quarta-feira, janeiro 11, 2017

Umas no cravo e outras na ferradura




 Jumento do Dia

   
João Miguel Tavares, jornalista ignorante em história

Num artigo interessante João Miguel Tavares explica que o Soares que ele não conheceu não foi o melhor Soares, é um artigo que faz lembrar os que só conheceram Eusébio quando o pantera Negra foi jogar para o Beira-Mar.

O jornalista queixa-se de só ter conhecido o Soares que defendeu Sócrates, eu tive a sorte de ter o conhecido o Mário Soares que quando Leonor Beleza era perseguida politica e judicialmente por causa do problema com os hemofílicos veio em sua defesa. Soares não defendeu apenas Sócrates e Beleza, defendeu também muitos políticos nos tribunais plenários. Talvez JMT considere loucura defender Sócrates, eu considero coragem lutar contra a corrente e defender quem se pensa e considera estar inocente.

JMT só conheceu o Mário Soares que na Aula Magna protestou contra a austeridade. Teve azar, se tivesse conhecido o primeiro-ministro que aplicou programas do FMI teria conhecido um governante sem agendas ocultas, sem revisões secretas de memorandos, sem personagens pardas e cujo ministro das Finanças não fugiu para um gabinete em Washington.

JMT só viu Soares defender Chavez, é pena que as vistas seja historicamente tão curtas, senão perceberia porque razão Soares era odiado em países como Angola, ou como defendeu muitos outros políticos, como Nelson Mandela. Se recuasse uns anos teria visto Soares a apoiar Humberto Delgado, ou a defender a família do general quando este foi assassinado pela PIDE, teria também visto Soares a entrar em rotura com o PCP por apoiar o General norton de Matos.

Ainda bem que JMT é novo e só conheceu o  lado que ele considera mau. É também pena que seja jornalista, que comente o presente e ignore o passado. Se fosse historiador ou, pelo menos, um cidadão interessado em conhecer melhor o seu país, teria conhecido melhor Mário Soares e quando pegava na caneta para se armar em bom teria mais respeitou por aquele que ele só teve a oportunidade de criticar da forma mais violenta que podia, como se estivesse escrevendo sobre um velho senil e maluco.

Enfim, é uma pena que alguns jornalistas sejam como os velhos guardas das passagens de linha e ande aí só para ver os comboios que passam. É uma pena, porque assim confunde coragem com senilidade, frontalidade com loucura.

 Duas dúvidas em relação à PGR

Recordo-me de em tempos alguém ter anunciado que a Procuradoria-Geral da República iria acompanhar os processos de privatização, sendo de esperar que nesse conceito se inclua a estranha venda do Novo Banco. Muito mais recentemente, quando foi publicado o livro da alcoviteira de Belém o MP anunciou que iria investigar as violações do segredo de justiça claramente assumidas no livro.

Terei deixado escapar alguma notícia ou a PGR nunca mais se pronunciou sobre estes dois assuntos muito interessantes?


 O grande político que os uniu

Só um grande político conseguiria unir portugueses que se juntaram apenas em torno da sua homenagem, conseguiu unir os colonialistas mais empedernidos que o acusaram de entregar as colónias aos colonizados que o acusam de negócios com a UNITA. Conseguiu unir a extrema direita que o acusa de pisar a bandeira à extrema-esquerda que o acusa de receber benesses do regime fascista.

 Cartoon de André Carrilho (DN): "Adeus Soares"



      
 A necessidade de nacionalizar o Novo Banco
   
«Dois anos passados desde a resolução do BES, a nacionalização do Novo Banco parece ser mesmo a opção que menos penaliza os contribuintes e, sobretudo, é a única que permite criar o espaço espaço necessário para resolver os problemas de rentabilidade e sustentabilidade do sistema financeiro português. Não se nacionaliza para adiar uma perda e adiar o reconhecimento do problema. Nacionaliza-se com o objetivo de criar as condições para, no futuro, poder atrair capital privado de qualidade para investir no sector financeiro português. 

Antes do mais, importa perceber como aqui chegámos. Todos nos recordamos do que foi sendo dito sobre a resolução do BES: tratava-se de uma operação sem custos para os contribuintes e era a que melhor preservava a estabilidade do sector; e o BES tinha sido dividido em dois, sendo o Novo Banco um banco limpo de todos os ativos tóxicos, plenamente capitalizado e com elevado valor, o que facilitava a venda futura. Nada disto era verdade.

