sexta-feira, março 30, 2012

Governar sem oposição

A direita portuguesa é preguiçosa, ao longo de mais de quatro décadas governou arbitrariamente sem perguntar aos portugueses qual era a sua vontade, acabou por se viciar em governar sem oposição. Para a direita há dois argumentos que justificam a sua vocação para governar, porque o seu poder é natural e porque a esquerda é incompetente.
Não admira que estando há quase um ano no poder tudo se justifique com desvios, memorandos inultrapassáveis e que o debate político em vez de ser feito no parlamento esteja a arrastar-se em processos judiciais lançados pelo “braço armado” do PSD, que não servirão para outra coisa senão para lançar suspeitas sobre um diabo chamado Sócrates.
O governo não quer discutir as suas ideias, governa segundo determinação divina, as medidas económicas são decididas pelo Gaspar e isso é motivo suficiente para que os portugueses não as possam questionar, aliás, se um qualquer ministro não pode pôr em causa a vontade de Vítor Gaspar muito menos o poderá fazer um qualquer labrego.
Se o povo quiser andar entretido com política, esse exercício superior reservado a políticos que consigam demonstrar que não o são, então que leiam o DN, o SOL ou o Correio da Manhã, ficam a saber o que pode interessar a gente pouco qualificada e que seria perigoso decidir ou opinar sobre o governo, para além da condenação do Rei Gohb terá a oportunidade de acompanhar o grande folhetim nacional que é o caso Freeport, se não gostar tem a possibilidade de acompanhar a telenovela apresentada pelos magistrados de outra comarca, o caso Face Oculta.
É mais fácil acompanhar estes casos, devidamente explicados por magistrados, advogados e jornalistas do que meter bedelho em coisas que o p+ovo nunca compreendeu, a política é para os políticos, deve ficar reservada a seres superiores como o Marques Mendes, o Gaspar, o Teixeira dos Santos, o Carlos Costa, o Passos Coelho ou o Ângelo Correia, gente a quem a natureza teve o cuidado de colocar um pirilampo no rabo para que não sejam confundidos com a imensidão de idiotas a que se costuma designar por povo.
Começa a ser um hábito da direita este de governar sem oposição, dá-se sempre a coincidência de aparecerem processos judiciais para entreterem o maior partido da oposição enquanto o governo actua segundo determinação divina. Dantes haviam os tribunais plenários que calavam a oposição, agora são processos duvidosos que envolvem destacados dirigentes do maior partido da oposição. Dantes havia uma PIDE e magistrados que a troco de mordomias vendiam a alma ao diabo, agora não há PIDE mas aparecem por aí umas organizações que não se sabe muito bem o que são mas que têm tido um papel mais importante na política dos que os eleitores.
Durante quarenta e oito anos o país ficou prisioneiro da mentalidade ruralista, durante dez anos foi governado por um senhor de Boliqueime e foi o que se viu, de Durão Barroso não reza a história, agora é o que se está a ver. Aproveitou-se Sá Carneiro, o único líder da direita portuguesa com formação democrática, sem patrocínios duvidosos, sem a tacanhês do ruralismo beirão ou do barrocal algarvio e que governou sem a muleta da burguesia das magistraturas.

Sá Carneiro foi o único líder de direita que soube governar com ou sem maioria absoluta e que não se serviu de processos judiciais para eliminar a oposição, optou pelo debate de ideias. Agora parece que voltamos ao costume e não admira que quanto mais desagradáveis sejam os indicadores do insucesso governamentais mais animados andam os tribunais. Os idiotas dos eleitores não se devem preocupar com o desemprego, o défice ou a bancarrota, isso são coisas para os Gaspares, a populaça ignorante deve ir ao circo, onde, sem pagar bilhete, pode andar entretida com o inglês técnico do Sócrates e com as declarações de gente que nunca viu ou com as perguntas da juíza sobre os pormenores relacionados com o eng. Pinto de Sousa.