Ao ouvirmos Passos Coelho dizer na mesma entrevista que não
pode prometer que não será adoptada mais austeridade e que o no terceiro
trimestre haverá retoma económica quase apetece sugerir que seja criado o prémio
Teixeira dos Santos da previsão económica para o podermos atribuir ao
primeiro-ministro.
O problema de Passos Coelho não reside na ignorância em
questões económicas e na desconexão do seu raciocínio, o seu principal problema
é não perceber que a sua palavra nada conta na decisão dos agentes económicos.
Em primeiro lugar porque a palavra dos políticos só funciona para travar a
economia e não para a fazer crescer, em segundo lugar porque todos sabem que o
primeiro-ministro nada sabe da poda e, por fim, é mais do que evidente que quem
manda no governo é Vítor Gaspar.
No mesmo dia em que Passos Coelho divaga inutilmente sobre
política económica o ministro das Finanças envia um documento para os deputados
em que fica claro que admite mais austeridade. O primeiro ministro diz que não
jura, o ministro das Finanças assume como provável e é óbvio para todos os
portugueses que será melhor tomarem decisões económicas com base nos receios de
Vítor Gaspar do que com o optimismo contido do primeiro-ministro.
Esta divergência não evidencia apenas a inutilidade das
previsões económicas de Passos Coelho, mostra claramente que o
primeiro-ministro é o fiel depositário dos votos que o PSD recebeu nas eleições,
enquanto a condução política da governação só não é totalmente condicionada por
Gaspar porque, como se viu no negócio Teixeira dos Santos o CDS não aceita a
liderança de Vítor Gaspar.
Isto é, o número dois de Passos Coelho já não é Miguel
Relvas mas sim Vítor Gaspar. Bem pode o ministro dos Assuntos Parlamentares ir
ao congresso do PSD dizer que apesar de perder no partido em favor de Moreira
da Silva ainda lhe cabe a condução políica do governo. Só se por condução política
se entender nomear boys, formar grupos de trabalho e tratar do expediente para
o parlamento,
Gaspar manda calar e retira
poder ao ministro das Finanças, retira o poder do QREN a um homem da
confiança de Miguel Relvas, manda calar ministros, diz o contrário de Relvas.
Como se tudo isto ainda fosse pouco o ministro das Finanças ainda vem defender
a redução do número de câmaras municipais quando se sabe que Relvas tentou
iludir a troika cortando apenas nas juntas de freguesia.
Vítor Gaspar parece não perder uma oportunidade de melhorar
a sua imagem, o problema para Passos Coelho é que já não o faz apenas recorrendo
ao seu desempenho técnico, está a sair melhor do que a encomenda e já promove a
sua imagem aproveitando-se dos erros e fragilidades dos seus colegas do
governo, depois de ter desvalorizado um superministro reduzindo-o ao estatuto
de secretário de Estado enfrenta agora Miguel Relvas.
É evidente que ou Passos Coelho se opõe e luta pela sua própria
sobrevivência ou o Gaspar transforma o Relvas num segundo Álvaro e quando isso
suceder o próximo a cair será o próprio
Passos Coelho. É por isso que quando Passos Coelho promete crescimento económico
dentro de meses parece estar mais preocupado com a sua sobrevivência política
do que com a economia e com os portugueses