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Jumento do dia
Francisco Almeida Leite, cronista governamental no DN
Francisco Almeida Leite seria considerado um jornalista exemplar se a avaliação fosse feita pelo Luís Duque e trabalhasse na RTP, o jornalista considera o governo uma entidade acima da Nossa Senhora da Conceição e possuidor de uma verdade absoluta e inquestionável.
A última vez que este cronista governamental com gabinete no DN escreveu uma verdade oficial foi num dia de greve dos transportes, nesse dia coube-lhe encher a primeira página com uma manchete digna da contra informação de uma política: "Trabalhadores não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro". Portanto, no dia em que esses trabalhadores estavam em greve o DN decidiu chamar-lhes chulos na primeira página. A coisa foi tão vergonhosa que até o provedor do jornal não se sentiu bem e terá vomitado depois de "provar" aquela notícia.
Mas alguém pensa que o cronista se sentiu incomodado? Nem por isso, porque para o homem o que governo lhe manda escrever é a verdade absoluta. Por este andar ainda canonizam o Pinochet e algum jornalista do DN se lembra de o propor para santo protector dos jornalistas portugueses.
Vale a pena ler o artigo de opinião de Óscar Mascarenhas, provedor do leitor do DN, com o título "Contraditório para quê se a fonte da notícia foi alguém do Governo?".
«Ainda não tinha aberto o DN online de 21 de fevereiro, terça-feira de Carnaval, e já um leitor "meio ensonado" me alertava para a manchete do jornal: "Trabalhadores dos transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro." O leitor, AJF, que me escrevera "às 5 e 43" da manhã, declarava-se "incrédulo": "Sou funcionário da CP e não tenho essas benesses (nem outras que alguns jornais têm vindo a anunciar)."
A manchete saía no primeiro dia de uma greve de trabalhadores da CP e do metro de Lisboa.
Pouco depois, chegava-me outro e-mail: "Os trabalhadores dos transportes nem têm medicamentos gratuitos nem recebem o salário quando estão de baixa", escreveu o leitor MH. "Nisso são iguais a todos os restantes trabalhadores. Não sei quem deu essas informações, o certo é que o DN não se preocupou sequer em confirmar as mesmas."
Solicitei esclarecimentos à Direção do DN, que remeteu as explicações para o autor da notícia, Francisco Almeida Leite, o qual respondeu: "A notícia a que se refere o provedor é de interesse público manifesto. Nesse dia realizava-se mais uma greve na CP, daí que o dever de informar os nossos leitores sobre as regalias e benefícios dos trabalhadores de algumas empresas de transportes seja mais do que óbvio. [...]"
O jornalista acrescenta: "Sobre o conteúdo da notícia por mim redigida e assinada, reafirmo a sua veracidade e faço notar que as queixas ao provedor são apresentadas através de duas cartas anónimas que pretendem pôr em causa o trabalho de um jornalista sénior da casa. Os dados que constam da notícia fazem parte de um documento interno do Governo, usado pela tutela no desempenho da sua ação política. A sua divulgação não era suscetível de obter um contraditório junto dos sindicatos porque a matéria que ali está vertida faz parte dos acordos de empresa. Quem tiver dúvidas sobre o assunto, faça o favor de consultá-los. O DN pensa no interesse dos leitores, milhares dos quais são utentes da CP e de outras transportadoras também referidas no texto, e têm o direito de conhecer as regalias e benefícios que ali vigoram e que todos nós pagamos com os nossos impostos. O dever do jornalista é divulgá-los, sobretudo num tempo em que, por exemplo, são cortadas isenções de taxas moderadoras a idosos que têm dificuldades graves no acesso à saúde, comparticipações em remédios de doentes crónicos em fase terminal ou prestações sociais como sejam complementos de reforma. Por muito que isso custe a certos leitores anónimos."
Preciso, desde já, esclarecer que os dois leitores que citei se identificaram perante mim de modo suficiente, não podendo ser considerados anónimos. Não dou atenção a correspondência anónima. No caso, fui eu que guardei a confidencialidade das suas identidades - e dispenso-me de explicar porquê.
Confesso que a resposta de Francisco Almeida Leite me deixou perplexo porque conseguiu a proeza de não me dar um único argumento jornalístico para a notícia que fez: há trabalhadores que fazem greve, pelo que é preciso dizer à população as regalias que têm os que fazem greve e os que a não fazem; há idosos que veem cortadas as suas taxas moderadoras, daí que seja necessário conhecer as regalias dos trabalhadores dos transportes. Nada mau para um argumentário político-partidário, mas que é do jornalismo?
