sexta-feira, janeiro 27, 2017

Paulo Macedo, o BCP e a DGCI

Parece que o BCE veio dizer aquilo que era mais do que óbvio, Paulo Macedo não pode ter um vínculo ao BCP se quer ser presidente da CGD. Apenas se lamenta que em Portugal, o país onde o parlamente se une para exigir declarações de rendimentos, ninguém tenha reparado que é inaceitável que um empregado de um banco possa ser presidente de outro banco. Pior ainda, aqueles que tentaram provar que António Domingues acedia a informação da CGD quando ainda era administrador do BPI, tenham feito vista grossa à situação de Paulo Macedo, para uns por ser um dos seus, para outros porque depois de numa jogada infantil derrubarem António Domingues tiveram de engolir a Opus Dei.

Só num país com tantos hipócritas por metro quadrado é que se fez tantos debates sobre vínculos a organizações secretas (vide Opus Dei e Maçonaria), fazem-se tantas exigências de transparência a quem ganhe mais do que o salário mínimo e depois mete-se um assalariado do BCP à frente da CGD. Alguém imagina um quadro do BCP a fazer concorrência a este banco enquanto presidente do maior banco português? É óbvio que não, a qualquer momento, por um qualquer incidente, Paulo Macedo pode ter de abandonar a CGD e não gostaria de voltar ao BCP e darem-lhe um gabinete no sótão, com vista para o depósito do papel higiénico.

Só é uma pena que uma boa parte da nossa ilustre classe política, do Coelhone à Manuela Ferreira Leite, nunca tenham reparado que igual incompatibilidade existia quando Paulo Macedo era director-geral dos Impostos. Já nessa altura havia departamentos do BCP que nomeavam mais chefias do fisco do que os seus directores-gerais, eram verdadeiras mega centrais de influências. Hoje sabemos do que se passava no BCP e nos outros bancos em matéria de negócios duvidosos e de fuga ao fisco.

Mas nesse tempo o dinheiro dos bancos tinha um perfume especial, os orçamentos publicitários davam de comer a muitos jornalistas, os bancos eram excelentes lugares de recuo para políticos de baixa, nele se dava emprego aos filhos inúteis de uma boa parte dos políticos e altos dirigentes do Estado. Até aos escândalos que ficaram a nu com a crise financeira de 2008 os bancos portugueses eram as virgens da economia, era o sector económico modelo do cavaquismo, está acima de qualquer suspeita.

Hoje sabemos uma verdade muito diferente, os Anços comportaram-se como organizações criminosas, dedicaram-se a negócios duvidosos, eram centrais de evasão fiscal, a sua gestão conduziu a uma boa parte da ruína em que o país se encontra, na hora de se salvarem ajudaram a eleger um governo que promoveu a maior transferência de riqueza do trabalho para a banca. Hoje sabemos para quê os bancos tinham tantos políticos e familiares destes a viver à sua conta.

Mas foi preciso vir o BCE para dizer o óbvio, aquilo que o país não quis ver, que a promiscuidade entre interesses contraditórios é inaceitável e perigosa.