sábado, janeiro 21, 2017

Lições de Trump

Trump é presidente, os americanos votaram nele, o país da ciência, o país das grandes universidades, o país do cinema, o país de Ernest Hemingway, escolheu um imbecil para o governar. Muitas mulheres que ele ofendeu votaram nele, muitos mexicanos e afro-americanos votaram nele, muitos universitários e cientistas votaram nele e nenhum deles votou por engano, escolheram conscientemente Trump, queriam-no para seu presidente.

Desiludam-se os que julgam que votaram Trump por não gostarem de Clinton, votaram em Trump porque gostam dele, porque querem as suas ideias à frente da América, votaram nele porque querem uma América egoísta que enriqueça mais, enquanto outros empobrecem. A ideia de que os povos são bons e escolhem o melhor para todos é mentira, os americanos votaram na América contra o mundo, a começar pelos seus vizinhos mais próximos, o México e o Canadá, da mesma forma que os britânicos votaram Brexit para ficarem melhor que os europeus e à custa deles.

Os americanos votaram Trump, tal como os britânicos votaram nas ideias da extrema-direita, votaram com o mesmo egoísmo com que os alemães aplaudiram Hitler quando este invadiu a França. É mentira que os povos façam sempre boas escolhas e que têm sempre razão. Os americanos votaram Trump da mesma forma que muitos velhos comunistas franceses votam agora em Le Pen, e um dia os portugueses poderão votar num qualquer populista de ocasião, ainda recentemente um espertalhão vindo da advocacia tinha 17% de intenções de voto.

As ideias de Trump são loucas? São, mas as da Catarina Martins não são muito melhores e muitos portugueses votam nela ou em projectos parecidos. Se somarmos os votos nos diversos populismos que por cá temos são votos suficientes para construir um grande partido. Quando a AD ganhou as eleições Freitas do Amaral dizia que os pobres tinham votado na direita, os mesmos pobres a quem João Soares deu casa e votaram em Santana Lopes para a CML, ou os que recebem subsídios do Estado e votam nos partidos que anunciam cortes no rendimento mínimo.

Trump ganhou e não tardará muito para que a direita o elogie, começaram por gozar com ele, depois justificaram a vitória, criticaram Clinton, já criticam os que por cá criticam Trump, brevemente os opinion makers da direita vão assegurar que já gostavam de Trump desde pequeninos, desde que a mulher de Nixon lhe escreve dizendo que o marido achava que ele seria um dia presidente. A direita portuguesa já foi germanófila com a mesma convicção com que foi apoiante dos aliados, apoiou a invasão da França com o mesmo entusiasmo com que apoiou a invasão do Iraque, vai apoiar Trump com o mesmo empenho com que apoiou Bush.