Deixo uma reflexão sobre o tema do "interesse público" para o outro texto nesta página e volto à resposta de Francisco Almeida Leite.
Argumentário. Palavra-chave. É que a notícia em causa foi integralmente baseada num documento de circulação interna a que o jornalista teve acesso no ministério de tutela, e que ele próprio descreveu como "relatório interno que funciona como uma espécie de argumentário do Governo de resposta à greve".
Não há nenhum mal em um jornalista divulgar um argumentário interno de uma entidade pública. Mas mandariam as regras básicas do jornalismo que o fizesse de uma de duas maneiras: ou para denunciar a existência do documento como elemento de propaganda ou contrapropaganda política; ou para verificar a veracidade e consistência dos "argumentos". Ora, esta verificação faz-se através de investigação autónoma, confrontando documentos e informações disponíveis; ou, no mínimo, estabelecendo o contraditório, ouvindo aqueles contra quem se dirigem os argumentos.
Francisco Almeida Leite entendeu que não devia confrontar os sindicatos "porque a matéria que ali está vertida faz parte dos acordos de empresa". Isso significa que ele próprio se deu ao trabalho de investigar, ponto por ponto, todos os acordos de empresa para concluir, por exemplo, que os "trabalhadores DOS transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro", o que, logo por azar, tirou da modorra um funcionário da CP às 5 e 43 da manhã!
Receio bem que essa investigação não tenha sido feita e que Francisco Almeida Leite haja dado como boas as informações que recebeu do Governo. Este meu receio é convertido em certeza por outro leitor que aqui identifico como MG: "O DN publica um 'trabalho' sem realizar qualquer investigação, sem exercício do contraditório, sem sequer tentar esclarecer a veracidade das informações que dá ou o seu verdadeiro enquadramento. Como resultado, mente aos seus leitores sempre que a sua fonte - o Governo - mente ao DN, engana os seus leitores sempre que a sua fonte enganou o DN. Um exemplo particularmente fácil para ilustrar isto mesmo: o DN coloca em título que os trabalhadores da Carris têm 30 dias de férias, contrapondo implicitamente no título e explicitamente no texto esses 30 dias aos 22 dias dos restantes trabalhadores portugueses - omite, por falta de profissionalismo ou má-fé, que esses 30 dias são de calendário (devido ao facto de se tratar de uma empresa com laboração contínua) e os 22 dias com que compara são dias úteis. Ou seja, um mês de férias tanto tem 30 dias de calendário como 22 dias úteis!"
O diretor de serviço naquele dia, subdiretor Nuno Saraiva, informou-me de que "neste caso, subscreve" a argumentação de Francisco Almeida Leite. Só me cumpre dizer-lhe que faz muito mal. Como explico no texto em baixo, invocar o interesse público e não cumprir o dever de lealdade para com os visados de os ouvir não é jornalismo, é propaganda. Foi esse, consciente ou inconscientemente, o exercício que o DN fez naquela manhã de terça-feira de Carnaval.» [DN]
A última vez que este cronista governamental com gabinete no DN escreveu uma verdade oficial foi num dia de greve dos transportes, nesse dia coube-lhe encher a primeira página com uma manchete digna da contra informação de uma política: "Trabalhadores não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro". Portanto, no dia em que esses trabalhadores estavam em greve o DN decidiu chamar-lhes chulos na primeira página. A coisa foi tão vergonhosa que até o provedor do jornal não se sentiu bem e terá vomitado depois de "provar" aquela notícia.
Mas alguém pensa que o cronista se sentiu incomodado? Nem por isso, porque para o homem o que governo lhe manda escrever é a verdade absoluta. Por este andar ainda canonizam o Pinochet e algum jornalista do DN se lembra de o propor para santo protector dos jornalistas portugueses.
Vale a pena ler o artigo de opinião de Óscar Mascarenhas, provedor do leitor do DN, com o título "Contraditório para quê se a fonte da notícia foi alguém do Governo?".
«Ainda não tinha aberto o DN online de 21 de fevereiro, terça-feira de Carnaval, e já um leitor "meio ensonado" me alertava para a manchete do jornal: "Trabalhadores dos transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro." O leitor, AJF, que me escrevera "às 5 e 43" da manhã, declarava-se "incrédulo": "Sou funcionário da CP e não tenho essas benesses (nem outras que alguns jornais têm vindo a anunciar)."
