quinta-feira, março 29, 2012

As previsões de Passos Coelho


Ao ouvirmos Passos Coelho dizer na mesma entrevista que não pode prometer que não será adoptada mais austeridade e que o no terceiro trimestre haverá retoma económica quase apetece sugerir que seja criado o prémio Teixeira dos Santos da previsão económica para o podermos atribuir ao primeiro-ministro.
  
O problema de Passos Coelho não reside na ignorância em questões económicas e na desconexão do seu raciocínio, o seu principal problema é não perceber que a sua palavra nada conta na decisão dos agentes económicos. Em primeiro lugar porque a palavra dos políticos só funciona para travar a economia e não para a fazer crescer, em segundo lugar porque todos sabem que o primeiro-ministro nada sabe da poda e, por fim, é mais do que evidente que quem manda no governo é Vítor Gaspar.
  
No mesmo dia em que Passos Coelho divaga inutilmente sobre política económica o ministro das Finanças envia um documento para os deputados em que fica claro que admite mais austeridade. O primeiro ministro diz que não jura, o ministro das Finanças assume como provável e é óbvio para todos os portugueses que será melhor tomarem decisões económicas com base nos receios de Vítor Gaspar do que com o optimismo contido do primeiro-ministro.
  
Esta divergência não evidencia apenas a inutilidade das previsões económicas de Passos Coelho, mostra claramente que o primeiro-ministro é o fiel depositário dos votos que o PSD recebeu nas eleições, enquanto a condução política da governação só não é totalmente condicionada por Gaspar porque, como se viu no negócio Teixeira dos Santos o CDS não aceita a liderança de Vítor Gaspar.
  
Isto é, o número dois de Passos Coelho já não é Miguel Relvas mas sim Vítor Gaspar. Bem pode o ministro dos Assuntos Parlamentares ir ao congresso do PSD dizer que apesar de perder no partido em favor de Moreira da Silva ainda lhe cabe a condução políica do governo. Só se por condução política se entender nomear boys, formar grupos de trabalho e tratar do expediente para o parlamento,
  
Gaspar manda calar e retira  poder ao ministro das Finanças, retira o poder do QREN a um homem da confiança de Miguel Relvas, manda calar ministros, diz o contrário de Relvas. Como se tudo isto ainda fosse pouco o ministro das Finanças ainda vem defender a redução do número de câmaras municipais quando se sabe que Relvas tentou iludir a troika cortando apenas nas juntas de freguesia.
  
Vítor Gaspar parece não perder uma oportunidade de melhorar a sua imagem, o problema para Passos Coelho é que já não o faz apenas recorrendo ao seu desempenho técnico, está a sair melhor do que a encomenda e já promove a sua imagem aproveitando-se dos erros e fragilidades dos seus colegas do governo, depois de ter desvalorizado um superministro reduzindo-o ao estatuto de secretário de Estado enfrenta agora Miguel Relvas.
  
É evidente que ou Passos Coelho se opõe e luta pela sua própria sobrevivência ou o Gaspar transforma o Relvas num segundo Álvaro e quando isso suceder  o próximo a cair será o próprio Passos Coelho. É por isso que quando Passos Coelho promete crescimento económico dentro de meses parece estar mais preocupado com a sua sobrevivência política do que com a economia e com os portugueses