade, Marcelo é mais à esquerda do que Passos Coelho, Marcelo não conhece Paulo Portas, Marcelo gosta de António Costa, Marcelo acarinhará os governos e até tratará com especial carinho o actual governo. Marcelo é a direita boa, a direita dos bons princípios, a direita inteligente.
Com um país farto de Cavaco Marcelo tenta passar uma imagem onde em vez dos defeitos de Cavaco estão as suas virtudes. Se Cavaco odeia a esquerda Marcelo até parece ser de esquerda, se Cavaco é de direita Marcelo é tanto de direita como é de esquerda, se for preciso ainda vai à Festa do Avante e janta com a Catarina Martins, se Cavaco é um grunho de Boliqueime, Marcelo é da melhor nata do Estoril. Aliás, este desprezo pelo saloio é uma característica de uma elite a que Luís Filipe Menezes um dia designou gente “sulista, elitista e liberal” e a que muitos de nós designamos de betinhos. Gente fina que diz que os amigos são lélés da cuca e outros adjectivos pertencente ao jargão dos palacetes da linha.
Só que com apenas dois debates Marcelo mostrou o que e quem é, Marcelo não é mais nem menos do que um Cavaco da Linha do Estoril. O Marcelo que contou os assessores de Sampaio ou que criticou o facto de Maria de Belém usar um livro de notas é uma personagem pequena e mesquinha, O Marcelo que usa a sua posição de vantagem nas televisões e tenta apagar os adversários sugerindo que não devem gastar um euro na campanha é uma personagem manhosa, o Marcelo que foge de Passos como o Diabo foge da cruz é o Cavaco que levou Santana Lopes para o governo e mais tarde chamou-lhe má moeda.
Os debates mostraram um candidato sem grandeza, que se agarra a coisas menores para tentar desvalorizar os adversários, que se socorre de truques manhosos. Portugal vai ter um presidente que anda a contar quantas pessoas vão com o adversário a um debate para o amesquinhar? Vai escolher alguém que desvaloriza intelectualmente um adversário por usar um caderno? Vai confira numa personagem que usa o engano numa data para chamar mentirosa à sua adversária?
Nestes dois debates desapareceu o Marcelo da TVI, esse era um Marcelo postiço que brilhava dando respostas a perguntas combinadas, que tinha na sua frente uma jornalista cujo papel era fazer caras de espanto com o brilhantismo intelectual de Marcelo. Sem truques e encenações Marcelo é um político vulgar, mesquinho, de valores duvidosos e pouco confiável, é um Cavaco da Linha do Estoril.
Tal como Cavaco Marcelo é Mesquinho, tal como Cavaco Marcelo dá-se mal com o debate em condições de igualdade, tal como Cavaco Marcelo sente-se superior a tudo e a todos. Marcelo é um saloio da Linha do Estoril, alguém que despreza os seus pares, que não hesita em traí-los, alguém cujos horizontes se esgotam no seu umbigo.