A manchete saía no primeiro dia de uma greve de trabalhadores da CP e do metro de Lisboa.
Pouco depois, chegava-me outro e-mail: "Os trabalhadores dos transportes nem têm medicamentos gratuitos nem recebem o salário quando estão de baixa", escreveu o leitor MH. "Nisso são iguais a todos os restantes trabalhadores. Não sei quem deu essas informações, o certo é que o DN não se preocupou sequer em confirmar as mesmas."
Solicitei esclarecimentos à Direção do DN, que remeteu as explicações para o autor da notícia, Francisco Almeida Leite, o qual respondeu: "A notícia a que se refere o provedor é de interesse público manifesto. Nesse dia realizava-se mais uma greve na CP, daí que o dever de informar os nossos leitores sobre as regalias e benefícios dos trabalhadores de algumas empresas de transportes seja mais do que óbvio. [...]"
O jornalista acrescenta: "Sobre o conteúdo da notícia por mim redigida e assinada, reafirmo a sua veracidade e faço notar que as queixas ao provedor são apresentadas através de duas cartas anónimas que pretendem pôr em causa o trabalho de um jornalista sénior da casa. Os dados que constam da notícia fazem parte de um documento interno do Governo, usado pela tutela no desempenho da sua ação política. A sua divulgação não era suscetível de obter um contraditório junto dos sindicatos porque a matéria que ali está vertida faz parte dos acordos de empresa. Quem tiver dúvidas sobre o assunto, faça o favor de consultá-los. O DN pensa no interesse dos leitores, milhares dos quais são utentes da CP e de outras transportadoras também referidas no texto, e têm o direito de conhecer as regalias e benefícios que ali vigoram e que todos nós pagamos com os nossos impostos. O dever do jornalista é divulgá-los, sobretudo num tempo em que, por exemplo, são cortadas isenções de taxas moderadoras a idosos que têm dificuldades graves no acesso à saúde, comparticipações em remédios de doentes crónicos em fase terminal ou prestações sociais como sejam complementos de reforma. Por muito que isso custe a certos leitores anónimos."
Preciso, desde já, esclarecer que os dois leitores que citei se identificaram perante mim de modo suficiente, não podendo ser considerados anónimos. Não dou atenção a correspondência anónima. No caso, fui eu que guardei a confidencialidade das suas identidades - e dispenso-me de explicar porquê.
Confesso que a resposta de Francisco Almeida Leite me deixou perplexo porque conseguiu a proeza de não me dar um único argumento jornalístico para a notícia que fez: há trabalhadores que fazem greve, pelo que é preciso dizer à população as regalias que têm os que fazem greve e os que a não fazem; há idosos que veem cortadas as suas taxas moderadoras, daí que seja necessário conhecer as regalias dos trabalhadores dos transportes. Nada mau para um argumentário político-partidário, mas que é do jornalismo?
Deixo uma reflexão sobre o tema do "interesse público" para o outro texto nesta página e volto à resposta de Francisco Almeida Leite.
Argumentário. Palavra-chave. É que a notícia em causa foi integralmente baseada num documento de circulação interna a que o jornalista teve acesso no ministério de tutela, e que ele próprio descreveu como "relatório interno que funciona como uma espécie de argumentário do Governo de resposta à greve".
Não há nenhum mal em um jornalista divulgar um argumentário interno de uma entidade pública. Mas mandariam as regras básicas do jornalismo que o fizesse de uma de duas maneiras: ou para denunciar a existência do documento como elemento de propaganda ou contrapropaganda política; ou para verificar a veracidade e consistência dos "argumentos". Ora, esta verificação faz-se através de investigação autónoma, confrontando documentos e informações disponíveis; ou, no mínimo, estabelecendo o contraditório, ouvindo aqueles contra quem se dirigem os argumentos.
Francisco Almeida Leite entendeu que não devia confrontar os sindicatos "porque a matéria que ali está vertida faz parte dos acordos de empresa". Isso significa que ele próprio se deu ao trabalho de investigar, ponto por ponto, todos os acordos de empresa para concluir, por exemplo, que os "trabalhadores DOS transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro", o que, logo por azar, tirou da modorra um funcionário da CP às 5 e 43 da manhã!
