quarta-feira, março 14, 2012

Serão doentes mentais?



Os ataques que estão a dirigir ao Sócrates fazem lembrar os homicidas que possuídos por um qualquer problema de ordem mental continuam a dar facadas na vítima muito depois de morto. É triste ver jornais a dedicar diariamente as suas capas a José Sócrates, magistrados a fazerem figuras tristes e até um “p”residente a revelar ser incapaz de cumprir o mandato presidencial a pensar no país.
  
Aquilo a que assistimos ultrapassa em muito o normal em política, nem mesmo Salazar ou Caetano enfrentaram este exorcismo permanente por parte dos seus adversários, talvez porque apesar de tudo quanto fizeram ao país e aos seus opositores, beneficiaram da dignidade destes.
  
Mas não estamos perante assassinos primários, é gente de alto gabarito, directores de jornais, magistrados com décadas de experiência e governantes com mais de vinte anos no activo. Poderão estar a actuar possuídos de alguma irracionalidade e condicionados por ódio ou vingança, mas é gente inteligente e calculista demais para que se possa imaginar que actuam de forma irreflectida.
A verdade é que têm medo, pela primeira vez tiveram um político que não lhes ia comer à mão, que pôs um “p”residente da República no lugar, que ousou mandar os jornalistas à merda, que fez uma impensável redução dos três meses de férias judiciais. Cavaco queria ficar na história e luta agora por uma entrada numa mera nota de rodapé, os magistrados estavam convencidos que eram sacerdotes e sentiram-se despromovidos a sacristães, os jornalistas deixaram de sentir poder absoluto sobre um governo.
O medo que têm de José Sócrates é tanto que mesmo quando é óbvio que é o próprio a não querer voltar a aturá-los não se sentem seguros, e porque receiam que o diabo as teça querem certificar-se de que eliminam politicamente o ex-primeiro-ministro. Só de pensarem no seu regresso sentem pesadelos.
  
Não se sentem seguros do que fizeram e, com muita razão, olham, para Sócrates como a cobra que deve ser morta depois de pisada, sentem medo. O ataque feito a Sócrates diz muito da consciência intranquila de muita gente e da sua cobardia, percebem que é mais fácil destruir Sócrates enquanto este não reage do que depois de o país ter ido à bancarrota e ser forçado a pedir um segundo resgate ou, o que é cada vez mais provável, recorrer à reestruturação da dívida.
  
Nessa altura terão de explicar muita coisa, terão de convencer os portugueses de que pensavam neles quando conduziram o país a uma crise profunda, terão de explicar ao país o que este ganhou gastando milhões em processos judiciais manhosos, como o agora lançado por alguns sindicalistas da treta. Este atasque desnorteado a Sócrates não é nem justiça, nem coragem, é medo, cobardia e uma tentativa desesperada de encobrir a responsabilidade de muito boa gente no subdesenvolvimento do país.
  
Não é Sócrates que esta gente persegue e pretende eliminar, é a memória, o receio de virem a ser confrontados com o passado recente, de terem de justificar aos portugueses muitas mordomias e enriquecimento fácil à custa do país.