sábado, março 24, 2012

Gente que mete nojo

O mínimo que se poderia exigir da classe política num momento em que devido aos seus abusos passados o povo é sacrificado com medidas brutais de austeridade era algum decoro na forma como se atiram ao pote. Não que se espere que esta burguesia política que se instalou à volta do poder deixe de ser gandula e passe a viver do trabalho como os outros portugueses, mas que pelo menos disfarçasse a gula e se atirassem mais discretamente aos fundos públicos.

Mas a fome é quase tanta como a falta de escrúpulos e aquilo a que temos assistido é pior do que já alguma vez se viu, atinge níveis verdadeiramente miseráveis e algumas de alguns protagonistas destes espectáculo triste já enojam. Quase apetece apelar ao governo que muito simplesmente lhes atribua uma verba de alguns milhões exigindo-lhes, em troca disso, que desaparecessem definitivamente.
Ver um indivíduo com setenta anos, uma grande fortuna acumulada e pensões milionárias comportar-se como o Eduardo Catroga quase nos faz sentir envergonhados enquanto portugueses. De um braço direito de um Presidente da República, um ex-primeiro-ministro, gestor durante décadas de uma grande empresa e professor universitário seria de esperar algum decoro, coerência nas posições e respeito pela inteligência alheia. É essa a imagem que fazemos dos nossos idosos ou dos nossos professores. Mas ver um Catroga  atirar-se a um extra de cinquenta mil mensais, justificá-los com os impostos que vai pagar e agora dizer das relações entre a EDP e o Estado o inverso do que propôs no programa eleitoral só nos pode enojar, dar vontade de vomitar. O homem que enriqueça, que vá para a cova num caixão cheio de notas de mil euros, que tome banho na Quinta da Coelha numa piscina de Whisky, mas porra! Que nos deixe em paz, que não goze connosco!
  
Quando pensava já ter visto tudo assisto ao espectáculo degradante que nos está a ser proporcionado por um Teixeira dos Santos a quem já só falta ser atribuído o estatuto de arrependido para poder beneficiar de umas gorjetas e de algumas senhas de refeição na PT. Ver alguém que foi secretário de Estado de Sousa Franco e durante seis anos ministro de Sócrates, alguém que nas segundas eleições ganhas por Sócrates foi um dos governantes mais activos, vir ajeitar-se a um governo de direita já enoja, perceber que o preço é uma gorjeta dá-nos vontade de vomitar.
  
Não que a minha consideração por tal personagem fosse grande coisa, nunca vi nele o grande ministro das Finanças que alguns viam, sempre fui de opinião de que foi o prior ministro das Finanças desde que há papel moeda, e depois de ter sido perseguido pelo seu ministério e de ver os emails dos funcionários do fisco serem remexidos com a sua autorização não tinha grande opinião do seu carácter. MAS nunca esperei assistir ao triste espectáculo de um ministro de ultra direita propor que lhe fossem pagos trinta dinheiros porque tem apoiado a sua política e assumido tiques de arrependido.
  
Muito pior do que a crise financeira que o país enfrenta é a crise de valores em que se está a afundar, com os sacrificados por medidas brutais de austeridade a verem governantes, boys septuagenários e até ex-governantes a tudo fazerem para poderem ganhar, nem que sejam meras gorjectas, Com gente desta armada em elite de um país quase sentimos vergonha de sermos portugueses.