Receio bem que essa investigação não tenha sido feita e que Francisco Almeida Leite haja dado como boas as informações que recebeu do Governo. Este meu receio é convertido em certeza por outro leitor que aqui identifico como MG: "O DN publica um 'trabalho' sem realizar qualquer investigação, sem exercício do contraditório, sem sequer tentar esclarecer a veracidade das informações que dá ou o seu verdadeiro enquadramento. Como resultado, mente aos seus leitores sempre que a sua fonte - o Governo - mente ao DN, engana os seus leitores sempre que a sua fonte enganou o DN. Um exemplo particularmente fácil para ilustrar isto mesmo: o DN coloca em título que os trabalhadores da Carris têm 30 dias de férias, contrapondo implicitamente no título e explicitamente no texto esses 30 dias aos 22 dias dos restantes trabalhadores portugueses - omite, por falta de profissionalismo ou má-fé, que esses 30 dias são de calendário (devido ao facto de se tratar de uma empresa com laboração contínua) e os 22 dias com que compara são dias úteis. Ou seja, um mês de férias tanto tem 30 dias de calendário como 22 dias úteis!"
O diretor de serviço naquele dia, subdiretor Nuno Saraiva, informou-me de que "neste caso, subscreve" a argumentação de Francisco Almeida Leite. Só me cumpre dizer-lhe que faz muito mal. Como explico no texto em baixo, invocar o interesse público e não cumprir o dever de lealdade para com os visados de os ouvir não é jornalismo, é propaganda. Foi esse, consciente ou inconscientemente, o exercício que o DN fez naquela manhã de terça-feira de Carnaval.» [DN]
Sem comentários
Gaspar, o competente?
A tentativa de retirar o QREN ao ministro da Economia assenta num pressuposto, o que quando está em causa dinheiro o único ministro confiável é Vítor Gaspar, por sinal o ministro incapaz de fazer uma previsão acertada ou de cumprir um orçamento sem inventar desvios colossais.
Algo está muito mal quando o governo tem ministros em que não se pode confiar, quando se criar um super-ministro e depois são-lhe retiradas as competências porque se duvida da sua competência. Algo está muito mal quando o país que mais carece de crescimento tem Economia que é tratado pelos seus pares e pelo próprio primeiro-ministro como uma criança.
Algo está muito mal quando o governo tem ministros em que não se pode confiar, quando se criar um super-ministro e depois são-lhe retiradas as competências porque se duvida da sua competência. Algo está muito mal quando o país que mais carece de crescimento tem Economia que é tratado pelos seus pares e pelo próprio primeiro-ministro como uma criança.
Engolir um sapo
«1- Esqueçamos as mudanças de opinião do Presidente da República sobre as agências de rating. As tais que em Julho de 2010 não podiam ser recriminadas mas que nesta semana, em entrevista à TSF, foram severamente criticadas por Cavaco Silva, que até chamou cobardes aos líderes europeus que pactuam com elas.
Esqueçamos que o Presidente da República ignorou a crise do euro e o ataque às dívidas soberanas e só há poucos meses acordou para esses problemas. Esqueçamos que o termo "crise sistémica" é recente no discurso do Presidente da República e que, apesar de agora criticar os dirigentes europeus por terem percebido tardiamente as verdadeiras origem da crise, também ele chegou atrasado, muito atrasado.
Pronto: nuns casos, o Presidente mudou mesmo de opinião, noutros ou se esqueceu de nos informar dos seus pontos de vista a tempo e horas ou também a sua opinião, digamos assim, evoluiu. Todos sabemos o que esta malfadada crise fez a muitas das nossas convicções, e só os burros é que teimam em ir contra o óbvio.
Finjamos estar esquecidos do gravíssimo caso das escutas que num país civilizado abriria uma gigantesca crise institucional. Podemos da árvore da nossa memória o infelicíssimo caso das pensões e do insulto que nos foi dirigido pelo Presidente da República.
Eu e muitos, acredito, gostaríamos de ter o voto que demos a Cavaco Silva de volta, mas a coisa não funciona assim. Temos de engolir mais um sapo, pois.
Hoje por hoje temos um primeiro-ministro que quer cumprir o acordo com a troika custe o que custar e não enjeita mais medidas de austeridade, que apregoa aos sete ventos que não somos a Grécia, que se revê na sra. Merkel, que não quer mais tempo nem mais dinheiro, que acredita que o BCE deve estar como está, que não tem uma palavra para falar da necessidade dos países com excedentes terem políticas expansionistas ou de solidariedade intereuropeia ou de planos de crescimento económico, que assume o desemprego como uma inevitabilidade. Do outro lado temos um Presidente da República que fala dos novos pobres e na necessidade de coesão social, que insiste no drama do desemprego, que não aceita mais sacrifícios para os portugueses, que afirma que devemos ser solidários com a Grécia, que põe em causa o directório franco-germânico, que tem um discurso para a Europa muito próximo do de Monti (já não é mau), que desde o seu célebre discurso em Florença está mais preocupado com o emprego e o crescimento do que com a inflação, que quer o BCE como um novo desenho, que não aceita que se critique apenas Portugal, a Irlanda e a Grécia mas sim a Europa como um todo.
