sábado, janeiro 28, 2017

O Trump está entre nós

É raro o dia que não recebo um e-mail com posições neo-fascistas, com anedotas anti-semitas, racistas ou anti-muçulmanas. Quem ainda não recebeu e-mails indignados ou vídeos sobre as famosas mesquitas da Suíça, ou imagens de muçulmanos a rezar em Moscovo?

Fomos todos nós que elegemos o Trump, foram cidadãos comuns que elegeram Trump, muitos dos que o escolheram vão ao médico graças ao Obamacare, são mexicanos ou descendentes de mexicanos, são filhos de sírios ou de iranianos, são afro-americanos. Os homens brancos racistas não conseguiriam eleger nenhum presidente americanos, da mesma forma que Hitler não chegou ao poder apenas com o voto dos fanáticos nazis.

Quantos políticos democratas escapam a e-mails maldosos? Nem um, são todos corruptos, são todos uns inúteis, nenhum teria forma de vida se não fosse a política. Político em democracia significa corrupto, gandulo, oportunista. As virtudes estão sempre do lado dos gestores, dos que por ganharem muito mais e correrem menos riscos não estão dispostos a servir o país em cargos públicos.

Ligo as televisões e só vejo gente a destruir a democracia, se ligo para a SIC Notícias tenho um Jorge Ferreira que não estudou uma cadeira de economia, escrevendo livros a dizer como se salvaria a economia portuguesa e a desancar permanentemente nos políticos, principalmente se não forem muito à direita. Ligo para a TVI e temos uma sessão semanal de difamação da democracia e dos políticos conduzida por um Medina, filho de um colonialista que desencadeou a guerra na Guiné, mas que não se cansa de exibir a meia dúzia de meses que em má hora foi ministro das Finanças. Tal como o Jorge Ferreira estudou tanto política económica como eu me especializei em lagares de azeite.

Em Portugal fica bem na fotografia quem fala mal da democracia e dos políticos democráticos, têm sucesso o discurso político do Medina, do Jorge Ferreira, do Marinho pinto e de outros, não pelo valor do que dizem, não pelo exemplo que dão nos cargos, unicamente porque atacam os políticos.

Não vale a pena falar mal da democracia e do Trump à tarde, ser anti-muçulmano em privado e à tarde mandar e-mails com fotografias de muçulmanos a rezar em Moscovo, afirmar valores de igualdade em público e contar anedotas de gays à tarde. Somo o país em que o PSD de Santana Lopes produziu cartazes com insinuações sobre a vida privada do adversário, o mesmo país onde um ministro de Cavaco se divertia contando anedotas com judeus e cinzeiros. Temos muitos que são democratas em público e trumpetes em privado.