sexta-feira, março 23, 2012

2013, o outro lado da ponte

Parece que depois do desvio colossal e da avó prazeres é a ponte que está na moda, Não sabemos se é a ponte 25 de Abril ou a do rio Kiwi, ou de um qualquer ribeiro da infância beirã do ministro das Finanças, o que sabemos é que há uma ponte e que estamos a meio, isto é, estamos em terra de ninguém, sem sabermos se devemos seguir ou voltar para trás.

Dão-nos a entender que o outro lado da ponte é 2013, que vamos encontrar o paraíso e que o foguetório até já tem data anunciada, no dia 23 de Setembro o ministro Gaspar vai ao mercado buscar massa com a mesma segurança com que a avó Prazeres à praça das verduras de Manteigas comprar batatas. Para trás, uns porque não tiveram direito a entrar na ponte ou porque foram atirados ao rio para que não pesassem na ponte, ficam aqueles que o neto da avó Prazeres decidiu não terem direito a entrar no paraíso, esses párias que são os pensionistas, os funcionários públicos, os operários do sector das obras públicas e todos os que foram despedidos porque o seu posto de trabalho era pecaminoso por depender do consumo interno, algo que nos tempos que correm é tão merecedor de um lugar no inferno quanto ser puta no Conde Redondo.

O problema é que a política económica do Gaspar é o que de mais parecido há na economia com as pescadinhas de rabo na boca. O ministro gaba-se do ajustamento acelerado na balança comercial, mas a mesma contracção acentuada do consumo que resta numa redução brutal das importações também resulta numa redução muito acima do previsto na receita fiscal. O governo espera por maio para avaliar o desastre, mas como a execução orçamental só é conhecida no final do mês enquanto se adoptam e não se adoptam mais medidas já passou um mês e o impacto das novas medidas de austeridade terá de ser brutal pois só se aplicará a seis meses. A uma contracção económica bem mais brutal do que a que o Gaspar inventou nas suas previsões na esperança de enganar os portugueses irá acrescentar-se mais recessão e daí a uma espiral de recessão em finais de 2012 passo.

Como é, então, possível que ao virar de 2012 estejamos a ver o outro lado da ponte? Que se saiba, em 2013 manter-se-ão em vigor todas as medidas adoptadas para 2012, designadamente, o corte dos subsídios e o aumento generalizado dos impostos. É muito provável que o pacote adicional de austeridade a adoptar em Junho deste ano seja para manter em 2013. Convém não esquecer que a reavaliação do património resultará num aumento brutal do IMI em 2013 e que neste mesmo ano muitos portugueses conhecerão as consequências no seu orçamento da aplicação da nova lei do arrendamento.

O próximo ano não será de alívio fiscal e o empobrecimento forçado atingirá níveis ainda maiores, sendo cada vez mais evidente que o governo não vai tocar nos lucros exagerados dos interesses privados, como é o caso das PPP ou dos negócios da EDP. A despesa pública continuará a aumentar apesar dos cortes salariais, o OE e o sistema fiscal estão a inverter o mecanismo redistributivo, funcionam agora para tirar aos trabalhadores e aos mais pobres para dar a ricos (proxenetas sociais e gandulos nomeados administradores de empresas chinesas).

No próximo ano talvez estejamos a chegar ao fim da ponte, resta saber se a ponte nos leva para a outra margem ou directamente para o abismo. Resta igualmente saber se a 23 de Setembro de 2013 o Gaspar vai ao mercado buscar dinheiro ou, em vez disso, vai lápara vender a pele dos portugueses mais pobres e que ele escolheu para sacrificar no seu altar do ultra liberalismo.