Obviamente que Passos Coelho e Cavaco Silva querem o melhor para o País e para os portugueses, mas isso é comum a todos os políticos dignos desse nome. O que está em causa são os métodos para atingir esse objectivo, ou seja, as escolhas políticas. E neste aspecto é evidente que Passos Coelho e Cavaco Silva têm visões muito diferentes da situação da Europa e de Portugal e de quais devem ser as políticas a seguir para sair da crise. Mais, com o tempo e o aprofundamento dos problemas cada vez isso vai ser mais notório e a separação entre os dois se vai acentuar.
Ter o Presidente da República como líder da oposição é o melhor dos cenários? Não, não é. Deve ser o Presidente o líder da oposição? Não, não deve. Mas quem não tem cão, caça com gato. E, faltando oposição, é o que nos resta. Pior do que esta situação seria chegarmos ao ponto a que vamos, infelizmente, chegar, de aprofundamento da crise económica com uma inevitável crise política, sem uma voz institucional que corporizasse o descontentamento e mostrasse um novo caminho. Pior ainda seria no momento em que a crise política se agudizar termos um Presidente da República descredibilizado na opinião pública e fragilizado na sua acção.
Bem sabemos quantas vezes na nossa vida temos de fazer um esforço para utilizarmos a memória não para lembrar mas para esquecer. Este é um desses momentos. Vamos lá a ver é se o Presidente da República não volta a mudar de opinião e se não nos obriga a desistirmos também dele.
2 - O desemprego já vai em 14,8% e vamos ter mais recessão. Segundo Vítor Gaspar e a troika está tudo a correr às mil maravilhas. Há aqui qualquer coisa que me escapa, mas a culpa deve ser minha.» [DN]
Esqueçamos que o Presidente da República ignorou a crise do euro e o ataque às dívidas soberanas e só há poucos meses acordou para esses problemas. Esqueçamos que o termo "crise sistémica" é recente no discurso do Presidente da República e que, apesar de agora criticar os dirigentes europeus por terem percebido tardiamente as verdadeiras origem da crise, também ele chegou atrasado, muito atrasado.
Pronto: nuns casos, o Presidente mudou mesmo de opinião, noutros ou se esqueceu de nos informar dos seus pontos de vista a tempo e horas ou também a sua opinião, digamos assim, evoluiu. Todos sabemos o que esta malfadada crise fez a muitas das nossas convicções, e só os burros é que teimam em ir contra o óbvio.
Finjamos estar esquecidos do gravíssimo caso das escutas que num país civilizado abriria uma gigantesca crise institucional. Podemos da árvore da nossa memória o infelicíssimo caso das pensões e do insulto que nos foi dirigido pelo Presidente da República.
Eu e muitos, acredito, gostaríamos de ter o voto que demos a Cavaco Silva de volta, mas a coisa não funciona assim. Temos de engolir mais um sapo, pois.
Hoje por hoje temos um primeiro-ministro que quer cumprir o acordo com a troika custe o que custar e não enjeita mais medidas de austeridade, que apregoa aos sete ventos que não somos a Grécia, que se revê na sra. Merkel, que não quer mais tempo nem mais dinheiro, que acredita que o BCE deve estar como está, que não tem uma palavra para falar da necessidade dos países com excedentes terem políticas expansionistas ou de solidariedade intereuropeia ou de planos de crescimento económico, que assume o desemprego como uma inevitabilidade. Do outro lado temos um Presidente da República que fala dos novos pobres e na necessidade de coesão social, que insiste no drama do desemprego, que não aceita mais sacrifícios para os portugueses, que afirma que devemos ser solidários com a Grécia, que põe em causa o directório franco-germânico, que tem um discurso para a Europa muito próximo do de Monti (já não é mau), que desde o seu célebre discurso em Florença está mais preocupado com o emprego e o crescimento do que com a inflação, que quer o BCE como um novo desenho, que não aceita que se critique apenas Portugal, a Irlanda e a Grécia mas sim a Europa como um todo.
