Mas a fome é quase tanta como a falta de escrúpulos e aquilo
a que temos assistido é pior do que já alguma vez se viu, atinge níveis
verdadeiramente miseráveis e algumas de alguns protagonistas destes espectáculo
triste já enojam. Quase apetece apelar ao governo que muito simplesmente lhes
atribua uma verba de alguns milhões exigindo-lhes, em troca disso, que
desaparecessem definitivamente.
Ver um indivíduo com setenta anos, uma grande fortuna
acumulada e pensões milionárias comportar-se como o Eduardo Catroga quase nos
faz sentir envergonhados enquanto portugueses. De um braço direito de um
Presidente da República, um ex-primeiro-ministro, gestor durante décadas de uma
grande empresa e professor universitário seria de esperar algum decoro, coerência
nas posições e respeito pela inteligência alheia. É essa a imagem que fazemos
dos nossos idosos ou dos nossos professores. Mas ver um Catroga atirar-se a um extra de cinquenta mil
mensais, justificá-los com os impostos que vai pagar e agora dizer das relações
entre a EDP e o Estado o inverso do que propôs no programa eleitoral só nos
pode enojar, dar vontade de vomitar. O homem que enriqueça, que vá para a cova
num caixão cheio de notas de mil euros, que tome banho na Quinta da Coelha numa
piscina de Whisky, mas porra! Que nos deixe em paz, que não goze connosco!
Quando pensava já ter visto tudo assisto ao espectáculo
degradante que nos está a ser proporcionado por um Teixeira dos Santos a quem já
só falta ser atribuído o estatuto de arrependido para poder beneficiar de umas
gorjetas e de algumas senhas de refeição na PT. Ver alguém que foi secretário
de Estado de Sousa Franco e durante seis anos ministro de Sócrates, alguém que
nas segundas eleições ganhas por Sócrates foi um dos governantes mais activos,
vir ajeitar-se a um governo de direita já enoja, perceber que o preço é uma
gorjeta dá-nos vontade de vomitar.
Não que a minha consideração por tal personagem fosse grande
coisa, nunca vi nele o grande ministro das Finanças que alguns viam, sempre fui
de opinião de que foi o prior ministro das Finanças desde que há papel moeda, e
depois de ter sido perseguido pelo seu ministério e de ver os emails dos
funcionários do fisco serem remexidos com a sua autorização não tinha grande
opinião do seu carácter. MAS nunca esperei assistir ao triste espectáculo de um
ministro de ultra direita propor que lhe fossem pagos trinta dinheiros porque
tem apoiado a sua política e assumido tiques de arrependido.
Muito pior do que a crise financeira que o país enfrenta é a
crise de valores em que se está a afundar, com os sacrificados por medidas
brutais de austeridade a verem governantes, boys septuagenários e até
ex-governantes a tudo fazerem para poderem ganhar, nem que sejam meras
gorjectas, Com gente desta armada em elite de um país quase sentimos vergonha
de sermos portugueses.