Há quem considere que o derrotado no incidente em torno da questão do QREN foi o ministro da Economia ou mesmo Miguel Relvas. Engano, o grande derrotado nesta questão foi o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.
Há muito que Álvaro já é um cadáver político, só é mantido em pé pelo governo porque convém a Pedro Passos Coelho, ainda é cedo demais para invocar o cansaço de alguns ministros e promover uma remodelação. Remodelar agora seria admitir que Passos Coelho cometeu erros nas suas escolhas e como a imagem de Passos Coelho é mais importante do que a competência com que o país é governado o ministro Álvaro vai sendo mantido e as suas competências vão sendo saqueadas pelos seus pares. De resto, o Álvaro não tem interesse em regressar ao Canadá, por lá o tempo ainda está muito frio e é uma chatice carregar neve todas as manhãs, para além de o ano lectivo ainda estar a meio.
Mas a gestão do QREN já não era do ministro Álvaro mas sim do seu secretário de Estado Adjunto da Economia e Desenvolvimento Regional, Almeida Henriques, um homem de Miguel Relvas, o verdadeiro homem forte do aparelho e dos interesses económicos da máquina do PSD, os grandes destinatários dos dinheiros do QREN. Não admira que garantido o prolongamento de Álvaro no governo seja Almeida Henriques a vir a público assegurar que o ministro não está a prazo nesse mesmo governo. Quando é um secretário de Estado que vem dizer qual o estatuto do ministro esse mesmo ministro já não passa de um morto vivo, um zombie político.
Quando Gaspar decidiu atacar as competências do Álvaro sem qualquer aviso prévio sabia muito bem que ia tirar o tapete a Miguel Relvas, o verdadeiro gestor do QREN, tarefa que executa através de interposta pessoa, o secretário de Estado Almeida Henriques. Fê-lo sem pré-aviso e aproveitou a ausência de Passos Coelho para medir forças com Miguel relvas em pleno conselho de ministro. Apostou tudo nesta batalha com Miguel Relva e ganhou. O Álvaro passou de super ministro a um ministro com menos poder que o secretário de Estado da Cultura e Miguel Relvas teve de colocar o secretário de Estado que escolheu para gerir o QREN sob o controlo apertado de Vítor Gaspar.
Daqui a oitenta anos o nome de Passos Coelho será tão familiar aos portugueses dessa altura como o são para os portugueses de hoje nomes como os de Mendes Cabeçadas, Manuel Oliveira Gomes da Costa, Jaime Cortesão, Vicente de Freitas, Ivens Ferraz ou Domingos Oliveira, todos eles presidentes do conselho durante o período da Ditadura Nacional durante a qual Oliveira Salazar foi ministro das Finanças. Passos Coelho não passa de um boneco nas mãos de um ventrículo, o primeiro-ministro diz o que o Gaspar manda dizer, faz o que o Gaspar o manda fazer e é primeiro-ministro enquanto o Gaspar não se sentir com forças para o substituir, quando tal suceder o mesmo partido que acabou eleger Passos Coelho com 95% dos votos elegerá Vítor Gaspar com os mesmos 95% ou mais votos.
Não foi o pobre do Álvaro a vítima de Vítor Gaspar, o ministro da Economia já era o verbo de encher na gestão do QREN, o ataque do ministro das Finanças às competências no QREN foi um teste ao poder de Miguel relvas e, por conseguinte, à capacidade de Passos Coelho de lhe fazer frente. Vítor Gaspar venceu, Miguel Relvas mal ofereceu resistência, o ministro das Finanças sabe agora que tem um primeiro-ministro fraco e vulnerável e que Miguel Relvas está mais próximo da imagem de um caniche do que de um pitbull como até aqui pretendeu fazer crer.
As próximas competências a atacar por Gaspar não será as do Álvaro ou de um qualquer secretário de Estado da confiança de Miguel Relvas, serão as do próprio Passos Coelho.