Obviamente que Passos Coelho e Cavaco Silva querem o melhor para o País e para os portugueses, mas isso é comum a todos os políticos dignos desse nome. O que está em causa são os métodos para atingir esse objectivo, ou seja, as escolhas políticas. E neste aspecto é evidente que Passos Coelho e Cavaco Silva têm visões muito diferentes da situação da Europa e de Portugal e de quais devem ser as políticas a seguir para sair da crise. Mais, com o tempo e o aprofundamento dos problemas cada vez isso vai ser mais notório e a separação entre os dois se vai acentuar.
Ter o Presidente da República como líder da oposição é o melhor dos cenários? Não, não é. Deve ser o Presidente o líder da oposição? Não, não deve. Mas quem não tem cão, caça com gato. E, faltando oposição, é o que nos resta. Pior do que esta situação seria chegarmos ao ponto a que vamos, infelizmente, chegar, de aprofundamento da crise económica com uma inevitável crise política, sem uma voz institucional que corporizasse o descontentamento e mostrasse um novo caminho. Pior ainda seria no momento em que a crise política se agudizar termos um Presidente da República descredibilizado na opinião pública e fragilizado na sua acção.
Bem sabemos quantas vezes na nossa vida temos de fazer um esforço para utilizarmos a memória não para lembrar mas para esquecer. Este é um desses momentos. Vamos lá a ver é se o Presidente da República não volta a mudar de opinião e se não nos obriga a desistirmos também dele.
2 - O desemprego já vai em 14,8% e vamos ter mais recessão. Segundo Vítor Gaspar e a troika está tudo a correr às mil maravilhas. Há aqui qualquer coisa que me escapa, mas a culpa deve ser minha.» [DN]
Autor:
Pedro Marques Lopes.
O Álvaro é uma vítima
«O Álvaro é uma vítima da gula partidária, da falta de experiência na economia real, da guerra de competências e protagonismos, da demagogia com que foi dada dimensão ao seu ministério só para haver menos ministérios. É até vítima do São Pedro que lhe rouba a chuva, mas é também vítima de si próprio. A começar pela modernice com que entendeu convencer-nos a todos que lá fora toda a gente é tratada pelo nome próprio. Como isso nem sequer é verdade, no resto desta crónica vou passar a tratá-lo pela dignidade do cargo que ocupa.
O ministro da Economia e do Emprego está em maus lençóis há já muito tempo. Vivemos até com a sensação que ele está no ministério há anos, mas o Governo só tomou posse há oito meses. De lá até cá, o senhor ministro já perdeu poder nas privatizações, nas PPP e no emprego para jovens. Agora querem tirar-lhe o QREN. Não tarda nada e passa a ser o ministro das falências e aí pode entrar em poupança e diminuir o número de secretários de Estado, actualmente são seis.
Bem sei que com menos de um ano de existência mudar a orgânica do Executivo parece um disparate, mas isso já está a acontecer pela calada e, portanto, não vinha mal ao mundo se o primeiro-ministro se arrependesse da estrutura que montou e a refizesse. Não é de agora que se discute a ingovernabilidade deste ministério. Em Outubro do ano passado, o insuspeito Rui Rio considerava que "nem que se ponha lá um super-homem" este ministério podia ser governado. Rio incluía nesta ingovernabilidade o MAMAOT (Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território) de Assunção Cristas e a verdade é que a opinião publicada também já começou a perder a fé nesta ministra.
Neste esvaziamento de competências há razões de fundo para o comum dos mortais entender que não é considerado no seio da equipa e dar lugar a outro, demitindo-se. Mas temos de admitir que o jovem ministro (40 anos) ainda mantenha mais prós que contras para a decisão de continuar no Governo. O que não é possível que ele não saiba, como sabemos todos, é que o seu mandato tem tudo para acabar mal. E o que parece certo como o destino é que, não querendo sair pelo seu pé, sairá empurrado antes do fim da legislatura. No PSD há muito que decidiram que, em circunstâncias normais, ele será o primeiro a ser remodelado.
Nesta guerra pelo controle dos milhões do QREN o que se espera é que, independentemente do ministro que ficar a tutelar a futura comissão interministerial, não vença a tese de que não gastar é o melhor dos caminhos. É absolutamente possível gastar melhor os fundos comunitários, mas que o Executivo não argumente com a falta de dinheiro para políticas de crescimento da economia, se a alternativa é fechar o dinheiro num cofre.» [DN]
O ministro da Economia e do Emprego está em maus lençóis há já muito tempo. Vivemos até com a sensação que ele está no ministério há anos, mas o Governo só tomou posse há oito meses. De lá até cá, o senhor ministro já perdeu poder nas privatizações, nas PPP e no emprego para jovens. Agora querem tirar-lhe o QREN. Não tarda nada e passa a ser o ministro das falências e aí pode entrar em poupança e diminuir o número de secretários de Estado, actualmente são seis.
