quinta-feira, janeiro 14, 2016

Uma campanha pobre

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Estando em causa mais uma personalidade em cujos valores e comportamentos o país espera confiar nas eleições presidenciais somo mais exigentes para com os candidatos. Exigimos muito mais a um Presidente da República do que o fazemos com um deputado ou com um autarca, é esta a cultura da República onde o Presidente é o seu mais alto magistrado. Não se trata de uma eleição qualquer, trata-se de uma eleição onde esperamos que um cidadão como todos nós esteja à altura do cargo, por oposição à figura do Rei.
  
Mas se avaliarmos estas eleições com esta grelha temos de concluir que não têm sido grande coisa, aliás, desde as primeiras eleições ganhas por Cavaco Silva que esta tendência tem sido evidente. E desta vez as coisas desceram muito, com o argumento da igualdade temos de fazer de conta que o Tino de Rãs merece tanto a nossa atenção como o Marcelo, ou que temos que ouvir Henrique Neto com o mesmo cuidado com que ouvimos Sampaio da Nóvoa. Andamos todos a brincar às presidenciais fazendo de conta que todos os candidatos são iguais quando temos de tudo um pouco, desde uma trintona que acha que entre presidenciais e concursos de beleza não há grande diferença, um artista de realitys shows à espera de vigr a ganhar uns trocos com presenças em bares de alterne, um empresário que se dedicou à fraude fiscal e um acusador público da corrupção que na hora de provar o que acusa nada prova.
  
Mas se os aspectos negativos destas presidências se ficassem pelos disparates do Tino, pela seca do Henrique Neto ou pelas gracinhas da Marisa da uma por todos já não era mau, não sendo candidatos a sério têm direito ao disparate, há pior por esse mundo fora. O mais grave é que entre os candidatos supostamente sérios a palhaçada dá lugar a outras manifestações questionáveis.
  
Convenhamos que não é muito digno vermos alguém que sempre foi da direita andar agora a saltitar da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, como se a escolha de um Presidente da República fosse a mesma coisa que comprar um sabonete, os técnicos perguntam aos potenciais compradores qual o perfume que preferem e já está, escolhe-se a fragrância, dá-se a cor mais suave e o pessoal compra o sabonete. Com Marcelo não temos um presidente, temos vários, temos um presidente que vai à Festa do Avante na Segunda-feira, um que vai jantar com o Ricardo Salgado na Terça, outro que é da direita na Quarta, da esquerda na Quinta, do centro na Sexta, que é republicano e laico no sábado e monárquico e católico na missa dominical. Incoerente? Não, ao menos sabemos quem é Marcelo, é aquela coisa.
  
E se Marcelo anda a vender peixe à esquerda e foge dos seus como se tivessem lepra, Maria de Belém não se cansa de dizer que é de esquerda ao mesmo tempo que faz uma campanha que não seria muito diferente de uma campanha de Paulo Portas. De manhã vai a hospitais, à tarde vai à Santa Casa, de manhã diz que o seu programa é a Constituição, à tarde o programa é a doutrina social da Igreja.

Se a relação de Marcelo com alguns dos seus apoiantes é um problema do foro psiquiátrico, do outro lado encontramos situações que aconselharia a que a CNE criasse um gabinete de psiquiatria. Veja-se o caso dessa santidade da cidadania que durante anos tentou unir em vários movimentos de apoio à sua imensa vaidade gente de todos os movimentos da esquerda, por oposição a um PS de direita, e agora esqueceu aqueles que juntava em celebrações rituais na Reitoria da Universidade de Lisboa para abraçar a candidata da doutrina social da Igreja e das santas casas.