quarta-feira, janeiro 25, 2017

As virgens ideológicas da economia

Parece que aos partidos que se gostam de afirmar de uma forma mais ideológica não basta uma classificação dos cidadãos em função do seu estatuto social, também há empresas boas e más ou empresas melhores do que outras. 

Apesar de muitos anos de esforços para implementar economias sem empresas a verdade é que tal não foi conseguido, o mercado sobreviveu e muitos países comunistas acabaram por ceder à necessidade de empresas. O caso mais recente sucedeu em Cuba e a regra é chamar a esse processo de “abertura”, transformando o insucesso em simpatia.

Não admira que o PCP tenha vindo a juntar à classe operária e intelectuais uma terceira classe ideologicamente aceitáveis. A classe operária é uma espécie de ala das virgens, uma classe que ainda não foi conspurcada pelos vícios do dinheiro e por isso é a única que nos levará ao paraíso, dela sairão os sacerdotes mais aptos a ler e aplicar a escrituras. Depois vêm os intelectuais progressistas e por fim os empresários que por serem pequenos ainda conseguem passar pelo buraco da agulha.

Também a direita, em particular, o CDS tem a sua classe empresarial que exibe como modelo de virtudes, são as instituições que funcionam naquilo que agora designam por “economia social”. Nos últimos anos também se deu algum protagonismo às empresas familiares e até foi inventada uma associação empresaria, que foi muito activa enquanto durou a austeridade.

O outro lado da realidade nada tem que ver com a pureza ideológica, as micro-empresas são, muito provavelmente as que mais fogem aos impostos, que mais alimentam a economia paralela e que mais escravizam os trabalhadores. Por detrás da bondade cristã da economia social está muito trabalhão voluntário em nome da caridade e trabalhadores a serem remunerados de forma miserável.

A verdade é que o merceeiro da minha rua pratica margens absurdas, não entrega um tostão de IVA e socorre-se de trabalhadores que não legaliza. Sucede com o merceeiro e com quase todos os micro-empresários do meu bairro, portugueses, nepaleses, paquistaneses ou chineses. Os micro-empresários estão longe da pureza ideológica que a esquerda conservadora sugere. Da mesma forma anda por aí muita alma caridosa que não passam de canalhas.

Mas, independentemente do que os ideólogos alardeiam, a verdade aquilo de que o país precisa mais é de muitas grandes empresas, de grandes investimentos, de empresas que exportam e não de virgens ideológicas da economia.