Bem sei que com menos de um ano de existência mudar a orgânica do Executivo parece um disparate, mas isso já está a acontecer pela calada e, portanto, não vinha mal ao mundo se o primeiro-ministro se arrependesse da estrutura que montou e a refizesse. Não é de agora que se discute a ingovernabilidade deste ministério. Em Outubro do ano passado, o insuspeito Rui Rio considerava que "nem que se ponha lá um super-homem" este ministério podia ser governado. Rio incluía nesta ingovernabilidade o MAMAOT (Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território) de Assunção Cristas e a verdade é que a opinião publicada também já começou a perder a fé nesta ministra.
Neste esvaziamento de competências há razões de fundo para o comum dos mortais entender que não é considerado no seio da equipa e dar lugar a outro, demitindo-se. Mas temos de admitir que o jovem ministro (40 anos) ainda mantenha mais prós que contras para a decisão de continuar no Governo. O que não é possível que ele não saiba, como sabemos todos, é que o seu mandato tem tudo para acabar mal. E o que parece certo como o destino é que, não querendo sair pelo seu pé, sairá empurrado antes do fim da legislatura. No PSD há muito que decidiram que, em circunstâncias normais, ele será o primeiro a ser remodelado.
Nesta guerra pelo controle dos milhões do QREN o que se espera é que, independentemente do ministro que ficar a tutelar a futura comissão interministerial, não vença a tese de que não gastar é o melhor dos caminhos. É absolutamente possível gastar melhor os fundos comunitários, mas que o Executivo não argumente com a falta de dinheiro para políticas de crescimento da economia, se a alternativa é fechar o dinheiro num cofre.» [DN]
Autor:
Paulo Baldaia.
Purga na CGD
«Em causa está Rodolfo Lavrador, administrador executivo da CGD, que recentemente se deslocou a Maputo em primeira classe. Ao que o Correio da Manhã apurou, a viagem esteve relacionada com as funções de Lavrador no Banco de Comércio e Investimentos (BCI), o banco da CGD em Moçambique, do qual é vice--presidente.
Acontece que o banco público não privilegiou a TAP, a companhia aérea nacional, mas sim Air France, e em primeira classe. Fonte da CGD contactada pelo CM informou ser política oficial da instituição que todos os membros da administração viajem em executiva ou equivalente, em viagens de longo curso, como foi o caso.
Na página da Air France, a viagem Lisboa/Maputo, ida e volta, custa 9955 €. Ora, em época de contenção, este valor, somado ao facto de ter viajado numa companhia estrangeira, causaram incómodo no banco público. Na TAP a viagem, em executiva, teria custado 3500 euros. » [CM]
Acontece que o banco público não privilegiou a TAP, a companhia aérea nacional, mas sim Air France, e em primeira classe. Fonte da CGD contactada pelo CM informou ser política oficial da instituição que todos os membros da administração viajem em executiva ou equivalente, em viagens de longo curso, como foi o caso.
Na página da Air France, a viagem Lisboa/Maputo, ida e volta, custa 9955 €. Ora, em época de contenção, este valor, somado ao facto de ter viajado numa companhia estrangeira, causaram incómodo no banco público. Na TAP a viagem, em executiva, teria custado 3500 euros. » [CM]
Parecer:
O antigo chefe de gabinete de Sousa Franco que se cuida, deve andar por aí algum boy do PSD a candidatar-se a um lugar de administrador na CGD.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pelo saneamento de Lavrador.»
Governo não confia na competência do Álvaro
«Ao que o CM apurou, a decisão final sobre o decreto-lei que cria a comissão de orientação estratégica dos fundos do QREN só será tomada na próxima reunião de ministros, mas já provocou uma guerra entre Gaspar e Santos Pereira, que recusa ver o seu ministério esvaziado de poder. Já anteriormente o ministro da Economia perdera o controlo das privatizações e das Parcerias Público Privadas (PPP) para as Finanças, e do emprego jovem para Miguel Relvas, ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares.
