segunda-feira, março 12, 2012

A vingança servida a quente

Quando muitos portugueses são empurrados para a miséria ficou a saber-se que nos corredores do poder dão-se gorjetas de quatro milhões de euros a empresários amigos. Mesmo sabendo que tinham sido cobradas portagens na ponte 25 de Abril e apesar dos pareceres no sentido de não se proceder a qualquer pagamento à Lusoponte, o secretário de Estado dos Transportes insistiu em dar a gorjeta.

Perante uma situação destas o mais lógico seria o governo pedir desculpas e exigir de imediato à Lusoponte o reembolso dos dinheiros indevidamente pagos. Por outro lado, o responsável governamental por um disparate de contornos duvidosos deveria ter sido chamado a explicar-se e caso a sua defesa não fosse convincente seria demitido. Mas o governo não fez nada disto, começou por tentar iludir a questão e só quando percebeu que os portugueses não são idiotas lá reconheceu que teria de recuperar o dinheiro. Mesmo assim não se viu a firmeza demonstrada quando esteve em causa recuperar pequenas quantias erradamente pagas aos pensionistas.

O normal num governo de gente competente e honrada seria reflectir sobre como se cometeu um erro tão grave apesar de pareceres competentes que apontavam em sido contrário. Mas esta gente optou por perseguir os que defenderam o interesse do país atribuindo-lhes a responsabilidade pela figura triste que o primeiro-ministro, e como sucede com incompetentes a imagem do chefe está acima dos interesses do país.

Ninguém ficou admirado por o secretário de Estado incompetente (para não se dizer manhoso ou sugerir outros interesses duvidosos) se manter no cargo ou porque em vez de demitir o incompetente o governo ter-se decidido por perseguir os administradores das Estradas de Portugal, algo que o Expresso divulgou e que ninguém desmentiu.

Neste país os incompetentes são protegidos e os honestos são perseguidos, porque acima dos interesses do país está a imagem do primeiro-ministro e os negócios sujos feitos nos bastidores do poder. Quem se opuser a isto ou muito simplesmente escrever um parecer que um dia possa vir a incomodar o primeiro-ministro sofre a consequente vingança.

Costuma dizer-se que a vingança deve ser servida fria, mas neste caso o governo opta por a servir quente porque não se trata apenas de uma vingança, é um aviso a todos os funcionários públicos e responsáveis por instituições públicas, quem escrever o que quer que seja em defesa da legalidade ou dos interesses do Estado será vítima da vingança governamental se o que se escreveu venha a provocar algum incómodo ao governo.
 
Vivemos tempops difíceis, vempos em que a honra de um secretário de Estado de princípios duvidosos e a imagem de um primeiro-ministro que não é capaz de se preparar convenientemente para um debate parlamentar valem mais do que os interesses do país. Tempos em que os honestos e competentes são perseguidos para defesa da boa imagem dos idiotas. Tempos de perseguições e de vinganças.