Os 4.9 mil milhões de euros em capital injetados pelo Fundo de Resolução representam cerca do dobro da capitalização bolsista de todo o sistema bancário nacional. Se este montante fosse imediatamente assumido pelo sector financeiro português, dificilmente os bancos sobreviveriam. Por essa razão, a injeção de capital por parte do Fundo de Resolução, apesar de teoricamente assegurada pelo próprio sector financeiro, teve de ser feita quase inteiramente pelo Estado. Isto aconteceu porque o fundo não estava capitalizado e, sobretudo, porque nunca poderia ser devidamente capitalizado pelo sistema financeiro, a não ser a longuíssimo prazo. Na prática, para o bem e para o mal, o Novo Banco já foi nacionalizado, porque é um banco de transição que é responsabilidade pública desde 3 de agosto de 2014.

Por outro lado, importa dizer que a resolução foi mal feita, porque, ao contrário do que foi várias vezes afirmado, o Novo Banco não se tornou num banco limpo e rentável, pronto a ser vendido. Saíram os ativos relacionados com o GES, mas ficaram todos os outros, sobretudo os NPLs, (non-performing loans ou ativos não-performantes) que penalizam fortemente a rentabilidade do banco, restringem a capacidade de concessão de crédito (em quantidade e em preço) e consomem capital, que já é escasso. Ser o banco das PMEs e das empresas portuguesas é simultaneamente um dos maiores problemas do balanço Novo Banco - porque os problemas financeiros das empresas portuguesas são, também, problemas financeiros dos bancos - e um dos seus maiores e mais valiosos ativos. 

Em 2015, pouco antes das eleições legislativas, a discussão era se o Novo Banco valia 3 ou 4 mil milhões de euros, havendo até quem, como Marques Mendes, assegurasse que valia bem mais do que isso e que a venda seria um estrondoso sucesso. Mais do que limpa, seria uma saída imaculada. Poucos meses depois, mais concretamente a 30 de dezembro de 2015, o Novo Banco, em vez de ser vendido, foi recapitalizado em cerca de 2 mil milhões de euros, via bail-in de credores seniores. A resolução imaculada revelava-se, afinal, um logro e representou uma pesada fatura para a dívida pública portuguesa e para a capacidade de financiamento do país. Os juros da dívida pública dispararam após essa operação, o spread face à restante periferia agravou-se fortemente e, até ver, de forma permanente.

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Passados cerca de dois anos e meio, e 6.9 mil milhões de euros de capital depois, a venda imediata do Novo Banco parece a pior de todas as opções, porque não foram criadas as condições para que haja uma venda sem ser fortemente subsidiada pelo Estado. A melhor oferta implica que o Estado pague cerca de 1750 milhões de euros para que um fundo de private equity fique com o terceiro maior banco do país. Esta operação, para além de implicar custos imediatos para os contribuintes, que iriam integralmente ao défice, teria graves custos económicos, porque um fundo de private equity não tem como uma das suas prioridades a gestão de um banco e a valorização das suas relações com as empresas portuguesas; antes compra barato e tenta recuperar o capital investido rapidamente, provavelmente desmantelando o banco e tentando maximizar a utilização da garantia pública, cuja probabilidade de execução, no caso da venda se concretizar, rondaria os 100%.

A nacionalização tem dois grandes benefícios. O primeiro é que permite normalizar a situação do banco, retirando-lhe estatuto de banco de transição. Um banco com um prazo para ser vendido não é bem um banco, nem nunca poderá ser bem vendido sem enormes subsídios por parte do vendedor. O segundo, muito mais importante, é que permite olhar o verdadeiro problema do sistema bancário nacional - a qualidade dos seus ativos, a sua rentabilidade e a viabilidade do seu modelo de negócio - e procurar uma solução sistémica, bem menos custosa, e muito mais eficaz, do que uma solução banco a banco. A falta de qualidade de todas as ofertas de compra conhecidas é, aliás, a maior demonstração que o problema está a ser colocado pela ordem inversa: primeiro é necessário resolver problema do mal parado, qualidade do balanço e rentabilidade do banco, e só depois vender.

As propostas existentes para a venda imediata do Novo Banco mostram que os riscos que muitos dizem estar associados à nacionalização do banco já são uma realidade hoje, e já são dos contribuintes. A nacionalização, face aos custos de uma venda com garantia pública, não cria novos custos, limita-se a assumir plenamente os custos que já existem, e existirão sempre, e permite ganhar tempo para criar as condições para reestruturar o balanço e rentabilizar o banco. Em vez de subsidiar uma venda a todos os títulos ruinosa, procure-se uma solução que tenha como objetivo limpar o sistema de NPLs que põem em causa rentabilidade do sector e a sua viabilidade. Sem isto acontecer previamente, é muito difícil atrair capital de qualidade para investir no sistema financeiro português, incluindo, como é óbvio no Novo Banco. E os mercados, os tais que se poderiam assustar com a nacionalização, são os primeiros a saber que assim é.» [Público]
   
Autor:

João Galamba.