Pesa na decisão de Passos Coelho o facto de, num momento em que o País atravessa uma crise, se ter verificado que alguns dos projectos que, até agora, beneficiaram dos fundos comunitários serem insustentáveis e "inócuos", revelou fonte do Executivo ao Correio da Manhã. Passos Coelho e Gaspar querem pôr travão nisso e usar o dinheiro que resta, 2,5 mil milhões de euros, com mais rigor. Daí que tenha sido aprovada a rescisão de projectos do QREN aprovados há mais de seis meses, mas sem execução física e financeira.» [CM]
Pesa na decisão de Passos Coelho o facto de, num momento em que o País atravessa uma crise, se ter verificado que alguns dos projectos que, até agora, beneficiaram dos fundos comunitários serem insustentáveis e "inócuos", revelou fonte do Executivo ao Correio da Manhã. Passos Coelho e Gaspar querem pôr travão nisso e usar o dinheiro que resta, 2,5 mil milhões de euros, com mais rigor. Daí que tenha sido aprovada a rescisão de projectos do QREN aprovados há mais de seis meses, mas sem execução física e financeira.» [CM]
Parecer:
Isto vai de mal a pior, o governo já não confia nos seus ministros.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «se a Passos Coelho quando se demite e cede o seu lugar ao Gasparoika.»
Falsificador de documentos nomeado por Cristas
«José Alberto da Costa Ferreira, nomeado pela ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente, e do Ordenamento do Território, Assunção Cristas, para o lugar de vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), foi condenado em 2007 pela prática de um crime de falsificação de documento. Segundo o acórdão do Tribunal da Relação, Costa Ferreira alterou um contrato de trabalho de um funcionário, para poder despedi-lo.» [CM]
Parecer:
Está garantida uma boa gestão documental dos serviços.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso.»
Pobres aumentam a bom ritmo
«O Governo tem aplicado critérios mais rigorosos na atribuição do Rendimento Social de Inserção (antigo rendimento mínimo) de modo a reduzir gastos com esta verba, mas o número de beneficiários continua a crescer a um ritmo de 40 por dia. Segundo dados da Segurança Social, em Janeiro deste ano havia 119 357 famílias a receber RSI, uma subida de 0,4 por cento face a Dezembro.» [CM]
Parecer:
O Gaspar está a ter um grande sucesso, um dia destes veremos portugueses nas lixeiras para alegria do teórico do empobrecimento forçado dos seus concidadãos.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Mandem-se os parabéns ao responsável pela pinochetada económica.»
100 mil com ordenados penhorados
«"A penhora de vencimentos e de outro tipo de bens tem vindo a aumentar significativamente", contou à agência Lusa Carlos de Matos, presidente do Colégio da Especialidade dos Agentes de Execução.
Nos últimos anos, os portugueses "endividaram-se sem limites" e, com a crise económica, "as pessoas começaram a ter cada vez mais dificuldades em cumprir com as suas obrigações", lembrou.
De acordo com um cálculo realizado pela Câmara dos Solicitadores (CS), em janeiro mais de 100 mil pessoas tinham os seus salários penhorados. A CS estima que mensalmente sejam recuperados cerca de 13 milhões de euros.» [DN]
Nos últimos anos, os portugueses "endividaram-se sem limites" e, com a crise económica, "as pessoas começaram a ter cada vez mais dificuldades em cumprir com as suas obrigações", lembrou.
De acordo com um cálculo realizado pela Câmara dos Solicitadores (CS), em janeiro mais de 100 mil pessoas tinham os seus salários penhorados. A CS estima que mensalmente sejam recuperados cerca de 13 milhões de euros.» [DN]
Parecer:
mais um indicador de sucesso da política de empobrecimento.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Mandem-se mais parabéns ao já referido artista da política económica dura.»
Femen invade local onde Putin votou
«O movimento feminino ucraniano FEMEN, cujas jovens são conhecidas pelas suas extravagantes manifestações de protesto, entraram hoje em protesto no edifício da Academia das Ciências da Rússia onde votou o candidato Vladimir Putin.» [DN]
Parecer:
E não invadiram a sala o onde Passos votou para a sua reeleição com muitos mais votos do que o Putin.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proteste-se junto da Femen por discriminação do nosso Passos.»
Até o Portas ultrapassa o ministro sem pasta
«O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, anunciou hoje a concessão de incentivos de natureza fiscal e contratual a oito empresas que representam investimentos superiores a 100 milhões de euros.» [DN]
Parecer:
Pobre Álvaro.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Passos Coelho se ainda não percebeu que este governo começa a roçar o ridículo.»