sexta-feira, janeiro 20, 2017

A vez dos oportunistas

Os discursos económicos de Trump e de Theresa May não chegam a ser uma reedição teórica do velho proteccionismo, nem encontram fundamento ideológico numa direita conservadora que até agora usava as bandeiras do liberalismo e da desregulamentação. Estamos perante dois políticos sem estatura que fizeram do oportunismo a sua ideologia.

Theresa May considera que se não estiver sujeita a regras, nem tiver de suportar os custos da solidariedade consegue obter mais lucros com a existência da EU, não admire que no seu último discurso se tenha afastado de do imbecil do outro lado do charco, defendendo o sucesso da EU. O mercado europeu é fundamental para que o Reino Unido consiga vantagens em acordos comerciais com os EUA ou com as economias da Comunidade Britânica.

Theresa May quer estar nos mercados sem os pesados custos das regulamentações da concorrência ou de normas de qualidade ou ambientais. Sem constrangimentos a ajudas estatais pode concorrer nos mercados em vantagem como as economia europeia, na prática, pretende obter vantagens resultantes do dumping social e institucional.

Trump é mais primário do que Theresa May, não só parece ser mais imbecil, como conta com uma realidade social e geográfica bem diferente. O grande mercado da economia americana é a própria América e Trump está convencido de que o aumento da produção e do comércio interno vai compensar eventuais perdas no mercado mundial. Trump pretende uma nova postura proteccionista que reforce os benefícios dos EUA na renegociação dos tratados internacionais, designadamente, dos acordos comerciais. Trump está convencido de que uma postura proteccionista traz vantagens à economia americana.

Ao contrário de Theresa May que deseja ter uma Europa compradora que cresça e favoreça o crescimento britânico, Trump está mais alinhado com Putin, que prefere uma Europa desintegrada com a qual será mais fácil negociar. Trump não esconde o desejo de ver a EU desintegrar-se, as economias europeia e chinesa são as suas grandes concorrentes no mercado mundial, a China concorre com custos, a Europa com qualidade e design.

Theresa May sonha com o velho império britânico, Trump quer que o mundo volte a um tempo em que a indústria automóvel americana dominava o mercado mundial e em que não andavam aviões Airbus no céu. Ambos estão convencidos de que conseguem desviar para os seus países a riqueza gerada pela competitividade das empresas europeias e asiáticas.

Estamos perante uma nova forma de proteccionismo, um proteccionismo oportunista conduzido por políticos com fracos recursos intelectuais e apoiados pelos eleitores mais ignorantes dos seus países.