Desde 2008 que alguns portugueses vivem em regime de austeridade, ainda com Sócrates foram vítimas de um corte arbitrário do vencimento. Passos agravou a situação, aumentou e consolidou os cortes, reduziu os rendimentos recorrendo aos mais diversos truques e a sua orgia de ódio aos funcionários públicos ficou completa com a condenação pública, acusando-os de serem uma mera despesa.
A perseguição de Passos aos que considerara estarem a mais no país alargou-se aos pensionistas, aos jovens qualificados e, por fim, a todos os que vivem de rendimentos do trabalho. Os funcionários públicos foram condenados a ganhar cada vez menos, a vivem permanentemente com medo e sob ameaça de personagens ridículas como Passos, Vítor Gaspar, Maria Luís Albuquerque, Paulo portas e mais alguns sacanas.
Hoje já me considero um veterano da austeridade, mas o pior do que nos sucedeu talvez não tenha sido a perda de rendimentos, foi o ambiente de medo, a condenação social, a redução da condição de trabalhador a uma despesa pública ou a um custo para os empresários, a perda do direito a negociar cortes de vencimentos ou de horários de trabalho, face a um governo com mais poderes do que os de Pinochet.
Há quase dez anos que muita gente perdeu o direito a ver o seu vencimento actualizado como se isso fosse um crime, a ver os patrões a recusarem quaisquer aumentos como se as empresas tivessem como único objectivo o o lucro a distribuir pelos patrões. A Gerigonça pôs fim ao medo, á incerteza, livraram os portugueses de experiências económicas conduzidas por idiotas. Mas a verdade é que não nos devolveu a esperança.
Portugal já era um dos países mais pobres da Europa, graça a Passos passou a ser um país miserável onde quem trabalha não tem esperança. Estuda-se arquitectura para se ganhar menos que uma mulher a dias, estuda-se direito para se ser escravo de grandes advogados a troco de pouco mais do que o ordenado mínimo, a única esperança dos jovens está na emigração, a grande ambição dos trabalhadores do sector privado é não serem despedidos, os funcionários públicos foram condenados a viver sem expectativas.
2017 será o meu nono ano de austeridade e espero que cobrem impostos em vez de andarem na bola, não vá a sobretaxa ser disfarçada em 2018 de uma alteração de escalões do IRS. Mas já que parece que decretaram que Portugal vai ser um rico país cheio de pobres e já que muitos de nós continuaremos a ser mulas de austeridade, ao menos que devolvam a esperança.